sábado, 26 de maio de 2018

CARACTERÍSTICAS  DA  MAGIA  ÁRABE

   Olá pessoal! Nesse post vou falar um pouco sobre as características típicas da tradição oculta dos árabes. O sistema mágico árabe possui algumas características muito próprias, mas também certas semelhanças com sistemas de outros povos.
   Um dos traços mais marcantes da magia árabe é ligação com os seres espirituais conhecidos como djinns. Os magos árabes já tinham essa ligação com esses seres antes do surgimento de Maomé e o islã, e, depois do islã essa ligação continuou a existir. Os magos árabes antigos possuíam fórmulas conjuratórias para invocar os djinns e obter informações e favores deles. O próprio Alcorão possui versículos que podem ser usados para invocá-los, embora seja pouco recomendável para principiantes. Boa parte dos manuais de magia árabes possuem fórmulas conjuratórias. O "conjurador" invoca um djinn e impõe sua vontade sobre ele. Esse djinn trás outro mais forte que o conjurador domina. Esse trás outro djinn mais forte e assim continua até o conjurador conseguir exercer sua vontade de modo bastante temeroso sobre esse último djinn, é no limite. Por essa razão a conjuração nunca é recomendada para principiantes. Outros métodos de domínio sobre os djinns são baseados na tradição "salomônica" ou seja: remetente ao rei Salomão. A tradição oculta reconhece Salomão como o maior perito em exercer poder sobre tais entidades. Na verdade os árabes herdaram as narrativas mais belas sobre as façanhas mágicas de Salomão. O Alcorão menciona várias realizações de Salomão exercendo poder sobre os djinns os quais ele empregou na construção do templo de Jerusalém e muitas outras tarefas. Se não fosse por Salomão as narrativas das "Mil e Umas Noites" seriam bem menos interessantes, pois, a história de Aladim e a lâmpada mágica se deve a Salomão (o "gênio" preso na lâmpada é um djinn) e o "tapete mágico" também vem das narrativas sobre Salomão pois as crônicas contam que ele e membros de sua corte viajavam sobre um tapete que os levavam pelos ares onde quisessem, não que o tapete tivesse capacidade própria de voar como o da animação da Disney, mas eram djinns específicos que o suspendia e levava pelos ares. Há de fato técnicas dos magos árabes para se prender um djinn em uma garrafa. 
   Um dos símbolos muito usados em várias partes do Oriente Médio é a chamada "mão de Fátima", "hamsá" ou "mão hamesh". O uso de um símbolo de uma mão aberta como proteção contra o "olho gordo", "inveja" vem desde tempos antigos. Hoje tanto judeus quanto árabes fazem uso de muitas variações desse símbolo. Um exemplo de "mão de Fátima":
   Muito usado na tradição oculta árabe são os chamados "quadrados mágicos" são conjuntos de quadrados contendo em cada quadrinho números, e alguns casos letras. As letras e números não são colocadas de modo aleatório nos quadrados, são colocados de modo a soma do valor desses números e letras por coluna ou linha dar um número com significado específico. São como "pantáculos" tem funções específicas e a tradição árabe possui riquíssimas variações deles veja alguns exemplos:





   A chamada "magia do nó" já era conhecida a muito tempo pelos árabes antes do islã. Há registros de "feitiços" feitos por feiticeiras judias contra Maomé usando a "magia do nó". Essa técnica consiste em pegar um cordão e a cada nó dado nesse cordão é "atado" um malefício se assoprando três vezes. Outros detalhes como algum objeto pessoal da vítima alvo ou material genético, cabelo por exemplo é incluído nesse "feitiço" e escondido em um poço. Maomé realmente sofreu as consequências desses malefícios, mas, conseguiu encontrar o poço onde tal malefício tinha sido ocultado e o desfez. É contra a "magia do nó" que o capítulo 113 do Alcorão intitulado "A Alvorada" pede proteção, veja esse capítulo:

"Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso.
 Dize: "Procuro refúgio junto ao senhor da Alvorada
 Contra o mal das criaturas que Ele criou
 Contra o mal das trevas quando se estendem
 Contra o mal das feiticeiras quando sopram sobre seus nós,
 Contra o mal do invejoso quando inveja."

   O sopro faz parte das práticas da magia árabe, na magia árabe se considera que o sopro contém a vontade de quem está realizando tal ato, o sopro contém a energia do operador por isso tem que ser assoprado com vontade. Além disso, o número três tem significado extremamente relevante nessa tradição, representa a confirmação de algo; princípio, meio e fim. Por isso em seus atos os adeptos árabes assopram três vezes, isso é mostrado no filme "Constantine" quando o personagem Papa Meia Noite interpretado por Djimon Hounsou assopra três vezes em determinados atos.Também nas técnicas de exorcismo árabe o exorcista costuma assoprar na narina da vítima que está sofrendo possessão. Existe na tradição árabe o método de exorcismo considerado "ilegal" ou "proibido" e o método "legal", "permitido". No método "ilegal" de exorcismo o exorcista conjura outro djinn para forçar aquele que possui a vítima a sair. Esse método é considerado feitiçaria ("ruqya" em árabe) por isso é proibido. Já no método legal o exorcista (que é chamado de "shij" em árabe) exorta o djinn a sair do corpo da vítima e pode até mesmo bater na vítima pois se considera que é o djinn que sofrerá os golpes. Certos versículos do Alcorão especialmente usados para exorcismos são recitados sobre a vítima. Também se costuma moldar pedaços de pão na forma das letras desses versículos para a vítima comer pois se considera que as letras tem o mesmo poder das palavras faladas. Um tipo específico de exorcista do mundo árabe são os chamados "rifai" os rifais seguem uma tradição que remonta ao antigo Egito. Eles entram nas casas e entoam certas recitações. Os tipos específicos de entidades saem então da casa espontaneamente como serpentes ou escorpiões. 
   Existem grupos específicos dentro da tradição muçulmana dedicado ao misticismo, grupos como os sufis e os dervixes da Turquia. Os dervixes da Turquia são mais reconhecidos aqui no Ocidente por causa das cerimônias na qual eles dançam rodopiando. O propósito dessa cerimônia é o adepto se induzir a estados alterados de consciência através do qual pode realizar os feitos ocultos:

   Agora sobre os sufis. Os ensinamentos do sufismo são chamados de "tassawwuf". Os sufis não são monges que vivem isolados da sociedade, inclusive esse comportamento é condenado pelo sufismo. Eles são membros ativos da sociedade comum. Quem apresentou muitas informações esclarecedoras sobre o submundo do sufismo foi o pesquisador e autor Idries Shah (1924-1996). Shah que é de origem afegã e conheceu bem essas tradições e diz que o sufismo é uma força poderosa no mundo embora discreta, praticamente invisível. Ele afirma que as ordens do sufismo são organizadas de modo hierárquico e que existem representantes deles espalhados em várias partes do mundo sendo que o líder apenas poucos conhecem, ele costuma entrar em contato com os outros de modo telepático. Entre as façanhas que os adeptos sufis podem realizar estão a "anulação do tempo". Para eles o tempo não tem significado real, e, quando em estados alterados de consciencia, em estado de êxtase, são capazes de induzir na mente de outros projeções de experiências como sonhos porém altamente realísticas na qual a pessoa sente que está vivendo anos de sua vida, porém quando volta a si percebe que não se passou sequer um segundo. É narrado histórias de que o mago escoçês Michael Scot (1175-1235) induziu pessoas a experiências assim. Ele é conhecido como um estudioso escoçês que aprendeu essas técnicas de magos árabes quando estudou nas universidades da Europa. É dito que os grandes adeptos sufis podem se encontrar em outro plano no qual o tempo não existe, conversam por horas, depois retornam a nosso plano e tempo algum se passou em nossa marcação. Um dos meios usado pelos sufis para se induzir a esses estados de êxtase são os chamados "dhikr" que significa "lembrança" ou "invocação de Deus". Um exemplo de dhikr: "não existe outro deus a não ser Deus (Alá)" tal frase é repetida muitas vezes de modo automático verbalmente ou mentalmente até a mente entrar nesse estado específico através do qual o adepto pode realizar os feitos extraordinários. A "viagem astral" também chamada de "projeção de consciência" ou "dobra" também faz parte das técnicas dos sufis. Idries Shah chama a ordem sufi de "governo oculto" pois é poderosa embora discreta. Basta mencionar que Blavatsky (falei sobre ela no post desse mesmo blog intitulado "OCULTISTAS NOTÁVEIS-7") dizia que era uma ordem sufi que estava de posse da "verdadeira cabala" diferente da cabala conhecida pela maioria dos adeptos ocidentais judeus e cristãos cujo conhecimento estava sintetizado no que ela chamava "Livro Caldeu dos Números". Outro adepto, Gurdjieff (sobre o qual falei no post desse mesmo blog intitulado "OCULTISTAS NOTÁVEIS-3") também menciona uma poderosa ordem de características sufi que ele chama de "Irmandade de Sarmoung" que vem preservando conhecimentos ocultos desde os tempos de Zaratustra. Muito dos próprios ensinamentos de Gurdjieff tinham características sufis. 
   Para encerrar mencionarei duas importantes contribuições dos adeptos árabes para duas áreas do oculto: a alquimia e a astrologia. Com relação as contribuições do misticismo árabe para a alquimia basta mencionar que o aparelho usado para a destilação, para se extrair o alcool chamado alambique foi inventado pelos árabes. A própria palavra "alcool" é de origem árabe. Como a religião muçulmana proibe seus adeptos de ingerir bebida alcoólica eles associaram a substância a algo negativo, a palavra "alcool" vem de "Algol" que significa "cabeça do demônio" é o nome da estrela da constelação de Perseu que corresponde a cabeça da medusa que ele segura. Além disso, foi graças a difusão de escritos de autores árabes na Europa como Geber (721-815) e Avicena (980-1037) que a alquimia foi difundida por lá. Com relação a contribuição dos adeptos árabes na área da astrologia mencionarei que muitas estrelas foram observadas e nomeadas por astrólogos/astrônomos árabes por isso receberam nomes árabes como Aldebarã da constelação de touro e a já mencionada estrela Algol da constelação de Perseu. Essas são algumas das características do ocultismo árabe que quis registrar.   



     

quinta-feira, 24 de maio de 2018

OCULTISTAS  NOTÁVEIS-8

   Olá a todos! Nesse post vou falar um pouco sobre a vida e obras de um ocultista muito interessante, o francês Saint Yves D'Alveydre (1842-1909). Foto dele:

   Eu já havia mencionado em outro post desse mesmo blog de título "OCULTISTAS  NOTÁVEIS-5" sobre o ambiente ocultista da França daquela época, era um ambiente muito rico que produziu ocultistas do calibre de Eliphas Levi e Papus. 
   A infância de Saint Yves foi muito infeliz por causa do constante choque de personalidades dele com seu pai. É possível que ele fosse uma criança mais "espiritualizada" e seu pai de atitude mais materialista. Por isso quando ele tinha 13 anos seu pai o internou em um colégio interno. Mas lá Saint Yves fez amizade com o diretor que foi um verdadeiro mestre orientador pra ele. Quando voltou pra casa seu relacionamento com seu pai continuou ruim e esse queria forçá-lo a se alistar na marinha, mas, graças a intervenção do seu amigo diretor da escola, ele foi levado a estudar na escola de medicina naval. Porém cursou apenas 3 anos, depois abandonou o curso e passou a conviver com exilados políticos do Segundo Império, possivelmente para ter contato com o escritor Victor Hugo por quem tinha grande admiração. Através de terceiros teve contato com a obra de Fabre D'Olivet (1767-1825). Em 1872 retorna a Paris onde consegue um emprego de escrituário no ministério do interior e passa a viver modestamente. Preocupava-se com as guerras e tensões políticas e sociais de sua época, chegava a ter uma concepção negativista do mundo e pensou em largar tudo e se tornar monge trapista. Frequentava ocasionalmente os salões do bibliotecário Jacob de Lacroix e certo dia lá teve contato com a condessa Marie Victoire Keller, uma mulher bela, inteligente, viúva e rica. Logo se casam embora ele tivesse 36 anos e ela 50 na época. Ele não soube administrar bem o patrimônio da esposa e teve muitos empreendimentos industriais mal sucedidos, mas, ainda assim teve a estabilidade financeira suficiente para poder se dedicar a seus estudos ocultistas. Antes, havia escrito obras de conteúdo poético, então passou a escrever obras mais focadas no oculto como suas "Missões". Em 1887 conheceu um sábio indiano chamado Hardjij Schariff que lhe deu uma verdadeira e profunda iniciação em matérias ocultas como língua hebraica e sãnscrito. Saint Yves dizia que aquele homem era um representante dos grandes iniciados de Agharta a cidade subterrânea cujos líderes eram imbuídos de darem orientações positivas a nossa sociedade da superfície. Nesse mesmo ano começou seu livro "Missão da índia na Europa". O método através do qual ele ditava essas obras de conteúdo oculto para seu secretário escrever era curioso, ele não fazia a técnica conhecido como "viajem astral" era um tipo de "êxtase contínuo" através do qual realmente podia projetar sua consciência para Agartha e outros centros iniciáticos e explicar de modo erudito o significado de certos segredos antigos. Ainda muito preocupado com a ordem política/social do mundo ocidental, ele propunha uma nova forma de governo que ele chamava de sinarquia, o contrário de anarquia e que seria mais harmonioso, justo e controlado por verdadeiros sábios. Com relação a isso ele disse: "Se não realizardes a sinarquia, vejo vossa civilização judaico-cristã eclipsada dentro de um século a vossa supremacia bruta para sempre aniquilada por um renascimento incrível da Ásia inteira, ressuscitada, de pé, sábia e armada dos pés a cabeça." Ele também menciona em alguns de seus livros o papel que o islã iria desempenhar no futuro. De certo modo algumas de suas predições se confirmaram. Logo após publicar "Missão da Índia na Europa" ele mesmo mandou destruir os exemplares sob a justificativa que seus mestres superiores haviam lhe ordenado que não divulgasse certos segredos que seriam muitos perigosos. Sobrou apenas um exemplar que ficou com Alexandre Keller filho do primeiro relacionamento da condessa Marie Victoire é graças a esse que tal obra sobreviveu até nós hoje em dia. Na época da ocupação nazista esses também expediram ordens para destruir esse livro, as razões disso os estudantes do esoterismo nazi devem saber. 
   Em 1893 sua esposa faleceu o que lhe causou um grande abalo. Porém, transformou o quarto dela em um tipo de "câmara ardente" através do qual conseguia se comunicar com o espírito dela. Seu discípulo Barlet dizia sobre isso: "Esse gênero de comunicação não tinha nada de comum com o espiritismo, ver-se-á a propósito de suas doutrinas que ele condenou sempre energicamente as suas práticas. Ele não tinha nehuma faculdade mediúnica e não se servia de nenhum medium. Suas cerimônias, bastante mais sagradas, eram de um mundo completamente diferente." Em relação a essa e outras técnicas como seu estado de "êxtase contínuo" faziam parte de conhecimentos que ele sabia mas que nunca quis divulgar. Ele dizia: "Se publicasse tudo aquilo que sei, integralmente, metade dos habitantes de Paris ficaria louca, a outra metade histérica." 
   Durante suas conferências com sua esposa na "câmara ardente" ela lhe inspirou a ideia do chamado "Arqueômetro" um instrumento na forma de um círculo com diversas cores, símbolos, números, letras e notas musicais que tem a finalidade de ao ser aplicado em coisas como uma construção por exemplo, ajudar a harmonizar as energias para que funcione melhor. Sob esse aspecto lembra um pouco a técnica chinesa conhecida como "feng shui". Em 1903 obteve a patente do Arqueômetro. Após sua morte foi enterrado no túmulo de sua mulher construído sob a aplicação do Arqueômetro. O conceito por trás do Arqueômetro é harmonizar o local ou construção baseado em certos princípios universais. Certos símbolos são realmente princípios universais e outros ocultistas do passado já tiveram uma ideia parecida como Raymond Lulle em seu "Ars Magna" onde apresenta uma demonstração lógica de todo saber. O padre jesuíta Athanasius Kircher muito envolvido com ciências ocultas especialmente cabala e hermetismo em geral em seu "Edipus Aegyptiacus" faz uma sínteses de todas as tradições místicas. E Pico della Mirandola foi até Roma publicar suas 900 teses  extraídas de todas as filosofias que ele dizia que todas eram conciliáveis. Imagem de uma "prancha" ou "tabela" do Arqueômetro:
   Outro elemento apresentado por Saint Yves que vale a pena mencionar é uma língua desconhecida que possuía caracteres próprios que ele chamava "vatan" inclusive caracteres vatan foram incluídos no Arqueômetro. Ele dizia que essa língua era uma língua especial e universal conhecida de certos adeptos da Ásia. Assim como a misteriosa língua "senzar" mencionada por Blavatsky, os pesquisadores pouco o nada sabem sobre isso.
   Em relação ao livro "Missão da Índia na Europa" lançado aqui no Brasil pela Madras editora eu tenho um exemplar e reconheci assim  que li que ele contém certos conhecimentos ocultos, faz muita referência a certos centros iniciáticos como a cidade subterrânea Agartha, porém, não tirei tempo para me aprofundar nesse livro. Se não me engano, o célebre escritor Jaques Berguier muito conhecido pelo livro que fez em parceria com Louis Pawels "O Despertar dos Mágicos" mencionou esse livro como estando na categoria dos "livros malditos" perseguidos por uma misteriosa sociedade que busca suprimir certos conhecimentos que seriam perigosos demais para a sociedade humana. Em relação ao Arqueômetro apresentado e explicado na forma de livro foi lançado aqui no Brasil também pela Madras. Ele possui não apenas a "prancha" com os símbolos do Arqueômetro e explicação sobre ele, mas, também apresenta comentários muito relevantes sobre simbologia em geral (matéria que eu particularmente gosto muito) e a contribuição espiritual de certos povos do passado, famosos iniciados e patriarcas do judaísmo para a civilização humana. De um modo geral, creio que as obras e contribuições de Saint Yves mereciam serem mais apreciadas pelos adeptos ocidentais de hoje em dia. O ocultista francês Papus (seu nome verdadeiro era Gérard Anaclet Vincent Encausse nascido em 1865 e falecido em 1910) muito influente nos círculos maçônicos da época tinha grande consideração por Saint Yves e até lhe pedia certas dicas de cabala. Após a morte de Saint Yves seus amigos e admiradores formaram um grupo chamado "Os Amigos de Saint Yves" para manter suas obras e sua memória vivas.

domingo, 20 de maio de 2018

ELOGIO  AOS  PESQUISADORES  DO  OCULTO

   Eu gostaria nessa postagem de prestar meu respeito e reverência aos pesquisadores do oculto em geral. Por se tratar de um assunto tão incomum, esses indivíduos tem prestado um grande serviço á humanidade.
   Nessa área do oculto nós encontramos de tudo e principalmente muitos "mistificadores", iludidos, charlatães, excêntricos e de um modo geral muitos loucos, babacas e idiotas mesmo. Estamos no ano 2018 d.C., o avanço da medicina permite realizar complexas cirurgias de reconstrução de membros mutilados, há curas para diversas doenças inclusive muitas consideradas fatais no passado e que hoje praticamente nem existem mais. O mundo está interligado, lembro que naquela série animada X-Men dos anos 90 havia um prelúdio ao "globalismo" mostrava tensões sociais, as chamadas "minorias" ocupando cargos elevados de governo e transmissões de notícia ao vivo pela tv para todo mundo. Os computadores naturalmente eram mostrados na série, mas, de 2005 pra cá é que a internet deu um boom e tornou a ligação entre as pessoas praticamente instantâneas. Nesse contexto, chegamos até mesmo a rir daqueles antigos sacerdotes supersticiosos dos cultos pagãos antigos que sacrificavam animais para obter boa colheita, boa caça e fertilidade para que sua mulher gere filhos fortes. O velho feiticeiro de chapéu alto e pontudo com sua "varinha mágica" controlando espíritos e armado de vidrinhos de "poções" hoje se considera coisa de filmes como "Senhor dos Anéis" ou "Harry Potter". Entretanto, sim, posso afirmar ainda há adeptos ocultistas por aí e eles não abandonaram certas práticas antigas, ainda a praticam, apenas aparentam mais "modernos" vestindo roupas sociais fazendo transações bancárias pelos caixas eletrônicos e conectados as mais recentes notícias através de seus modernos Apple, IPhone ou seja lá qual o nome que dão a esses brinquedos de adultos. 
   Alan Moore, conhecido roteirista de histórias em quadrinhos autor "V de Vingança", "Constantine" e outros mega clássicos criou o personagem Constantine que apareceu em uma história em quadrinhos dos anos 80 com aparência semelhante ao cantor Sting da banda Police a pedido dos produtores da revista. Constantine é um "mago urbano" de aparência desleixada. Não é um sujeito bem sucedido na vida, está quebrado de grana e depende do apoio de poucos amigos para se manter, em grande parte isso é reflexo da própria vida de Alan Moore em sua juventude e começo de vida adulta. Mas Constantine tem um conhecimento muito avançado de demonologia e técnicas de ocultismo em geral e sempre dá um jeito de se safar das perigosas situações em que se mete. É um adepto, daquela antiga ciência vulgarmente referida como magia de uma Londres moderna:
   O ex-abade Alphonse Louis Constant (1810-1875) popularmente conhecido como Eliphas Levi é considerado por muitos como o maior ou um dos maiores ocultistas de todos os tempos. As obras de Levi são referência para muitos estudantes de ocultismo. Levi pegou muito daquela parafernália dos antigos feiticeiros e apresentou de modo claro para um mundo moderno. Eliphas Levi:

   A erudição de Levi era apreciada e muito elogiada por Blavatsky (1831-1891) outra representante desse submundo obscuro. Mas Blavatsky era uma personagem singular, ela já nasceu diferente, tinha dons mediúnicos e graças ao treinamento de seus "mestres secretos" tornou-se verdadeiramente uma psíquica. Ela também estudou aquela velha ciência e deu inestimáveis contribuições pra humanidade ao trazê-la ao grande público. Se dependesse dos adeptos que muitas vezes enfrentam duríssimos testes, se sacrificam, renunciam a muita coisa para poder alcançar certos conhecimentos, esses conhecimentos jamais chegariam ao grande público. Para eles, assim como pra mim mesmo, tudo isso é sagrado, é especial. Certos conhecimentos apenas são transmitidos de mestre para discípulo, discretamente, em locais reservados e muitas vezes acompanhado de gestos e grande cerimonial repleto de significados. Um desses "arsenais" de conhecimentos tratados com grande reverência pelos seus adeptos é a cabala. Insisto em afirmar que cabala não é "receita de bolo" não são fórmulas pré-concebidas trata-se de um apanhado de conhecimentos cuja pequena parte tornou-se acessível ao grande público na era recente. Esse conhecimento era guardado com muito zelo desde tempos realmente antigos e atravessou a antiga Babilônia, Caldeia, Egito, Grécia e Roma. Os adeptos judeus incorporaram práticas desses muitos povos antigos pelos quais passaram embora hoje em dia seja difícil saber o que especificamente de "estrangeiro" foi embutido na cabala que nos chegou hoje. É graças a ousadia de alguns não judeus e a generosidade de alguns judeus que a cabala tornou-se pública. Um desses adeptos admiráveis foi o rabino cabalista Arieh Kaplan (1934-1983). Mundialmente conhecido e admirado por sua erudição e tendo publicado mais de 50 livros, Arieh não foi apenas um "místico" como as pessoas hoje em dia dizem, foi um cientista também, físico formado e atuante. Talvez dê um nó na cabeça dos puramente materialistas de hoje em dia, mas, Arieh é mais um homem que provou que a ciência "moderna" não anula a ciência antiga (magia). Aquela velha ciência ainda está bem viva. Foto de Arieh Kaplan:
   Ele faleceu relativamente jovem aos 48 anos, mas suas realizações foram extraordinárias. Ele agiu praticamente como um "insider" trazendo ao grande público certos conhecimentos que outrora circularam apenas em grupos restritos. Ele explicou o que permaneceu obscuro por tanto tempo, mais do que um escritor apenas, foi um pesquisador do oculto especificamente desse apanhado de conhecimentos chamado cabala. Graças a ele certos "véus" caíram embora outros ele mesmo tenha mantido em segredo. 
   Para concluir, deixo aqui meu respeito por todos eles. Para quem já nasceu com essa ligação especial com o mundo espiritual é muito fácil ver e entender o sobrenatural. Pessoas com dons especiais ainda nascem em nosso mundo. Mas para aqueles que tiveram que se esforçar para entender a "velha ciência" esses pesquisadores do oculto são verdadeiros mestres. Valorizem quem traz conhecimento, são pessoas dedicadas. É muito agradável usufruir dos confortos da vida moderna, mas, não juguem de modo tão pesado os adeptos da "velha ciência" baseado nos malucos e idiotas que "se dizem" adeptos pois muitos dos cientistas que pesquisaram e ajudaram a desenvolver os modernos celulares de última geração cheios de aplicativos e funcionalidades tão estimados pela sociedade atual, em segredo são sim magos e verdadeiros adeptos.     

domingo, 13 de maio de 2018

OCULTISTAS  NOTÁVEIS-7

   Olá pessoal! Nesse post vou falar sobre uma ocultista que é uma das personagens ou a personagem mais marcante do que viria ser chamado de movimento "Nova Era" décadas após sua morte, a russa Helena Petrovna Blavatsky (1831-1891). Foto dela em idade adulta:
   A primeira vez que tive contato com informações sobre Blavatsky alguns anos atrás as primeiras coisas que encontrava eram acusações de que ela seria uma fraude como médium/ocultista, que as supostas cartas que recebia de seus "mestres secretos" eram falsas, que fazia uso de haxixe e que é da Sociedade Teosófica que ela fundou que os nazistas tiraram seus conceitos de "raça ariana", "raça superior", "raça inferior" e que teriam se apropriado da cruz suástica a partir dessa sociedade que a tinha como um de seus emblemas. Até hoje em dia muitas calúnias sobre ela e sua Sociedade Teosófica continuam a se propagar. Considero a melhor biografia sobre ela "Madame Blavatsky-A Mãe da Espiritualidade Moderna" do autor Gary Lachman lançado aqui no Brasil pela Editora Pensamento que recomendo aos interessados, aqui nesse post vou tentar registrar alguns pontos de sua vida e realizações. Blavatsky nasceu de uma família de origem nobre da Rússia, seu pai foi um capitão do exército que devido a seu emprego se mudava constantemente com a família. Sua mãe foi uma romancista reconhecida ainda em vida mas que morreu jovem. Ela não foi uma criança comum, além da personalidade ousada e obstinada que manteve a vida toda, também tinha uma percepção diferente da realidade, gostava de dizer a pessoas que conhecia pela primeira vez a data em que iriam falecer (ainda que não "adivinhasse" realmente) e tinha facilidade para hipnotizar animais como pombos e outras crianças. Também via objetos inanimados como se tivessem vida, ao encontrar fósseis descrevia como eram aqueles animais em vida, falava sobre viagens "pelas estrelas a outros mundos", tinha "amigos imaginários" que chamava de seus "corcundas" com quem conversava e ás vezes ria das histórias por eles contadas. Ainda na infância teve contato com a etnia camuque que era adepta do budismo tibetano o que talvez a tenha influenciado a seguir o budismo mais tarde. Ela falava que tinha uma espécie "protetor" com a aparência de um indiano alto que ás vezes lhe aparecia em sonhos. Em acidente montando a cavalo quase morreu pendurada na sela sendo salva porque dizia ela uma mão lhe segurou a cabeça evitando o pior. Na sua adolescência encontrou na vasta biblioteca de seu bisavô o príncipe Pavel Vasilyevich Dolgorouki muitos livros onde saciar sua sede intelectual especialmente livros sobre alquimia e outras ciências ocultas em geral. Seu bisavô foi um eminente maçom com fortes inclinações ao esoterismo. Aos 17 anos sua família lhe arranjou um casamento com Nikifor vice governador de uma província e com mais do dobro de sua idade. Seu estilo independente não combinava com isso, sugere-se que tal ocorrido foi levado adiante porque segundo ela o velho Nikifor era o único que dava algum crédito a suas alegações sobre o oculto. Outra sugestão era de que sua governanta teria usado algo como uma "psicologia reversa" desafiando ela dizendo que não teria coragem de fazê-lo. Seja qual tenha sido o motivo, ela fugiu após a cerimônia para a Turquia, foi o início de uma vida errante por vários países. Em 1864 ela caiu de seu cavalo próximo do Mar Negro e ficou doente por meses quase morrendo, mas se recuperou. Ela recebeu instruções de seu mestre secreto o indiano que considerava seu protetor de que teria de ir ao Tibet onde passaria por um treinamento de três anos. Após muitas peripécias finalmente chegou lá em meados de 1867 e ficou na casa de um amigo de seu mestre chamado Koot Humi. Lá sob orientação dos mestres aprendeu a controlar suas habilidades mediúnicas, ler mentes, projetar seu pensamento, materializar objetos, projeção astral e outras habilidades. Também aprendeu uma suposta língua raiz chamada "senzar" na qual havia sido escrito um livro contendo  as crônicas das gerações passadas da humanidade, as outras "raças raiz" como atlante e lemuriana. Foi orientada de que ela teria de fundar uma sociedade para provar a veracidade de certos fenômenos e conhecimentos antigos a sociedade ocidental que havia ficado demasiadamente materialista. Em 1871 rumou para o Egito e no Cairo se encontrou com um esoterista, um tal Paulus Matamom, além de Hilarion um dos "mestres secretos". Tentou formar lá um grupo estilo "espírita" manifestando certos fenômenos mas, os já estabelecidos desse grupo eram charlatães e ela quase foi morta por um sujeito que indignado com as bugigangas do grupo se sentiu enganado. Em 1873 chegou a Nova York com pouco dinheiro e se integrou a uma coperativa de mulheres costureiras. Pelos jornais ela acompanhava com interesse reportagens sobre estranhos fenômenos que aconteciam em uma fazenda em Chittenden, Vermount e em 1874 foi lá pessoalmente e conheceu o coronel Henry Stell Olcott (1832-1907) que assinou algumas dessas reportagens. Até hoje muitos acusam Olcott de ter sido um ingênuo arrastado a essa aventureira e suas fantasias esotéricas. Olcott serviu com bravura na Guerra Civil Americana, foi um dos homens indicados a investigar a morte de Abraham Lincoln, teve grandes realizações na área da agricultura tendo publicado livros respeitados nessa área. Naquele momento ele exercia a advocacia se especializando na área de seguros e questões aduaneiras além de trabalhar como repórter com algum interesse na área do espiritualismo. Blavatsky estava com um casaco militar vermelho de quando lutou na guerra de independência da Itália ao lado de Garibaldi e exibia balas alojadas de mosquete na perna e no ombro. É surreal que ela tenha sobrevivido a essa e tantas outras situações em que ficou frete-a-frente com a morte! Passaram a se tornar parceiros com interesses ocultistas. Blavatsky e Olcott:
   Com relação ao espiritismo, as reuniões em torno das "mesas giratórias" haviam se tornado uma mania tanto na Europa quanto nos EUA atraindo muitos interessados naquela época. Mas Blavatsky explicou que aqueles fenômenos eram induzidos por médiuns passivos e ativos através de "larvas astrais" (chamados de "casca" ou "qlipha" na cabala) que manifestavam coisas como materializações de objetos, batidas e aparição de imagens de pessoas falecidas, na verdade seriam projeções tiradas da mente dos participantes pois o caminho para o "outro lado" não era tão escancarado assim. Portanto ela considerava os espiritualistas como ingênuos. Ela e a Sociedade Teosófica que fundaria angariariam muitos inimigos entre os grupos espiritualistas. Em 1875 o ocultista Pascal Beverly Randolph se suicidou (falei sobre ele em outro post desse blog intitulado "OCULTISTAS  NOTÁVEIS-4"). Randolph era membro da "Irmandade Hermética de Luxor" pioneira na divulgação de técnicas ocultistas no Ocidente é possível que Blavatsky também tenha pertencido a esse grupo. Sugere-se que Randolph e Blavatsky tenham estado em algum tipo de "combate astral" naquele período pois Blavatsky não aprovava a inclusão da "magia sexual" entre as práticas a serem divulgadas ao público ocidental. Como consequência da disputa o infeliz Randolph teria se suicidado. Nessa época outro episódio estranho ocorreu, Blavatsky contraiu matrimônio com um outro russo Michael C. Betanelly (na verdade da Geórgia região da Europa Oriental). Beltanelly demonstrou grande admiração por Blavatsky e até ameaçou se suicidar se ela não aceitasse. Sugere-se que a princípio Blavatsky tenha se identificado com esse sujeito devido a seus infortúnios mas tudo aponta que ele visava ter acesso a algumas vantagens econômicas pois estava falido em seus negócios. Casaram e se separaram em mais um tipo de episódio cômico/trágico. Em 1875 foi oficialmente fundado a Sociedade Teosófica por Blavatsky, Olcott e outros apoiadores visando apresentar ao público ocidental certas "verdades esquecidas" e ofuscadas pelo materialismo da época. O lema da sociedade era "não há religião superior a verdade" e vários símbolos já consagrados a muito pelas tradições ocultistas antigas como a serpente ororoboros, o hexagrama, a cruz ankh, a cruz suástica e o "om" foram reunidos no emblema do grupo, veja:
    Em 1877 foi publicado o livro "Ísis Sem Véu" que foi um grande sucesso e aclamado pelo público entusiasta do oculto esgotando rapidamente a primeira tiragem. Impressionou a muitos a quantidade de referências sendo que Blavatsky não tinha como Olcott confirmava acesso a todos aqueles livros citados na obra, muitos nem estavam disponíveis nos EUA. A explicação estava no método de trabalho de escrita dela, Blavatsky usava de um processo no qual visualizava o trecho do livro que consultava em outro plano, Olcott viu-a em várias ocasiões olhando "para o nada" ou para algo que ele não percebia e então escrevendo. 
   Seguindo as orientações de seus "mestres secretos", Blavatsky decidiu ir a Índia acompanhada de Olcott. Em 1879 chegaram na Índia. Embora inicialmente a Sociedade Teosófica que tinha entre as matérias propagadas o budismo e o hinduísmo tenha se associado a grupos semelhantes na Índia, logo os grupos se separaram por incompatibilidade de ideias. Um inglês Alfred Percy Sinnett editor do jornal "The Pioner" se encontrou com eles demonstrando grande interesse nos fenômenos do espiritismo. Blavatsky logo deu a ele muitas demonstrações de fenômenos como materializações. Mas essa voluntariedade dela em fazer demonstrações abertamente e fartamente a ocidentais pouco preparados para entender a natureza de tais fenômenos foi péssima ideia e lhe trouxe más consequências no futuro. Sinnett acabou desenvolvendo uma obcessão em manter contato com os "mestres secretos" o que Blavatsky não aprovava. Olcott realizou um grande trabalho difundindo o budismo no Sri Lanka. Mas a Sociedade Teosófica sofreu alguns ataques na Índia, segundo os "mestres secretos" instigados pelos missionários cristãos. Blavatsky saiu da Índia para seu último tour pela Europa.
   Em 1885 ela chegou na Itália. Depois foi para o norte da Baviera na casa de uma amiga teosofista onde passou a trabalhar a pedido de seus "mestres secretos" em sua obra mais importante "A Doutrina Secreta" que viria ser publicado em seis volumes. Naquela altura dos acontecimentos sua saúde não estava nada bem, ela havia adquirido muito peso, acúmulo de líquidos nas articulações (hidropisia e gota) e tinha sérios problemas renais. Também quase não podia andar devido a dores nas pernas. Foi declarado como praticamente morta por um médico que a examinou. Mas apesar disso, no dia seguinte estava ativa para surpresa de todos. Decidiu ir a Londres, Inglaterra onde passaria seus últimos dias. Em 1887 chegou em Londres. Aquela Inglaterra Vitoriana era a mesma onde Conan Doyle ambientava as aventuras de seu Sherlock Holmes e pouco depois da chegada dela o estranho personagem que até hoje povoa o imaginário popular o mais famoso serial killer entrava em ação: Jack o Estripador. Passou a editar uma revista destinada a divulgar a teosofia chamada provocativamente "Lucifer". Também passou a orientar pessoalmente um restrito grupo de adeptos teosofistas em conhecimentos mais avançados. Ela dizia que o responsável por supervisionar esse seleto grupo era um dos "mestres secretos" disfarçado entre eles. Quanto a esses mestres, o indiano misterioso que ela considerava seu protetor desde criança era o chamado mestre Morya e ela o encontrou pessoalmente pela primeira vez no Hyde Park na Inglaterra. Outros que lhe orientaram foram o já citado Koot Humi, e Saint Germain (conhecido na Europa no séc. XVIII como um aventureiro alquimista "imortal") polêmicas á parte, há uma foto com ela ao lado dos mestres:

   Em 1888 foi publicado o primeiro volume de "A Doutrina Secreta" como não encontraram uma editora comercial que manifestasse interesse em publicar, eles fundaram sua própria editora teosófica. O texto foi recebido com muita estranheza pelo público pois era até mais complexo do que "Ísis Sem Véu" pois os mais variados assuntos eram tratados sem conexão aparente uns com os outros e até hoje chega a assustar leitores despreparados para esses diversos temas. Nessa época um personagem que ficaria famoso em seu país de origem conheceu Blavatsky e a teosofia, Gandhi. Ele era um jovem estudante na verdade muito ocidentalizado, apenas mais tarde iria se voltar ás suas raízes indianas. Outro texto relevante publicado por ela nesse período foi "A Voz do Silêncio" reconhecido como texto principal do budismo da vertente Mahayana. O editor espiritualista W. T. Stead pediu a Annie Bessant (1847-1933) para fazer uma crítica sobre "A Doutrina Secreta" assim que foi publicado. Bessant era uma mulher com forte perfil "revolucionário", participou dos primeiros protestos pela melhoria de condições nas fábricas das mulheres trabalhadores e naquela época era ateia. Ela se identificava profundamente com os ideais socialistas e acabou adiante alcançando o grau mais elevado na maçonaria e outros grupos esotéricos. Annie Bessant:
   A princípio se mostrou cética em relação ao conteúdo do livro, mas acabou encontrando algo realmente interessante nele. Conheceu Blavatsky e se filiou a teosofia desempenhando importante papel no grupo após a morte de Blavatsky. Outro personagem que desempenhou importante papel na teosofia após a morte de Blavatsky foi Charles Webster Leadbeater ex-sacerdote da igreja Anglicana e fundador da Igreja Católica liberal além de maçom de alto grau. Leadbeater:
   Ele publicou importantes obras tratando de chacras (pontos vitais) e do plano astral. Em 1891 Blavatsky faleceu após seu médico verificar que a saúde dela já estava muito frágil. Seu companheiro Olcott que estava na Austrália naquele momento afirmou que sentiu que ela havia partido naquele momento. O legado de Blavatsky é enorme e continua a influenciar diversos grupos esotéricos até hoje em dia. As polêmicas também continuam. Há grupos hoje estilo "Nova Era" grupos ditos "Holísticos" que dão uma importância exagerada aos "mestres secretos" que orientaram Blavatsky inclusive apresentando supostas mensagens canalizadas por esses mestres. Deve-se ter cautela com esses grupos para não cair em um "novo culto" colocando toda responsabilidade espiritual da humanidade nas mãos de personagens obscuros. O adepto verdadeiro deve assumir responsabilidade por sua própria evolução espiritual e não despejar ela nas mãos de terceiros. Quanto a própria Blavatsky ainda em vida ela sofreu pesadas acusações de fraude de seus vários inimigos, missionários cristãos, espiritualistas, nacionalistas indianos e até foi acusada de ser uma espiã a serviço da Inglaterra ou Rússia. Sua personalidade era intratável e ela realmente fumava muito, mas cigarro comum que ela mesma enrolava, certamente isso passava uma imagem muito mundana para quem esperava encontrar um tipo de ser "místico". Muito do que ela fez foi sob orientação de seus mestres e a Sociedade Teosófica continua até hoje o que mostra que sua missão foi concluída com sucesso. 

domingo, 6 de maio de 2018

PERSONAGENS  E  MISTÉRIOS  DA  TRADIÇÃO  ÁRABE/MUÇULMANA

   Olá a todos! Nesse post vou falar sobre alguns personagens e mistérios intrigantes da tradição árabe/muçulmana sobre os quais mesmo os eruditos da comunidade muçulmana costumam divergir e não tem uma opinião formada e conclusiva sobre isso. 
   O Alcorão é sem dúvidas um livro incomum, muito peculiar sobretudo pela maneira como foi transmitido a Maomé: em partes e ainda abordando sobre acontecimentos da época em que era revelado e dos tempos antigos. Para ter uma noção, recomendo que deem uma olhada em outro post desse mesmo blog intitulado "MAOMÉ  E  O  ALCORÃO". 
   Um dos maiores mistérios do Alcorão são letras soltas que aparecem no início de alguns capítulos. Além da expressão "Em nome de Deus, o clemente o misericordioso" que é o cabeçalho de todos capítulos, alguns apresentam letras como "Mem, lam, he" por exemplo. O significado dessas letras é motivo de muita especulação entre os estudiosos. Da minha parte, eu suponho que elas devem ter sido incluídas no texto pelos escribas responsáveis por registrar o Alcorão, pois, como o leitor deve saber o Alcorão é essencialmente um livro oral, apenas algumas gerações após a morte de Maomé é que os fragmentos memorizados pelos seguidores foram escritos. Creio que o significado dessas letras apenas os escribas responsáveis por registrar o Alcorão por escrito devem saber pois eles devem ter incluído-as com algum propósito e significado. Assim sendo, seu significado permanece obscuro para a maioria, mas talvez alguns estudiosos saibam. 
   Assim como a Bíblia, o Alcorão possui várias narrativas sobrenaturais envolvendo seres espirituais: djinns (conhecidos como "gênios" aqui no mundo ocidental), anjos e demônios (demônios costumam serem chamados de "shaitan" na tradição árabe). Uma dessas narrativas do Alcorão fala sobre a história dos anjos Harut e Marut. Essa história se encontra no capítulo 2 versículo 102, veja um trecho:

   "Descrentes foram os djinns que ensinaram aos homens a magia e o que havia sido revelado na Babilônia aos dois anjos Harut e Marut. Mas esses nunca instruíram alguém sem antes preveni-lo: "Fomos enviados para para tentar-te. Não renúncieis a tua fé." Deles, os homens aprenderam um feitiço capaz de semear a discórdia entre marido e mulher. Assim mesmo não são capazes de usar contra ninguém sem a permissão de Deus.(...)"

   Embora o destino desses anjos não esteja no texto, a tradição diz que eles foram enviados a Babilônia para testar os homens. Porém, as pessoas íam até eles para saber "feitiços" que lhes ajudasse nas suas picuinhas sociais e mesmo assim é dito que tais "feitiços" apenas funcionavam com a permissão de Deus. De um modo geral, isso é o que eu considero a "baixa magia" e quem estuda o livro "Malleus Maleficarum" sabe que as bruxas de antigamente (assim como as de hoje) se focam em ações como atrair parceiros sexuais, separar casais, fazer com que homens fiquem impotentes. E nada disso funciona sem a permissão de Deus. A tradição diz que esses dois anjos foram seduzidos por uma mulher, por isso, Deus os castigou pendurando-os de cabeça para baixo no inferno. Algumas ilustrações de livros antigos representando Harut e Marut pendurados de cabeça para baixo no inferno:  



   Mais um desses mistérios do Alcorão é sobre os povos de Ad e Thamud (também chamado de "Samud" em certas traduções). O povo de Ad seria a quarta geração depois de Noé e teriam ocupado a região da Arábia Meridional. Eles eram um povo de grande estatura e realizaram grandes obras de irrigação, porém eram tiranos e arrogantes e oprimiam as pessoas humildes de seu povo. Uma seca de três anos foi enviada por Deus como castigo e finalmente uma tempestade os destruiu. O profeta enviado por Deus para adverti-los naquela época era Hud. Hoje em dia alguns muçulmanos fazem uma peregrinação ao local onde seria o suposto túmulo de Hud e visitam as ruínas do que seriam os canais de irrigação desse povo. Quanto ao povo de Thamud esse povo veio depois do povo de Ad, eles também foram arrogantes e de acordo com o Alcorão construíram suas casas nas rochas e montanhas. O profeta enviado para advertir esse povo é Saleh e de acordo com a tradição o povo exigiu um "milagre" para que ele provasse que era realmente um profeta fazendo surgir um camelo da montanha. Assim, Saleh e alguns oraram pelo sinal e tal milagre se manifestou saindo da rocha uma camela já grávida, porém, o povo continuou perverso e matou a camela e o castigo de Deus se abateu sobre eles. Ilustração representando aquele milagre:

   As ruínas do povo de Thamud também costumam serem visitadas pelos muçulmanos, edifícios construídos escavados na rocha e nas montanhas como esse na cidade de Petra:

   
   O capítulo 18 do Alcorão é o mais focado em narrar sobre temas insólitos. É muito relevante explicar o contexto em que esse capítulo foi revelado a Maomé. Naquela época, a tribo de Maomé chamada Koraich ainda estava duvidosa se as revelações de Maomé eram revelações de um profeta de verdade ou invenção da cabeça dele, por isso enviaram emissários aos eruditos rabinos de Medina perguntando sobre como saber se ele era realmente um profeta. Os rabinos sugeriram perguntar a ele sobre três coisas: 1-sobre uns jovens dos tempos antigos e a história maravilhosa deles, 2-sobre um homem que viajou muito e chegou a leste e oeste da terra, 3-sobre o que é a alma. Os emissários voltaram e transmitiram essas questões a Maomé. Ele respondeu: "-Amanhã terei tido a resposta." Porém não acrescentou a expressão "se Deus quiser". Por isso durante quinze dias nenhuma revelação foi feita a ele o que alimentou as dúvidas de seu povo. Após esse tempo a revelação foi feita e constitui esse capítulo 18. Nessa mesma revelação Maomé é repreendido por não ter dito "se Deus quiser" pois foi uma atitude arrogante dele, nada acontece sem a permissão de Deus. Veja os versículos 23 e 24 desse capítulo 18 repreendendo ele:

   "E nunca diga de coisa alguma: "Sim, farei isso amanhã", sem acrescentar: "Se Deus permitir". E quando te esqueceres, recorda-te de teu Senhor e dize: "Talvez meu Senhor me encaminhe para a retidão."

   Quanto a resposta para a questão 1, trata-se da história de sete jovens conhecida como lenda dos "sete adormecidos". Durante a perseguição aos cristãos do tempo do imperador romano Décio (246 d.C.-251 d.C.) sete jovens nobres de Éfeso fugiram para uma caverna no monte Célio e a caverna foi emparedada pelos perseguidores deles, mas, os jovens não morreram foram induzidos a um estado de sono sobrenatural por Deus e séculos depois no reinado do imperador Teodósio (447 d.C.) as pedras da caverna foram removidas pelos moradores para usarem em construções e os jovens despertaram. Combinaram de um deles ir á cidade com dinheiro para comprar comida, mas, chegando na cidade suas vestes fora de época e o dinheiro antigo chamaram atenção das pessoas que o levou a um juiz para explicar aquilo. O jovem contou a verdade e levou as pessoas á caverna para provar o que dizia. O próprio imperador Teodósio quando ficou sabendo foi até lá mas de acordo com as histórias eles voltaram a dormir ou morreram segundo outras narrativas. Quanto a questão 2, Trata-se de Alexandre, O Grande o homem que viajou muito á leste e oeste da terra. Na tradição muçulmana Alexandre é chamado de Zul Karnain ou Dhul Karnain que significa "de dois chifres". A razão disso é que quando ele foi ao Egito os sacerdotes disseram que ele era filho do deus Amon e ele assumiu esse status divino mandando cunhar moedas de prata com sua imagem usando uma tiara com chifres de carneiro veja;
   No meu livro "Análise Sobre Mitos e o Oculto" (link á direita do blog) eu mencionei essas tradições pouco conhecidas aqui no ocidente sobre Alexandre e até fiz um estudo mais profundo sobre isso em meu outro livro que talvez publique futuro. O Alcorão também fala sobre Gog e Magog. A narrativa presente nesse capítulo 18 fala que o povo de uma terra distante reclamou a Alexandre que estavam sendo molestados por "Gog e Magog" e Alexandre mandou construir uma barreira para fechar Gog e Magog. Segundo a tradição, no dia do "juízo final" Gog e Magog romperão a barreira de Alexandre. O que de fato é Gog e Magog continua sendo um enigma até hoje, especula-se que sejam seres espirituais, gigantes, ou alienígenas. Alguns interpretam que se trate da Rússia pois, também na Bíblia no livro de Ezequiel e no do Apocalipse há referências a isso, segundo essa interpretação essa seria a batalha de "Ar megido" com a Rússia e outros países invadindo Israel. Pessoalmente não tenho uma opinião definitiva sobre isso e acho que todas as interpretações estão em aberto ainda. Ilustrações antigas do povo de Gog e Magog na muralha:


   Outra narrativa notável desse capítulo 18 do Alcorão é sobre o personagem misterioso El-Khidr "O Longevo", "O Sempre Verde". Mencionei esse personagem em outro post aqui desse mesmo blog intitulado "IMORTAIS". No Alcorão ele surge quando Moisés se dispõe a procurar o local da "fonte da juventude" e Moisés se dispõe a segui-lo. El-Khidr adverte Moisés a não questionar suas ações por mais estranhas que pareçam. Mas Moisés as questiona e El-Khidr explica o significado delas são ações que parecem absurdas mas explicação para elas revela lições que nós costumamos exemplificar no ditado popular "Deus escreve certo por linhas tortas" e depois ele se separa de Moisés. No post mencionado expliquei que existe uma tradição afirmando que esse El-Khidr na verdade existe desde os tempos da antiga Babilônia onde era chamado de Hasisadra. As tradições do sufismo (a vertente mística do islã) costumam contar histórias onde El Khidr aparece para alguns místicos em sonhos ou pessoalmente. Também existem tradições e histórias onde El Khidr aparece para alguns califas antigos, nas "Mil e Uma Noites" tem histórias assim. Ele é apelidado de "o verde" porque está sempre com a mesma aparência e o verde é a cor da vida na tradição muçulmana e certas ilustrações dele o retratam na "fonte da juventude" e com peixes, pois, a história do Alcorão diz que quando o assitente de Moisés foi lavar um peixe seco na água esse voltou a viver assim eles descobriram que aquela eram as águas da fonte da juventude ou estavam perto dela. Ilustrações representando El Khidr:


   Para encerrar algumas menções a certos assuntos insólitos presentes no Alcorão mencionarei o personagem Lukman. O capítulo 31 do Alcorão tem o nome dele como título. A maior parte das informações sobre Lukman são apenas especulações, mas algumas informações parecem se converger. Segundo alguns teria sido um escravo negro que viveu no tempo do rei Davi, ou um escravo que viveu no tempo do povo de Ad. Outros dizem que seria um carpinteiro e um poeta e que foi oferecido a ele para reinar ou ser ministro em um reino e ele recusou. Uma história diz que ele perguntou as plantas qual a propriedade delas e elas lhes responderam assim ele escreveu um tratado medicinal. É atribuído a ele certos aforismos cheios de sabedoria e fábulas. O que mais se diz sobre ele é sobre sua longevidade e sabedoria.
   Assim encerro algumas menções a passagens insólitas do Alcorão, ainda existem muitos outros mistérios intrigantes no Alcorão, me deparei com eles durante minha pesquisa e assim continuo escrevendo e pesquisando sobre, talvez eu publique sobre isso no futuro tem sido um trabalho e tanto.