sexta-feira, 13 de abril de 2018

O  QUE  É  CABALA?

   Olá pessoal! Nesse post vou fazer uma explanação geral sobre cabala, porém, sem entrar em detalhes muito técnicos, mais com a intenção de desmistificar certos conceitos errados que talvez muitas pessoas tenham a respeito desse assunto e também para fazer uma introdução razoável para aqueles que não tem noção do que se trata.
   "Cabala" pode ser grafada de várias formas como "kaballah", "cabalá" e outros modos. Trata-se de uma tradição esotérica tipicamente judaica. "Cabala" significa em hebraico "receber" pois é uma tradição transmitida de mestre a discípulo a milhares de anos. Resumidamente, pode-se dizer que cabala é o conhecimento esotérico que os judeus acumularam através de milhares de anos. Apesar da origem da cabala ser judaica, muitos pesquisadores afirmam que muito provavelmente conceitos esotéricos dos antigos egípcios podem ter sido incorporados á cabala. Também há pesquisadores que afirmam que os antigos gregos, em especial Pitágoras e seus seguidores conheceram a cabala. Blavatsky afirma que a verdadeira cabala é de origem caudéia (ainda praticada por adeptos de uma escola do oriente) e que ela possui diferenças em relação a cabala praticada pelos judeus em geral aqui no ocidente sendo que a base desse conhecimento está registrada em um livro que ela chama de "Livro Caudeu dos Números". O que podemos afirmar com certeza é que a cabala é a tradição esotérica mais alinhada com o pensamento dos adeptos ocidentais e portanto é considerada um "sistema mágico" tipicamente ocidental. 
   Todos os grandes ocultistas ocidentais tiveram contato com a cabala e até mesmo alguns personagens que não eram declaradamente ocultistas: Cornélius Agrippa, Leonardo da Vinci, Michelangelo, Nostradamus, Eliphas Levi, Mac Gregor Mathers, Crowley e muitos outros. Originalmente a cabala era tratada com muita restrição pelos rabinos cabalistas e eles apenas consentiam em transmitir esse conhecimento a quem fosse homem, judeu, com o mínimo de 40 anos, casado e de vida correta e justa. Além disso, os livros com conteúdo cabalístico só começaram a aparecer na Europa em meados da Idade Média. Se dependesse dos rabinos cabalistas tenho certeza de que o conhecimento da cabala permaneceria de posse de apenas um grupo restrito até hoje e a maioria dos interessados em esoterismo jamais teria acesso a esse conhecimento nem teria ouvido falar disso. Em grande parte, esse conhecimento veio a público por causa do interesse de indivíduos não judeus que quiseram aprender algo dos rabinos cabalistas, os chamados "cabalistas cristãos" deram contribuições de valor inestimável ao grande público devido a persistência e estudo. Outra força importante para a divulgação da cabala aos não judeus é o movimento chamado chassidismo criado pelo cabalista Baal Shem Tov (1698-1760) cujo nome verdadeiro era Israel Ben Eliezer. A ideia do movimento chassidista é que quanto mais pessoas conhecerem os aspectos místicos de Deus, mais pessoas poderão se beneficiar desse estado de "união com o divino" por isso era aceitável ensinar a cabala aos não judeus.  
   Vamos esclarecer alguns conceitos errôneos que os não iniciados nessa área costumam ter. Algumas pessoas usam o termo "cabala" da mesma maneira que a palavra "conluio" como se cabala fosse o nome de um grupo secreto de judeus imbuídos do propósito de "dominar o mundo". Isso é um disparate! Cabala é uma tradição, um sistema mágico e não uma "sociedade secreta". Há quem pense que para se estudar cabala é obrigatório ser judeu e falar hebraico, isso também não é verdade. Muitos grandes cabalistas do passado não eram judeus e para o público não judeu hoje em dia não é tão difícil assim estudar cabala existem muitos grupos dedicados a divulgação desse conhecimento encabeçados por rabinos cabalistas. Outro conceito errado que muitos tem é que todo judeu ou todo rabino é cabalista, isso não é verdade, nem todo judeu conhece cabala, assim como nem todo rabino é cabalista, há rabinos que até mesmo não incentivam o estudo dessa matéria e consideram a cabala mais como uma superstição. Resumindo: o conhecimento da cabala está de posse de alguns rabinos, nem todos, que se dedicam a estudar esse assunto e praticar cabala. Devido a onda de popularização das chamadas "terapias alternativas" recentemente tem sido comum ver "celebridades" afirmando que se tornaram adeptos da cabala e até mesmo exibindo fitinhas vermelhas no pulso como a Madonna e o ator Ashton Kutcher , veja:
   O que há de embasamento por trás disso? Acontece que muitas dessas "celebridades" levam um vida superficial, vazia de sentido e por isso acabam se apegando as chamadas "terapias alternativas" como um tipo de "brincadeira esotérica" para tentar preencher suas vidas vazias. Até onde eu sei, o rabino do centro cabalístico que a Madonna frequentava se recusou a continuar ensinando ela. Falando especificamente da fitinha vermelha, elas geralmente são de lã vermelha e o significado delas é o de proporcionar um tipo de proteção contra o vulgarmente chamado "mau olhado" e são amarradas no pulso esquerdo pois se considera que o lado esquerdo é o lado "receptivo" do corpo, por onde as energias entram. Existem até os que passam essas fitinhas em torno do túmulo de Raquel esposa de Jacó que está em Belém para dar mais sorte ainda. O fato é que muitos rabinos não incentivam seu uso e os ocultistas sérios certamente devem achar esse costume infantil e desnecessário. Existem adeptos que costumam usar uma fitinha ou colar com o nome "chai" composto das letras hebraicas "chet" e "yod" pendurados, "chai" significa "vida" em hebraico:
   Nesse caso, as pessoas fazem uso desse símbolo com a intenção de se manterem "presos" á vida caso aconteça um acidente grave. Ou seja, esse uso é o mesmo que os antigos egípcios faziam do símbolo chamado "ankh" ou "cruz ansanta" que significa "vida" e o uso de tais símbolos também é pouco levado a sério pelos verdadeiros adeptos.
   Então, em que consiste a cabala? A melhor resposta que eu acho que poderia dar é: um acumulado de conhecimentos esotéricos que os adeptos fazem uso para melhorar a própria vida e também servir de base para muitos outros usos. Acredito que a melhor maneira de encarar a cabala é de maneira não dogmática, ao invés de se apegar a fórmulas e rituais pré-concebidos (como receita de bolo), adaptar o conhecimento cabalístico a certas práticas e técnicas que o ocultista conhece e sabe tirar proveito. 
   De um modo geral, se considera a cabala de dois modos: teórico/filosófico e prático. Do ponto de vista filosófico, os conceitos da cabala podem proporcionar a pessoa explicações e esclarecimentos muito interessantes a respeito da vida e da relação entre Deus e o homem, por isso aos que encaram todo o acervo de conhecimentos da cabala apenas em seu aspecto filosófico é altamente benéfico. Quanto aquilo que se chama de "cabala prática" existem muitas técnicas que os adeptos praticam como meditações específicas, entoação de "nomes divinos" ou letras hebraicas (o próprio uso da língua hebraica para fins magísticos é altamente relevante), uso de letras hebraicas para fins magístico como fabricação de pantáculos e a permutação de letras e números, técnicas como notarikon e temurá. Mas as mais complexas e impressionantes técnicas da cabala prática são conhecidas de poucos rabinos cabalistas e eles geralmente não as tornam públicas entre outros motivos por considerarem perigoso que qualquer um faça uso de tais técnicas. 
   
OS  LIVROS  BÁSICOS  DA  CABALA
   
   Qualquer um que inicia seus estudos na cabala é orientado pelos rabinos a ler e estudar dois livros além da Torá (deve-se levar em conta que os cabalistas interpretam a Torá de maneira muito mais mística do que um cristão comum), o Zohar (Livro do Esplendor) e o Sefér Yetsirá (Livro da formação). Quanto ao "Sefér Yetsirá" esse é um livro breve, não é um livro grande. O conceito de "livro da formação" vem da premissa que aparece logo no início do texto de que esse livro apresenta a "fórmula" através da qual Deus formou todas as coisas do universo através das letras hebraicas ou como diz o próprio texto através de "sefer" (texto), "sefar" (número) e "sipur" (comunicação). Esse texto surgiu de forma escrita na Idade Média, mas, seu texto é muito arcano. Na história do texto é dito que foi escrito pelo patriarca Abraão, porém, os pesquisadores sabem que atribuir a autoria de um texto ao nome de um personagem famoso é um recurso antigo. Blavatsky afirma que ele é um fragmento do "Livro Caudeu dos Números". O conteúdo dele é altamente simbólico é pode ser difícil para quem não está sob a orientação de um mestre compreender seu significado. Percebe-se que há um tipo de "ritmo" no texto como se tivesse sido feito para ser memorizado. Há referências nele a muitas técnicas para serem postas em prática e inclusive é dele que vem a base das orientações que os cabalistas usam para fabricar um golem. Pessoalmente é o texto cabalístico que eu mais gosto.
   O outro livro indispensável aos interessados em cabala é o Zohar, o livro do esplendor. Oficialmente quem trouxe esse livro ao público foi o cabalista espanhol Moisés de Leon, cujo nome verdadeiro era Moshe Ben Shen Tov (1240-1305). Porém a história da origem do Zohar é controversa. Não se trata de um livro apenas, mas, vários volumes, é uma longa explanação mística a respeito de certos versículos da Torá e das relações de Deus e o homem (o macro cosmo e o micro cosmo). A polêmica principal do Zohar é a respeito de quem teria escrito ele. Enquanto estava vivo, Moshe de Leon afirmava que estava copiando o Zohar de um manuscrito original de autoria de Shimon Bar Yochai um rabino cabalista que é considerado uma lenda que viveu em meados do séc II d. C. e segundo a história teria se escondido em uma caverna durante anos com seu filho fugindo da perseguição das autoridades romanas e teria tido visões místicas do profeta Elias que inspiraram ele a escrever esse manuscrito original do Zohar. As histórias mais conhecidas dizem que por algum acaso o tal manuscrito caiu nas mãos de Moisés de Leon que assim escrevia cópias e as vendia. Mas depois que ele morreu, sua esposa afirmou que não havia tal manuscrito original e que ele escrevia tudo de sua própria cabeça e que atribuia a autoria a Shimon Bar Yochai porque as pessoas de sua época (assim como hoje em dia) valorizam mais livros atribuídos a personagens famosos do que de autores desconhecidos. O cabalista Arieh Kaplan (1934-1983) em seu livro "Meditação e Cabalá" também expõe muitas teorias a respeito da origem do Zohar, uma delas diz que Moisés de Leon teria escrito o Zohar através do "nome de escrever" uma técnica cabalística tipo "escrita automática" em que o adepto escreve um "nome divino" em sua mão e essa passa a escrever por conta própria sobre certos assuntos. Blavatsky em um volume de seu livro "A Doutrina Secreta" afirma que o conhecimento do Zohar era conhecido dos mais antigos cabalistas, mas que os cabalistas se esqueceram dele, por isso quando quando de Leon trouxe o Zohar ao público ele foi tão bem recebido pela comunidade judaica. Ela também diz que de Leon mantinha correspondência com alguns cabalistas da Síria e que através de tal conhecimento escreveu o Zohar. Independente de qual seja a origem "oficial" do Zohar, o texto é altamente considerado pelos cabalistas de hoje em dia, ele apresenta consideração muito relevantes a respeito de vários assuntos, porém, eu considero muito mais filosófico do que com indicações de técnicas para serem postas em prática pelo adepto. Além desses livros, é possível encontrar algum conteúdo cabalístico em vários outros livros como o "Sefêr Ha Bahir" (significa "livro brilhante" ou "livro da iluminação) que apresenta explicações sobre a Torá atribuído a Nehunia Ben Hakanah do séc. I, os "Grandes Hechalot" texto focado na técnica conhecida como "merkabah", o "Livro de Raziel" que surgiu em meados da Idade Média, o "Talmud", o livro "Shaaré Orá" (significa "portões de luz") do cabalista Josef Gikatalia e o livro "Pardes Romonin" (significa "pomar de romãs) do cabalista Moisés Cordovero. Essas obras citadas por si só possuem conteúdo que pode parecer complexo demais para aqueles que quiserem estudá-las sem alguma orientação. 

A  ÁRVORE  DA  VIDA

   Um dos diagramas de maior importância dentro do contexto da cabala é o chamado "árvore da vida". Possui muitas variações, mas é basicamente composto de dez bolinhas chamadas "séfiras" ou "sephirot" interligadas por 22 caminhos além de haver uma décima primeira séfira que é considerada oculta chamada Daath, veja:
   Além do que foi dito, muitos elementos costumam ser atribuídos ás séfiras como cores e astros e aos 22 caminhos se costuma atribuir uma letra hebraica a cada um e uma carta do tarô. A árvore da vida possui muitas aplicações e os cabalistas usam os conceitos desse diagrama em inúmeras técnicas práticas. A princípio pode parecer que esse diagrama foi concebido para ser um tipo de "escada" de desenvolvimento partindo da séfira mais baixa chamada Malkut (significa "reino" e representa nosso plano físico, material) até a séfira mais alta chamada Keter (significa "coroa") porém, não deve ser interpretada apenas de maneira linear, pois, todos os aspéctos que as séfiras representam são trabalhados pelo cabalista.
   Concluíndo, aos que se interessaram pelo assunto recomendo que pesquisem por conta própria nas obras citadas ou procurem grupos esotéricos onde a cabala é ensinada. Certas técnicas da cabala são realmente muito secretas, Arieh Kaplan em seus livros faz referência a vários grupos secretos compostos por cabalistas que não são conhecidos do grande público e que não divulgam seus conhecimentos. Ele também fala de livros e manuscritos com conteúdo cabalístico que são de propriedade de poucos mantidos em bibliotecas particulares e totalmente desconhecidos da maioria dos cabalistas comuns. Certas técnicas são realmente muito perigosas como a fabricação do golem ou a merkabah (o objetivo da "merkabah" é a ascenção aos planos espirituais superiores) isso justifica o sigilo mantido por muitos adeptos. No futuro talvez eu publique meu livro no qual faço um estudo mais aprofundado sobre cabala em geral, pois, essa matéria é uma das bases do esoterismo aqui do ocidente.     
    

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