OS CHIFRES DE MOISÉS
Olá pessoal! Nesse post vou falar sobre um assunto que não tem muito a ver com ocultismo, mas sim uma interpretação duvidosa de certa passagem bíblica que acabou influenciando as representações artísticas da imagem de Moisés.
Abordar sobre a vida e o conhecimento iniciático de Moisés constitui tarefa complexa mas muito interessante e talvez eu o faça futuramente no meu outro blog dedicado ao esoterismo judaico: https://esoterismojudaico.com.br
Moisés é reconhecido como o homem que liderou os israelitas em sua saída do Egito, manifestou diversos prodígios, instruiu eles na manufatura de diversos "artefatos", nos ritos e dogmas do que deveria ser a religião judaica e deu a eles o "livro sagrado" a Torá, inclusive os rabinos falam de certos conhecimentos que não estão presentes na Torá escrita, que eles chamam de "Torá oral". Talvez muitos já tenham notado algo incomum nas representações artísticas de Moisés especialmente da Idade Média e Renascença, ele costumava ser retratado com chifres, veja algumas pinturas e esculturas:
Inclusive na famosa escultura representando Moisés feita por Michelangelo a estátua possui um par de chifres veja:
Imagem aproximada da mesma, note os chifres:
Em algumas representações os artistas colocam como se fossem dois "raios de luz" como na primeira imagem, em outros casos eles retratam duas mechas dos cabelos torcidos para cima como chifres como na quinta imagem de cima para baixo, outras vezes eles retratam explicitamente e sem deixar margem para dúvidas dois chifres em Moisés. Qual é a razão disso? A resposta é uma interpretação de uma passagem bíblica. O primeiro a verter o conteúdo da Torá em sua língua original para o latim foi São Jerônimo (347 d.C-420 d.C). Já havia a versão chamada "Septuaginta" tradução da Torá para o grego, mas o grego era considerado na época a língua dos eruditos e o latim era uma língua mais "comercial". A versão de São Jerônimo em latim ficou conhecida como "Vulgata". O trecho está no livro de Éxodo cap. 34 versículos 29 a 30 veja:
"Moisés desceu do monte Sinai, tendo nas mãos as duas tábuas da lei. Descendo do monte, Moisés não sabia que a pele de seu rosto se tornara brilhante, durante a sua conversa com o Senhor. E, tendo-o visto Aarão e todos os israelitas, notaram que a pele de seu rosto se tornara brilhante e não ousaram aproximar-se dele."
Em razão de suas conferências com Deus a pele do rosto de Moisés se tornou luminosa e os israelitas temeram isso, Moisés passou a usar um véu quando voltava para eles para que eles não temessem esse fenômeno. Acontece que a palavra "raios" pode ser traduzida também como "chifres" em hebraico, a palavra "karnayin" composta das letras hebraicas "caf", "resh", "num", "iod" e "mem". Portanto, ao invés de "luzes" irradiando da face de Moisés foi traduzido como "chifres" e assim esses artistas antigos retrataram ele com chifres. Claro que não são totalmente descabidas essas representações dentro do ponto de vista da simbologia. Os chifres eram considerados em muitas tradições antigas como emblemas de autoridade e realeza, um atributo divino, nota-se isso especialmente na tradição da antiga Suméria. Quando os sacerdotes de Siwa confirmaram a ascendência "divina" de Alexandre, o Grande, com o deus Amon ele ficou orgulhoso em poder retratar a si mesmo usando uma tiara com dois chifres de carneiro (atributos de Amon) em moedas de prata. As atribuições "negativas" de chifres são coisa do imaginário ocidental recente oriundo da associação que a Igreja Católica fez da imagem do Diabo com chifres.
Outra referência obscura de uma imagem com chifres que eu creio que muitos ocultistas não devem ter dado muita importância é a representação do primeiro pantáculo do sol das traduções da "Clavícula de Salomão" feitas por Mac Gregor Mathers (em relação aos grimórios recomendo darem uma olhada em outro post desse mesmo blog intitulado "OS GRIMÓRIOS"). Nas descrições desse pantáculo é dito que ele representa o "anjo da face" ou "príncipe da face" Metraton. Entretanto, é muito mais lógico crer que essa seja uma representação de Moisés, que, como foi explicado costumava ser retratado com chifres na arte antiga devido a uma interpretação ambígua da Bíblia em latim. Veja o primeiro pantáculo do sol presente nas várias versões da "Clavícula de Salomão" atuais:
É um detalhe que deve ter passado despercebido por muitos que inclusive praticam os rituais cerimoniais desse grimório, mas, vale a pena mencionar. Assim fica explicado a razão dessas representações de Moisés.