OCULTISTAS  NOTÁVEIS-2

   Olá a todos! Nesse post vou falar um pouco sobre outro ocultista que exerceu e ainda exerce relevante influência na tradição esotérica ocidental: Jonh Dee.
   Em meu livro "Análise Sobre Mitos e o Oculto" (link á direita do blog) eu falei de maneira resumida sobre ele. Admito que a imagem de Dee retratada nessas linhas que escrevi é um tanto quanto estereotipada e o mostra mais como um grande entusiasta do oculto ludibriado pelas pessoas e pelas entidades com as quais entrou em contato. Esse é um julgamento muito duro de se fazer, talvez por causa de seu fim de vida, pois ele terminou sendo acusado de ser um "bruxo", muito pobre, tendo que vender livros de sua biblioteca pessoal para sobreviver, e ainda por cima não encontrou quem pudesse levar suas práticas, o "sistema enoquiano" adiante, suas técnicas ocultas só foram retomadas séculos após sua morte principalmente pelo pessoal da Golden Dawn notável sociedade esotérica surgida no séc. XIX. Entretanto, de suas realizações puramente científicas e de tudo que ele deixou registrado de suas experiências e do próprio sistema mágico "enoquiano" podemos notar que não era um homem tolo, eu diria que foi um ocultista que poderia ter realizado mais se tivesse sob a orientação de um mestre mais experiente. Pintura representando Dee:

   
   Jonh Dee nasceu em 1527 e faleceu em 1608. Seu pai prestava serviços para corte inglesa. Estudou no St. James College e foi um dos fundadores do Trinity College de Cambridge. Estudou em uma universidade da Bélgica e lessionou geometria em Paris. Foi oferecido a ele o cargo de professor de matemática em Oxford, mas, ele recusou. Em Cambridge causou uma confusão ao soltar um escaravelho mecânico durante uma apresentação teatral (os princípios usados por ele para construir tal "brinquedo" podem ser simples para nós da era atual acostumados com muita tecnologia, mas, para a sua época os mais superticiosos devem ter visto como uma "bruxaria extravagante"). Em 1555 foi preso acusado de ter previsto a morte da rainha Mary e ascenção da então princesa Elisabeth ao trono inglês. As cortes europeias de séculos atrás mantinham uma relação ambígua com os vários tipos de esotéricos ás vezes os favorecendo grandemente e outras vezes os perseguindo. Conseguiu se livrar da acusação fazendo sua própria defesa. É relevante citar também que era quase inevitável os estudiosos de matemática se envolverem com astrologia já que tal ciência envolve cálculos também. Propôs a rainha Mary a criação de uma grande biblioteca nacional mas tal proposta foi rejeitada. Outra proposta de vanguarda dele foi a da criação de um meridiano de referência como o Meridiano de Greewich. Quando Elisabeth assumiu o trono em 1558, Dee foi convidado a ser o "conselheiro e astrólogo" da corte. As relações de Dee com a rainha Elisabeth foram muito boas, ela inclusive costumava visitá-lo em sua casa montada á cavalo e deu á ele também um cargo equivalente ao que hoje em dia seria chamado de espião. Curiosamente o codinome dele era 007! 
   A mentalidade superticiosa da época em que ele viveu certamente lhe causava enfado como a tantos outros cientistas e ocultistas da época sempre em busca de mais conhecimento. Uma técnica que ele passou a praticar era algo semelhante ao "scrying" tentando entrar em contato com entidades espirituais e visualizar na bola de cristal. A ênfase de Dee era em contato com anjos, muito provavelmente devido ao versículos bíblico da Primeira Carta de Paulo aos Coríntios cap. 13 versículo 1, veja:

   "Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se eu não tiver caridade, sou como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine."

   Uma interpretação literal desse versículo pode levar a crer que os anjos possuem um tipo de dialeto próprio. A Bíblia tem sido interpretada de muitas maneiras ao longo dos séculos, pessoalmente prefiro deixar a interpretação dela e de outros livros em aberto. Para o contato com os "anjos", Dee inicialmente contactou Barnabas Saul em meados de 1582 para as experiências, mas, não foram satisfatórias. Ao contactar Edward Kelley, Dee ficou tão encantado com os avanços que passou a trabalhar bastante com ele até o fim de sua vida. Um quadro representando Dee se apresentando na corte da rainha Elisabeth:

   As informações sobre a vida de Edward Kelley são bastante obscuras e é difícil dizer com precisão sua origem. Supõe-se que ele teria nascido em 1555, que trabalhou como aprendiz de farmaceutico, estudou em Oxford e que tinha alguma noção de língua latina. A princípio Kelley se apresentou a Dee com o nome falso de Edward Talbot. Além disso, ele já tinha as duas orelhas cortadas como punição por ter agido como falsário, razão pela qual ele costumava usar um chapéu ou touca para esconder as orelhas cortadas. Certa vez, Kelley apresentou a Dee um jarro com um pó vermelho (o famoso "pó de projeção" da alquimia) e um livro de alquimia chamado "Livro de Dunstan" (houve de fato um bispo chamado Dunstan, mas é bem possível que tal livro de Kelley tenha sido um "pseudoescrito" falsamente atribuído a esse bispo). O "pó de projeção" tinha sido comprado por Kelley de um estalajadeiro que o tinha roubado do túmulo de um bispo. Com tal pó de fato tanto Dee quanto Kelley realizaram várias transmutações de metais em público, porém, o pó acabou em determinada época e eles não puderam fazer mais, pois, nunca foram alquimistas de verdade. 
   Em 1583 os dois tomaram contato com um certo nobre da Polônia descobrindo que ele tinha também interesse em alquimia por isso o acompanharam á Europa Oriental junto com suas famílias, porém, tal sujeito já estava endividado e não tinha condições de mantê-los por isso Dee e Kelley passaram a viver uma vida errante pela região, sem, entretanto deixarem de manter contato com as entidades "anjos enoquianos". Em Praga na República Tcheca Dee vendeu ao imperador Rodolfo II o livro "Manuscrito Voynich" (há muitas teorias espalhadas pela internet afora sobre a origem e o significado desse estranho livro até hoje ainda não totalmente decifrado). Um dos episódios mais pitorescos foi quando Kelley enganou Dee afirmando que os "anjos" tinham dito a ele para os dois "compartilharem" suas esposas e Dee relutantemente concordou. Só depois se deu conta de que tinha sido enganado! Kelley em Praga se passou por grande personagem alardeando que era alquimista e que poderia produzir quanto ouro quisesse. Por isso o imperador Rodolfo deu á ele um título de nobreza e o pressionou para que ele produzisse ouro o que ele não fez. Nesse ponto há duas versões sobre a prisão de Kelley em Praga: uma diz que ele foi preso por ter duelado com espada e matado um nobre. Outra diz que ele foi preso a mando de Rodolfo para pressioná-lo a produzir ouro. Dee se separou de Kelley após tais estravagâncias e voltou para a Inglaterra. Kelley foi preso novamente e a rainha Elisabeth chegou a enviar um agente para libertá-lo, mas, segundo se conta, ele morreu porque fraturou a perna ao tentar fugir e a ferida infecionou, morreu em 1597 aos 42 anos.
   Já Dee ao retornar á Inglaterra em 1592 recebeu da rainha Elisabeth o cargo de diretor do Christ's Colledge, mas, a fama de "bruxo das trevas" o acompanhou e ele foi tratado com desprezo pelas pessoas até sair do cargo em 1605. James I o rei a assumir após a morte de Elisabeth não tinha interesse em ocultismo e não o apoiou em nada. Dee foi casado três vezes e teve oito filhos, porém faleceu na pobreza. 

O  SISTEMA  DE  MAGIA  ENOQUIANA

   Quanto ao "sistema" de magia que Dee deixou, pessoalmente acredito que ainda não foi devidamente explorado. Saber exatamente quais eram as entidades que mantiveram contato com Dee e Kelley é outro ponto polêmico e controverso. Décadas após a morte de Dee, Méric Casaubon publicou alguns manuscritos inéditos de Dee acompanhado de um prefácil afirmando que Dee tinha sido contatado por espíritos malignos que se passaram por anjos para o crédulo astrólogo. Essa publicação foi muito popular e vendeu bem. O pesquisador Jacques Bergier em seu livro "Os Livros Malditos" reconhece que as entidades que entraram em contato com Dee eram "não humanas" possivelmente extraterrestre. Em meu livro "Análise Sobre Mitos e o Oculto" eu escrevi que tais entidades poderiam ser djinns (recomendo ao leitor do blog dar uma olhada no post relacionado aos djinn que escrevi aqui nesse mesmo blog) porque me pareceu muito provável que tais entidades estivessem por trás de tais fenômenos, tal costuma ser a atitude desses seres, porém, reconheço que isso não é uma informação conclusiva. Como eu já havia dito, no séc. XIX a sociedade Golden Dawn resgatou as técnicas de Dee e essas técnicas passaram a fazer parte das matérias estudadas e praticadas pelos membros do grupo. Aleister Crowley (1885-1947) praticou os "chamados enoquianos" também conhecidos como "aires" ou "aetheres". Ocultistas de nossa época atual como Lon Milo DuQuete e Donald Tyson tem adaptado elementos de técnicas "enoquianas" ás suas práticas de magia cerimonial. Vou apresentar então aos leitores algumas noções básicas sobre o "sistema enoquiano".
   Com relação á "língua enoquiana" ela está codificada nos "chamados enoquianos" passados pelas entidades á Dee e Kelley e consistem em 49 textos compostos nessa língua. Á eles também foi revelado um "alfabeto enoquiano" veja:

   Esses caracteres possuem letras correspondentes em nosso alfabeto latino, e também outros atributos cada caractere. Comparando com o desenho desses caracteres nas ilustrações mostradas no site sacredtexts.com (esse site mudou consideravelmente atualmente, antigamente era possível encontrar livros raros nele) os caracteres estão ligeiramente diferentes desses que costumam serem usados pelos ocultistas da atualidade, é desnecessário dizer que quanto mais fiel ao desenho original melhor para as práticas ocultas. Como curiosidade, no seriado Sobrenatural (chamado "Supernatural" em inglês, vale a pena fazer uma postagem sobre esse seriado futuramente quando eu tiver mais tempo) algumas inscrições são usadas com esses caracteres. O modo mais seguro e tradicional de se contactar essas entidades é através da "tábua sagrada" uma mesa cheia de inscrições e com uma bola de cristal no meio. Algumas dessas incrições e até objetos usados por Dee estão hoje em dia no poder do Museu Britânico. Uma dessas inscrições chamada "Sigilo Dei Aemeth" é a que deve ficar no centro da mesa sob a bola de cristal, esse sigilo que eu mencionei superficialmente em meu outro blog realidadesalternativas7.blogspot.com:

   A pedra original gravada com tal símbolo:

   Esses e outros "pantáculos" não são sem sentido eles tem funções específicas. A base desse pantáculo é um heptagrama com um pentagrama no centro e tal foi indicado pelas próprias entidades em livros que Dee já tinha, porém, para fazer as inscrições e nomes que preenchem o desenho Dee usou de complexas tabelas e permutações de letras dessas tabelas para formar os "nomes" dessas entidades. Tal técnica se assemelha muito a permutação usada na cabala para formar os chamados "72 nomes de Deus" também chamados "72 anjos cabalísticos". Veja uma dessas tabelas usadas por Dee:

   O sistema completo é bem complexo e se compõe além desses elementos que mencionei de vários sigilos de espíritos, símbolos específicos, tabelas para serem permutadas e vários outros elementos que podem ser encontrados em livros de praticantes como os já citados Lon Milo Duquete e Donald Tyson e também em trabalhos de adeptos da Golden Dawn pouco conhecidos do grande público, afinal, a Golden Dawn existe até hoje.
   Concluindo, se por um lado a vida de Dee foi cheia de episódios controversos do tipo que os romancistas gostam de explorar (a música "The Alchemist" da banda Iron Maiden tem Jonh Dee como tema) por outro lado também foi plena de realizações e creio eu que todas as técnicas deixadas por ele ainda não foram devidamente exploradas pelos ocultistas.
      

OCULTISTAS  NOTÁVEIS-1

   Olá pessoal! Resolvi escrever a respeito da vida de alguns ocultistas do passado, personagens realmente interessantes e cujas vidas costumam estar envolta em mistérios e fenômenos insólitos. Quando se trata de ocultismo, eu considero tão importante pesquisar sobre as técnicas, os "sistemas mágicos" quanto pesquisar sobre a vida de grandes adeptos do passado, muitos deles contribuíram grandemente para as técnicas de ocultismo estudadas e praticadas pelos adeptos nos dias atuais. O ocultista sobre o qual falarei nesse post é o abade Trithemius.
   Eu falei sobre ele no meu livro "Análise Sobre Mitos e o Oculto" disponível para venda no site da Editora Anunaki: www.anunaki.com.br o link direto para o livro está no canto á direita desse meu blog. 
   O abade Trithemius nasceu em 1462 e faleceu em 1516. Seu nome de nascimento era Johann Heindeberg e Trithemius é um apelido que ganhou porque sua cidade natal era Trittehein na Alemanha. Sua infância não foi muito feliz pois seu ambiente familiar era ruim. Desde cedo se sentiu impulsionado a estudar por conta própria e aprendeu a ler e escrever em seu idioma natal alemão em um mês. Á noite ia em segredo a casa de um amigo que o ensinou latim, na época o latim era a língua culta da Europa, todos eruditos deveriam aprender latim e os livros publicados na época eram todos em latim. Em 1480 ingressou na universidade de Heidelberg, lá, fundou junto com outros interessados em esoterismo um grupo fechado dedicado ao ocultismo chamado "Sodalitas Celtica" significa "Confraria Celta". Dentre os eminentes membros que participaram desse grupo de estudos estava Paolo Ricci, judeu convertido ao catolicismo que contribuiu com o estudo sobre língua hebraica e cabala no grupo. Em 1482 em uma viagem de volta para Trittenheim caiu uma forte chuva e Trithemius se abrigou no mosteiro beneditino de Spoheim. A possibilidade de uma vida eclesiástica o interessou e resolveu virar monge. Em 1485 foi nomeado abade. Um relevo da tumba de Trithemius representando imagem dele feito pelo escultor Tilman Riemenschneider: 

   Quando Trithemius chegou no mosteiro o edifício necessitava de reparos e a biblioteca do local tinha apenas cerca de 50 livros. Aos poucos Trithemius foi adquirindo mais livros até a biblioteca ter 2 mil livros. A fama de Trithemius como ocultista se espalhou e outros personagens notáveis do ramo tiveram contado com ele como Cornélius Agrippa e Paracelso ambos foram seus discípulos. O controverso mago Fausto famoso por ter feito um pacto demoníaco também teve contato com Trithemius. Esses três: Agrippa, Paracelso e Fausto passaram a ser conhecidos como "os três magos de Praga" em referência a cidade de Praga na República Tcheca por onde eles passaram em suas andanças e que foi um grande centro ocultista no passado. 
   Em 1499 publicou o manuscrito de "Steganographia" cujo tema principal eram técnicas para ocultar mensagens dentro de outras, técnicas de criptografia. Partes desse livro se mantiveram indecifráveis por muito tempo embora outros pesquisadores tenham publicados livros afirmando terem conseguido decifrar os códigos de Steganographia no século XVII, apenas em 1996 Thomas Ernst pesquisador da universidade de Pittsburg publicou em uma revista o resultado de sua pesquisa afirmando ter decifrado o código na íntegra. Outro pesquisador chamado Jim Reeds também afirmou ter decifrado o código do livro que se mostrou serem mensagens vagas, aparentemente sem sentido. Mas será mesmo que essas mensagens são sem sentido ou o propósito oculto delas não foi compreendido pelos pesquisadores? Não sabemos, mas podemos especular. Outro livro de Trithemius chamado "De Septem Secundeis id Est Intelligentiissine Spirittibus Orbes Post Deum Moventibus" significa "Das Sete Causas Secundárias ou Inteligências Depois de Deus" apresenta uma teoria na qual sete anjos principais regem os planetas desde a criação e se revezam nessa regência após certo tempo influenciando na história da humanidade. Os pesquisadores afirmam que na cronologia desse livro foi prevista a Declaração de Bafour exatamente em 1917 que estabelecia as bases da criação do Estado Judeu. Seu livro "Veterum Sophorum Sigilla et Imagines Magicae" é sobre talismãs e imagens mágicas. 
   Assim como muitos de sua época, Trithemius se dedicou á alquimia. Certa vez foi convidado pelo imperador Maximiliano I e lá no palácio teria evocado o espectro da falecida esposa do imperador Maria de Borgonha em uma demonstração. Tal operação não seria necessariamente um tipo de necromancia, mas uma operação de magia cerimonial orientada no sentido de evocar o espectro de uma pessoa falecida, operação não muito diferente da realizada por médiuns em seções espíritas (embora a autenticidade desses "espectros dos mortos" tenha sido posta em dúvida pela ocultista madame Blavatsky (1831-1891) que afirmava que na verdade eram "cascões", "larvas astrais" os espectros evocados que se manifestavam com aparência dos falecidos por causa do pensamento dos médiuns e participantes das sessões que estavam na frequência certa). Outra habilidade extraordinária de Trithemius era a "transmissão de pensamento" técnica semelhante a telepatia na qual ele conseguia transmitir seu pensamento á outra pessoa distante e até direcionar o comportamento da outra pessoa, seu discípulo Agrippa menciona essa técnica no livro "Três Livros de Filosofia Oculta". 
   Trithemius nunca se contentou com o pensamento supersticioso das pessoas e declarou várias vezes seu descontentamento com o pensamento infantil de quem pensava que a astrologia fosse um tipo de "oráculo" que definia o destino das pessoas, veja um comentário dele sobre isso:

   "Para trás, homens temerários, homens vãos e astrólogos mentirosos que enganam as inteligências e que ficam em frivolidades. Pois a disposição das estrelas nada influem sobre a alma imortal (...) O espírito é livre e não está submetido ás estrelas, não absorve suas influências (...)."

   Também não se considerava um "mágico" pelo menos não da maneira vulgar como as pessoas achavam que fosse um "mágico", veja esse outro comentário dele sobre isso:

   "Nada fiz de extraordinário, e no entanto corre o boato de que sou "mágico". Li a maior parte dos livros de mágicos, não para imitá-los, mas com a ideia de refutar um dia suas perigosas superstições."

    O que se destaca na vida e obra de Trithemius foi sua inteligência, erudição e capacidade de interpretar de modo racional as técnicas ocultistas de sua época: a Renascenca na Europa.