sábado, 10 de outubro de 2020

 A  CAIXA  DIBBUK

     Olá pessoal! Nesse post vou falar um pouco sobre o caso da chamada "caixa dibbuk".

    No meu livro "Análise Sobre Mitos e O Oculto" eu fiz uma menção resumida sobre esse caso. Tudo começou quando em uma venda de garagem Kenin Mannis dono de uma loja de móveis antigos viu uma caixa tipo armário de vinho antiga e quis comprar. Mas antes de levar foi advertido pela neta da senhora Havela que aquela caixa continha o "dibbuk" preso e que jamais deveria ser aberta. Kenin deixou a caixa no depósito de sua loja. Sua funcionária presenciou fenômenos estranhos e inclusive vozes proferindo palavrões. Ela ficou tão assustada que saiu imediatamente da loja e nunca mais voltou! Kenin ao dar a caixa a sua mãe ela sofreu um derrame pouco tempo depois. Quando ele deu a caixa a seu irmão, esse também a devolveu afirmando que ela exalava um cheiro ruim. Durante todo tempo que a caixa permaneceu em sua casa Kenin e seus parentes próximos sofreram com fenômenos negativos. Ele resolveu vender a caixa no Ebay relatando os fenômenos negativos. Mesmo assim a caixa teve um comprador chamado Nietzke. Neitzke sofreu na pele as consequências dos fenômenos e decidiu vendê-la novamente no Ebay. O próximo comprador foi um médico chamado Jason Haxton que já acompanhava os relatos a respeito dos fenômenos pelo blog pessoal de Neitzke. Ao sofrer também os fenômenos, Jason entrou em contato com o primeiro comprador Kenin que recomendou a ele conversar com os donos originais. Foto de Jason com uma réplica da caixa:


      Ao investigar pessoalmente, Jason ficou sabendo que a origem da caixa remete a Polônia no ano de 1938 durante as perseguições dos nazistas aos judeus. Uma judia Havela junto a uma amiga resolveram contactar um espírito para poderem ajudar contra os nazistas usando um método semelhante ao tabuleiro Oija mas usando um pêndulo. Elas mantiveram contato com um espírito e em determinado momento ele pediu para "vir" aqui a nosso plano material e elas autorizaram, mas perceberam que o espírito era maligno e tentaram lacrá-lo (ou "selá-lo" se preferirem) em um objeto mas falharam. Após a Segunda Guerra Mundial, Havela tenta novamente prender o espírito e consegue fazê-lo naquela caixa. Ao migrar para os EUA Havela leva a caixa consigo e conta a origem dela a sua neta. Seu desejo era que a caixa fosse enterrada junto com seu corpo ao morrer, mas, isso era contra as regras de um enterro judaico ortodoxo tradicional. Em sua pesquisa para tentar selar definitivamente a caixa Jason conheceu Rebeca Edery uma livreira cujo pai era um judeu que havia estudado cabala. Rebeca contou a Jason que ele deveria realizar um tipo de enterro cerimonial com um "mynian" um grupo de orações composto por dez pessoas. Em 2004 Jason realizou o ritual estilo wicca tendo colocado a caixa em outra caixa feito de madeira de acácia e foleada a ouro. 

     Quando tornou pública a história Jason era tão assediado por curiosos que teve que mudar o número de telefone. Ele criou um site thedibbukbox e também o livro contando a história. Jason passou a aparecer em programas de tv onde contava a história sobre a caixa e levava réplica. Em 2013 ele disse que a caixa original estava lacrada e escondida em um lugar seguro. Dentro da caixa original haviam duas moedas antigas de penny, um castiçal de ferro, uma taça de ouro, uma placa de granito com o nome de Salomão em hebraico, duas mechas de cabelos uma mecha loira e outra marrom (talvez das duas mulheres que lacraram o espírito da primeira vez) e um botão de rosa seco. Fotos de como seria a caixa por dentro e fechada:




     Do lado de trás da caixa também haviam inscrições em hebraico, percebe-se que o início é o "shemá" Deuteronômio cap. 6 versículo 4. "Ouve, ó Israel! O Senhor, nosso Deus, é o único Senhor.":


     Em 1891 Elijah J. Bond obteve a patente para o tabuleiro "Ouija" tal qual é conhecido hoje em dia, mas, para se fazer contato com o "outro lado" existem muitas variações de métodos e apetrechos, as mulheres judias que prenderam esse dibbuk usaram um método com pêndulo para se comunicar com entidades. Muitos acidentes decorreram pelo uso de métodos assim pelas pessoas através dos tempos e ainda ocorrem. Manter contato com o "outro lado" não é difícil, como os grupos Espíritas vem fazendo a tanto tempo, o problema é que quase nunca se tem certeza sobre que tipo de entidade está "do outro lado" e em determinado momento depois das comunicações a entidade acaba ganhando a confiança da pessoa e pede para ela "convidar" ela para cá "dar a permissão" e é aí que as coisas saem do controle. Muitos casos graves de possessão demoníaca acontecem por causa disso. O nome de Salomão gravado na pedra não surpreende já que ele é considerado por muitas tradições como o maior dominador de espíritos que já existiu. A crença em "dibbuk" abre o leque de possibilidades a respeito de entidades não físicas que a maioria crê se resumir a anjos e demônios. Um "dibbuk" na crença judaica pode ser qualquer coisa inclusive um espírito de alguém que morreu e foi condenado a vagar em nosso plano material pelos seus pecados. A crença em reencarnação sempre existiu na tradição judaica (Jesus também falou sobre) mas é desencorajada pelos rabinos mais tradicionais. Uma exceção foi o célebre ARI (Isaac Luria 1534-1572) ele não só falava abertamente sobre reencarnação como também deu muitas provas. Um "dibbuk" seria então algo bastante genérico mas essencialmente uma entidade vagante não física.       

segunda-feira, 31 de agosto de 2020

AS  RELAÇÕES  DE  MAOMÉ  COM  OS  DJINNS

      Olá a todos! Nessa postagem vou mencionar alguns relatos que falam sobre o contato que Maomé teve com os djinns direta ou indiretamente.

   Antes de mais nada o leitor deve se familiarizar com os conceitos sobre o que é um djinn. "Djinn" é uma palavra árabe que significa "oculto" e se refere a um grupo específico de entidades conhecidas mesmo antes do islã, normalmente não se manifestam visivelmente por isso o nome. O conceito mais próximo de djinn que a maioria dos ocidentais conhece é o "gênio da lâmpada" das histórias do Aladim, pois djinn é o mesmo que gênio só que não tão acessível como o da história e na maioria das vezes bastante hostil a contato com humanos. Para ter uma ideia recomendo darem uma olhada em outro post desse mesmo blog intitulado "FADAS/DJINNS". Em se tratando de entidades na maioria das vezes invisíveis várias tradições reconhecem a existência de anjos, demônios (que são ex-anjos que abandonaram sua antiga condição) e até mesmo "dibuks" da tradição judaica que são entidades não físicas, mas, os djinns não se encaixam nessas categorias. O Alcorão diz que os anjos foram criados de luz, os homens do barro (matéria física) e os djinns de "fogo sem fumaça" ás vezes chamado de "fogo puríssimo", como no capítulo 15 Al Hirj versículos 26 a 27:


   "E criamos o homem de argila seca, de barro modelável.

   E os djinns, havíamo-los criado de fogo sem fumaça."


   Também no capítulo 55 do Alcorão chamado "O Clemente" versículos 14 a 15:


   "Criou o homem de barro semelhante ao do oleiro,

   E criou os djinns de um fogo sem fumaça."


   A categoria peculiar a qual pertence os djinns permite a eles agirem nos bastidores e frequentemente eles enganam as pessoas fazendo traquinagens e ás vezes se passando por almas de parentes mortos, anjos ou sendo identificados com demônios (no passado gostavam de se passarem por divindades pagãs e serem adorados). Os celtas os chamavam de fadas, na China, Coréia e Japão eram as kitsunes ou tennins. Não tem formas definidas e podem assumir a forma que quiserem, frequentemente de animais além de também poderem possuir humanos assim como os demônios fazem. Deve-se tomar cuidado para não interpretar trechos do Alcorão de maneira literal, quando ele diz que os anjos foram criados de luz não se trata da luz natural como a conhecemos mas sim de outro tipo de luz, assim como quando diz que os djinns foram criados de "fogo" não está se referindo ao fogo natural que aquece e queima a matéria mas sim de um tipo específico de fogo que nós poderíamos classificar como "plasma" um dos estados da matéria ou "energia". Eles tem um longo tempo de vida e livre arbítrio, mas, uma hora terão seus atos julgados, os melhores receberão recompensas de Deus e os piores condenados ao inferno assim como os humanos. 

   Maomé já conhecia os djinns antes do Alcorão ser revelado á ele, em especial ele tinha aversão aos indivíduos que se deixavam influenciar por eles os "possuídos por djinns" alguns eram levados até a insanidade por dar crédito á essas vozes, alguns poetas se beneficiavam da inspiração que os djinns lhes instigavam e muitos feiticeiros faziam um tipo de "parceria" com os djinns se beneficiando de seus atos e das informações que esses lhes traziam, á esses feiticeiros que o Alcorão se refere no capítulo 6 "O Gado" versículo 128:


   "E no dia em que os congregará a todos, dirá: 'Djins, seduzistes os homens em grande número.' E os amigos dos djinns entre os homens dirão: 'Deus nosso, temo-nos usado mutualmente e agora atingimos o termo que nos fixaste.' Deus lhes dirá: 'O fogo é vossa morada. Nele permanecereis para todo o sempre salvo os que Deus quiser salvar'. Teu Senhor é sábio e conhecedor." 


   Na tradição árabe Salomão é reconhecido como sendo aquele que mais tirou proveito dos djinns usando-os para quase tudo, em especial na construção do templo. Não que fosse mérito próprio dele mas sim uma concessão especial de Deus á ele. Tradicionalmente os djinns quando são retratados na arte árabe ou persa o são com formas misturadas meio humanas meio animalescas. Nessa ilustração no estilo persa Salomão está no centro cercado de anjos que o serviam, homens, animais (Salomão conhecia a linguagem dos animais) e djins. Os djinns são retratados como grotescos e meio animais, eu fiz círculos em vermelho para destacá-los:


     Nessa outra ilustração seguindo o mesmo estilo persa circulei os djinns em vermelho á direita:


   Essa outra ilustração no estilo persa representa Salomão junto a rainha de Sabá com alguns anjos acima e destaquei os djinns com círculos vermelhos também:



   Essa ilustração de um livro iraniano representa um djinn, note que foi representado montado em um animal semelhante a um elefante. Em manuais de demonologia é muito comum alguns demônios serem representados com formas animalescas ou montados em animais e bestas estranhas, os demônios de mais alta hierarquia costumam ser representados montados em bestas, não há muita diferença entre um djinn mau e um demônio:



      Uma narrativa fala de uma vez em que Maomé quis mostrar djinns a alguns de seus seguidores que duvidavam da existencia deles. Apenas um teve coragem de o seguir. É descrito no livro "Os Vingativos Djinn":


   "Em 'Dala'il-al-Nubuwaat', Imam Baihai afirma que o profeta Maomé certa vez disse a seus companheiros em Meca: 'Aqueles que dentre vós desejarem ver os djinn, devem me procurar hoje á noite'. Um de seus seguidores, Hadhrat Abdullah Ibn Masood, foi o único que apareceu, pois todos os outros tinham medo dos djinn. O profeta o levou a uma colina alta em Meca, em uma noite clara, porém sem luar. Maomé desenhou um círculo e disse a Ibn Masood que ele deveria ficar sentado e imóvel dentro do círculo, independentemente do que ocorresse. Hadhrat Abdullah Ibn Masood se sentou dentro da borda do círculo e começou a a recitar o Alcorão. De repente, uma grande quantidade de djinn apareceu de uma fumaça e cercou Maomé, que estava fora do círculo. Os djinn pareciam estar criando uma barreira em volta do profeta, prendendo-o.

   Ibn Massod ouviu os djinn dizerem a Maomé: 'Que evidência você nos dá de que é o profeta?'

   Maomé apontou para uma árvore próxima e disse: 'Vocês aceitarão minhas palavras se essa árvore der a evidência?'

   O líder do grupo de djinn respondeu: 'Sim, aceitaremos'.

   Então, o profeta chamou a árvore e ela caminhou em direção aos djinn. Era uma evidência de que Maomé de fato era o profeta escolhido por Alá. Os djinn ficaram tão impressionados que louvaram a Alá e seu profeta, e se converteram ao islã." 


   Desde que passou pela experiencia da caverna de Hira, Maomé teve seus sentidos sutis despertados e então passou a ter a capacidade de enxergar entidades do plano sutil como anjos, demônios e djinns, ele os reconhecia mesmo quando assumiam outras formas. Na tradição muçulmana acredita-se que os djinns assumam ás vezes a forma de serpentes, cães ou gatos. É muito mais frequente os djinns serem identificados com a forma de cães (em especial cães negros) no mundo islâmico. Maomé particularmente não gostava de cães e na comunidade muçulmana os cães são considerados sujos e criaturas desprezíveis. Quando estão fazendo uma das orações diárias se um cão passar por perto se considera que aquela prece foi "anulada". Ainda hoje muitos muçulmanos detestam cães possivelmente por causa dessa associação que eles fazem dos cães com os djinns. Por outro lado Maomé teve realmente um gato de estimação e ele considerava os gatos "úteis". Por isso os muçulmanos ainda nos dias de hoje costumam gostar de gatos. Nas Síria, país devastado pelas guerras, muitas casas abandonadas se tornaram abrigo para gatos vadios porque seus donos morreram. Em Istambul na Turquia os gatos estão por toda parte pelas ruas, tão á vontade como as vacas na Índia. 

   No passado, muito mais do que hoje em dia os djinns interferiam na vidas das pessoas muito provavelmente porque nós hoje estamos cercados de eletricidade e aparelhos eletrônicos que emitem campo eletro-magnètico (que afeta negativamente os djinns) e ferro que os djinns detestam. Mas nas cidades interioranas com menos interferência de aparelhos eletrônicos muitas histórias insólitas ainda são comentadas de intervenção de entidades não identificadas. No passado andar solitário por lugares ermos poderia tornar os caminhantes alvos fáceis para a traquinagem dos djinns. No volume 1 das "Mil e Uma Noites" de Mamede Mustafa Jarouche há um anexo que menciona uma história que Maomé contou a Aisha a respeito de um sujeito que saiu á noite e foi capturado pelos djinns, veja:


   "Eu tive notícia de que Aisha pediu ao profeta -que a paz e as preces de Deus estejam com ele! 'Ó profeta de Deus, conte-me a história de Hurafa'. Então o profeta -Que a paz e as preces de Deus estejam com ele! Disse: 

   Deus tenha piedade da alma de Hurafa, que era um homem bom. Ele me contou que, certa noite, saiu devido a uma necessidade qualquer, e, em meio a caminhada, topou com três gênios que o aprisionaram. Um deles disse: 'Vamos perdoá-lo', o segundo disse: 'Vamos matá-lo' o terceiro disse: 'Vamos escravizá-lo'. Enquanto eles discutiam sobre o que fazer com ele, surgiu um homem que lhes disse: 'A paz esteja convosco', e eles responderam: 'Convosco esteja a paz'. O homem perguntou: 'O que são vocês?', e eles responderam: 'Somos da raça dos gênios. Capturamos este homem e estamos discutindo o que fazer com ele'. O homem lhes disse: 'Se acaso eu lhes contar uma história espantosa, vocês me dariam sociedade nele?' Disseram: 'Sim'. Então ele disse (...)." 


   O tradutor Jarouche menciona que a história em que um mercador é salvo de ser eliminado por um gênio pela narrativa de acontecimentos fantásticos contados por outros indivíduos possivelmente teve origem a partir desse relato, baseado nele. Quando li esse caso me lembrei de outro semelhante contado no Malleus Maleficarum o "Martelo das Feiticeiras" de Kramer e Sprengler:


   "Há também uma história dos três companheiros que caminhavam por uma estrada quando dois deles foram subitamente fulminados por um raio. O terceiro ficou apavorado ao ouvir vozes no ar, a dizer: 'Vamos fulminá-lo também.' Em seguida ouviu outra voz retorquir: 'Não podemos, pois que hoje ele ouviu a sentença: 'O Verbo se fez carne.' Compreedeu então que fora salvo porque naquele dia assistira á Missa e, ao final dela, as palavras de S. João, no Evangelho 'No princípio era o Verbo'(...)."


   Deduz-se daí que esse trecho do Evangelho em particular parece conferir um tipo de proteção. No Alcorão também certos trechos são creditados como tendo efeito protetor quando recitados ou escritos. 

   Embora até agora eu tenha mencionado apenas ações negativas dos djinns e atributos negativos, (os muçulmanos costumam acreditar que os djinns frequentam lugares normalmente sujos como banheiros por exemplo) é bom deixar claro que nem todos são maus. Eles tem livre arbítrio assim como nós, existem djinns bons e djinns depravados. Um trecho de Hadith (coletâneas de narrativas relacionadas a Maomé, sua vida e seus atos) é citado em "Os Vingativos Djinn":


   "O mensageiro de Alá disse; 'Não vos impregneis de imundície nem de ossos, pois é o alimento de vossos irmãos dentre os djinn.'"


   Mas porque Maomé disse que ossos são alimentos dos djinns, acaso os djinns que são seres "espirituais" comem ossos? Não, isso demanda uma explicação. Quando querem os djinns podem realmente assumir uma forma física e comer alimentos assim como nós para sentir o gosto. Mas eles não tem necessidade disso. Como são seres feitos de um tipo de "energia" é de um tipo de energia que eles se alimentam. Quando indivíduos fazem oferendas de alimentos á entidades, na maioria das vezes as entidades não comem os alimentos, eles ficam expostos até apodrecer. Mas eles se alimentam da "energia" presente nessas oferendas de alimentos, em especial a intenção que as pessoas põem nessas oferendas. Uma narrativa diz que certa vez Maomé foi convidado por djinns bons, por isso ele levou ossos de animais á eles como um tipo de presente. Os djinns não tem necessidade de ossos para comer. Mas toda matéria orgânica emana um tipo de energia, o que matérias inorgânicas como vidro ou metais não tem. É a energia orgânica presente nos ossos (e qualquer outra matéria orgânica) que os djinns absorvem, por isso a recomendação de Maomé. Espero ter elucidado algumas narrativas a respeito do contato direto ou indireto de Maomé com os djinns.  


   

 


   

domingo, 14 de junho de 2020

OCULTISTAS NOTÁVEIS-11

   Olá pessoal! Nesse post vou falar sobre um ocultista não muito badalado na atualidade, mas, que foi muito popular em sua época: o conde Louis Hamon, conhecido como Cheiro (embora o "ch" tenha som de "sh" em português, nesse caso "Cheiro" deve-se pronunciar como "Keiro" pois vem de "chéri" "kéri" que significa "mão" em grego).
   Ele nasceu em 1 de novembro de 1886 na Irlanda e faleceu em 8 de outubro de 1936 nos EUA. Embora usasse o pseudônimo de conde Louis Hamon, seu verdadeiro nome era Willian John Warner, o título de "conde" que ele passou a usar era fictício. O nome Cheiro que ele passou a usar era muito apropriado para si, pois, foi por causa da quiromancia (adivinhação pela mão) que ele se tornou famoso. Não é exagero afirmar que foi ele quem levou essa antiga arte ao grau mais alto. Antes de mais nada, cabe esclarecer algo sobre quiromancia. Não se trata exatamente de adivinhação, mas sim de interpretação, é uma técnica que interpreta a personalidade das pessoas baseado na observação de certos elementos da mão do indivíduo. Pode-se dizer que a quiromancia seja uma subdivisão da "fisiognomonia" uma técnica que teria surgido na antiga Índia de milhares de anos atrás e que buscava interpretar a personalidade de uma pessoa baseado na observação das características físicas da mesma. Ambas as técnicas surgiram na Índia e foram praticadas pelos persas que as levaram ao Ocidente, Grécia e Roma. Outra subdivisão dessa técnica é a chamada "quirologia" que dá mais importância ás linhas da mão sugerindo assim o "futuro" ou "sorte" de quem está sendo observado, mas, essas linhas muitas vezes mudam devido a impactos emocionais na pessoa.
   Existe um trecho bíblico que parece sugerir fortemente que há algum fundamento por trás dessa técnica, está no livro de Jó cap. 37 versículo 7:

   "Ele põe selos sobre as mãos dos homens, a fim de que todos os mortais reconheçam seu Criador."

   Quando jovem, Cheiro viajou para o porto de Bombaim onde conheceu um indiano da etnia Chitpavan Brahmin que se tornaria seu guia iniciando nessas artes. O indiano o levou para sua aldeia em Konkan. Depois de algum tempo, os Brahmanes autorizaram Cheiro a estudar um antigo livro que versava sobre as mãos. Depois de dois anos estudando-o, Cheiro retornou a Londres para começar sua carreira de quiromante. Foto dele:

   Graças á sua perícia nessa arte, Cheiro alcançou fortuna e status, tornou-se famoso, angariou seguidores e conheceu grandes personalidades de sua época como Oscar Wilde, Mata Hari, Thomas Edison, o explorado Henry Morton Stanley e outros. Cheiro relutou durante vários anos em se casar, mas, já sabia que estava destinado a se casar com uma mulher que o curaria de uma doença grave, e foi o que de fato aconteceu. 
   Existe uma história muito curiosa sobre Cheiro que teria ocorrido quando ele realizava um trabalho no Cairo, Egito em meados de 1900. Ele tinha uma boa amizade com um guia egípcio que lhe salvara a vida. Quando manifestou o desejo de retornar á Europa, esse guia lhe entregou um estranho presente: era uma mão real humana preservada! Essa mão estava muito bem preservada, a cor era morena, os dedos eram delicados, as unhas estavam cobertas com um tipo de esmalte de ouro e havia um anel no dedo com pequenos hieróglifos. O egípcio disse a Cheiro que aquela mão tinha sido passado de geração em geração á sua família através dos séculos e pertencera a uma das filhas do faraó Akhenaton e a rainha Nefertiti chamada Meketaten. Essa princesa teria conduzido um exército ao templo de Karnak em Tebas na tentativa de eliminar o culto de Amon (Akhenaton foi um faraó que desejava eliminar os vários cultos politeístas e estabelecer o culto ao deus único solar Aton). Mas os sacerdotes de Amon capturaram a princesa e cortaram a mão dela que ficou exposta no templo de karnak por muitos anos antes de ter passado á família desse egípcio. O egípcio disse que a alma "ka" da princesa Meketaten estava presa naquela mão. Cheiro a levou para a Irlanda. Cheiro estava decidido se mudar para a Inglaterra e percebeu que a mão mumificada tinha começado a sangrar, ele aplicou piche e verniz o que estancou brevemente o sangramento. Na noite anterior á mudança, Cheiro e sua esposa decidiram dar um fim àquela mão. Sua esposa leu um hino á Ísis do Livro dos Mortos e ele jogou a mão na lareira percebendo o estranho cheiro de incenso que emanava. Enquanto subiam as escadas para dormirem, os dois perceberam um vento impetuoso soprando na casa e para o espanto deles uma forma de uma mulher se materializou na casa, tinha o aspécto de uma nobre egípcia com adornos de ouro. A mulher prestou reverência ao casal e subitamente desapareceu. Os dois não conseguiram dormir naquela noite devido ao insólito fenômeno. No dia seguinte, Cheiro revolveu a lareira para ver os restos da mão e deduziu que o "ka" da princesa Meketaten que havia sido preso naqula mão decepada pelos sacerdotes de Amon havia sido finalmente libertado, com o detalhe da similaridade entre Amon e o nome que usava Hamon. Essa história foi narrada pelo jornalista R. F Luchetti, infelizmente nunca pude obter mais informações do jornalista pois ele já havia falecido.
   Na época em que Cheiro viveu nos EUA continuava atendendo clientes, cerca de vinte por dia. Certa vez, em Nova York, jornalistas quiseram pôr suas habilidades á prova e lhe entregaram treze impressões digitais diferentes. Cheiro interpretou corretamente a personalidade e características de doze pessoas donas das impressões. Mas se recusou a falar sobre uma delas dizendo: "-Recuso-me a identificar essa impressão para qualquer outra pessoa, a não ser a própria, porque é a marca de um assassino. Ele irá se revelar através de confissão e morrerá no presídio." Era a impressão do dr. Henry Meyer que estava no presídio de Tombs acusado de assassinato, ele morreu meses depois em uma clínica psiquiátrica.
   As façanhas de Cheiro pareciam ir além da pura quiromancia, e alcançaram o domínio da visão de acontecimentos futuros (profecia ou visão remota que pode ser feita através de "estases" e técnicas elaboradas) pois, ele falou de modo acertado sobre eventos que realmente aconteceram no futuro como a ruína da família Romanov na Rússia, a ascensão de ditaduras na Espanha, Itália e Alemanha, a refundação do estado de Israel pelos judeus, o anúncio de três guerras mundiais (duas já ocorreram), e que os americanos dominariam os ares (pode estar se referindo a força aérea, aos projetos de foguetes espaciais, ou á tecnologia de satélites e telecomunicações.)
   Embora essa antiga arte seja motivo de chacota devido ao estereótipo dos ciganos "lendo o futuro" há realmente uma "técnica" por trás da interpretação e Cheiro publicou vários livros onde explica os métodos que consideram não apenas as linhas, mas também o formato da mão em geral, dos dedos, e os "montes" essas ligeiras elevações na palma que são cada uma associada aos atributos da lua, vênus, mercúrio, sol, saturno e júpiter. Diz-se que Alexandre, o Grande aprendeu algo dessa técnica através de seu mestre Aristóteles, que Júlio César a conhecia e que até Hitler fosse um praticante. Existem relatos que afirmam que quando Hitler conhecia alguém e o cumprimentava apertando a mão dele ele prestava bastante atenção a mão da pessoa e que ás vezes se mostrava desconfiado após sua avaliação como se percebesse que devido as características do indivíduo ele não fosse digno de confiança. 
          


sexta-feira, 22 de maio de 2020

SOBRE GARRAFAS DE GÊNIOS E TAPETES VOADORES

   Olá a todos! Nesse post vou falar um pouco sobre dois elementos que fazem parte da história do Aladdin tão conhecida do grande público: a lâmpada com gênio e o tapete mágico voador.
   A maioria do público conhece a história Aladdin por causa do longa de animação da Disney, entretanto, existem diferenças consideráveis entre esse do desenho da Disney e o das histórias originais em árabe. Cabe dizer que a história do Aladdin faz parte da grande coletânea das "Mil e Uma Noites" que apareceu em manuscritos em meados do séc. IX o fio condutor é a história do rei Shariar que descobriu que sua esposa o traía e passou a dormir com moças e matá-las. Sherazade se ofereceu para parar isso contando histórias que entretinham o rei, muitas histórias são narradas por ela a do Aladdin é uma delas. Os manuscritos das Mil e Uma Noites circularam nas mãos de escribas anônimos que foram acrescentando mais histórias até um escriba anônimo do final do séc. XVIII do Egito reunir em uma forma "definitiva" esse é que serviu de base para a maioria das traduções atuais das Mil e Uma Noites. O primeiro ocidental a traduzir narrativas das Mil e Uma Noites foi o francês Antoine Galland em meados de 1700. 
   Em relação a garrafas com gênios presos, técnicas do tipo não são exclusividade dos árabes, nem dos judeus, é coisa muito antiga existem fórmulas conjuratórias em escrita cuneiforme da Assíria de milhares de anos atrás. Falando especificamente sobre a relação do rei Salomão com tais técnicas os adeptos da magia cerimonial ocidentais estão bem cientes, há manuais, grimórios e boa literatura de base, daria um trabalho de pesquisa considerável reunir tudo (até fiz um livro mas nunca se pode considerá-lo completo pois sempre surgem novas referências) mas, faço citações esporádicas em vários lugares por aí onde escrevo na net. Vou trazer uma citação de "Magia Oriental" do Idries Shah onde ele diz que teve acesso a um manuscrito árabe de um adepto autodidata, que, a julgar pela escrita seria de meados do séc. XVIII onde é descrito um sistema típico de evocação onde o adepto deve fazer um preparo, purificação, e etc. Em certo ponto se menciona uma garrafa para prender o "espírito" veja:

   "Tome a cauda de um gato e coloque-a junto com várias gotas de índigo numa pequena garrafa de metal que só pode ser feita de bronze. Se for feita de bronze, serão evitados perigos(...).
   Certifique-se que você tem uma tampa para a garrafa. Esta deve ser apertada e feita de chumbo e de nenhum outro material. Essa tampa é então colocada na garrafa, de forma que sobre um espaço. Nesse espaço verte-se breu derretido misturado com a seiva de um cedro."

   O detalhe do material da garrafa adequada ser de bronze é reafirmado no livro "Os Vingativos Djinn" de Rosemary Ellen Guilley mas ela acrescenta a cobertura de ferro vale ressaltar. Na história narrada na "Goetia" é dito que Salomão prendeu aqueles 72 espíritos em um vaso de cobre, pode ser que seja um erro de tradução pois a maioria das fontes confiáveis dá preferência ao bronze para essa operação (embora eu já tenha visto relatos sobre vários outros materiais e objetos). Um arame de ferro nesse sistema é usado para impor sua vontade a espíritos rebeldes e torturá-los. Mas, a tampa de chumbo citada na obra de Idries Shah remete a outra narrativa onde o chumbo é usado com o propósito de "conter" entidades não muito bem compreendidas: a narrativa relativa Alexandre no Alcorão. Nessa narrativa os materiais que compõe a barreira de Alexandre que restringe o povo de Yajuj e Majuj (Gog e Magog) é feita primeiro se colocando blocos de ferro e depois despejando chumbo derretido veja no trecho do Alcorão cap. 18 versículos 96 a 97:

   "Trazei-me blocos de ferro'. Depois quando tinha enchido o espaço entre as duas montanhas, disse: 'Trazei-me chumbo derretido para que derrame em cima deste ferro'. E Yajuj e Majuj não puderam nem escalar nem perfurar a barreira."

   Também aqui existem variações nas versões onde no lugar do chumbo é dito cobre, embora o chumbo faça mais sentido sobretudo do ponto de visto simbólico já que os atributos do metal chumbo são relacionados a saturno, a saber: morte, ruptura drástica, recomeço, tristeza ou melancolia (Saturno é o nome romano de Cronos, deus grego do tempo que castrou seu pai Urano com uma foice, sendo retratado como um velho segurando uma foice, deve ser daí que evoluiu a imagem arquétipa do "ceifeiro" a "dona morte"). Passamos então ás referências ao "tapete mágico voador".
   No desenho da Disney o tapete voador tem vida própria, é uma criatura viva que voa pelos ares carregando o herói por cima. Mas, nas narrativas relacionadas a Salomão o tapete não tem vida própria nem capacidade de voar por si mesmo, o que permite a ele voar são os djinns específicos do vento que o carregam. O tapete mágico do Aladdin da Disney;

   Veja o que Idries Shah diz sobre isso no capítulo de "Magia Oriental" dedicado as façanhas mágicas de Salomão:

   "Os cronistas árabes, acima de quaisquer outros, destacam-se na minuciosa atenção prestada ao lado oculto desse homem extraordinário.
   Segundo a maioria deles, ele não só viajava pelo ar, como o fazia com toda a sua corte no tapete mágico original. Feito de uma espécie de seda verde, esse tapete era capaz de carregar centenas de pessoas de uma vez e estava sempre escoltado por revoadas de pássaros. Na tradição judaica diz-se que o tapete tinha 60 milhas quadradas e sua seda verde era entretecida de ouro."

   É importante destacar que o poder de Salomão sobre os espíritos não era fruto de sua própria prática do oculto ou conhecimento recebido dos rabinos, era uma concessão especial divina que lhe fora dada. Veja o que diz o Alcorão no cap. 34 versículo 12:

   "E demos a Salomão poderes sobre o vento cujo percurso matinal é de um mês e cujo percurso vesperal é de um mês. E, para ele, fizemos brotar a fonte de cobre fundido. E djinns trabalhavam para ele com a permissão de seu Senhor. E àqueles que desacataram Nossas ordens, infligimos o castigo das chamas."

   Mais uma citação do Alcorão relativa a isso no cap. 38 versículos 36 a 37:

   "Sujeitamos-lhe o vento que soprava na direção que ele indicasse, e os pássaros. E sujeitamos-lhe os demônios, construtores e mergulhadores de toda espécie,"

   Existe um grimório chamado "Red Magick" atribuído a um tal feiticeiro egípcio chamado al-Toukhi que teria feito mais de 30 livros de mágica, astrologia, geomancia e evocação de espíritos. Teria sido feito em meados da Idade Média. Em um trecho dele se menciona o tapete mágico voador e diz que ele voava pelos ares graças a quatro djinns que eram considerados vizires de Salomão veja o trecho:

   "Isso foi relatado por Ka'b al-Ahbar (Deus esteja satisfeito com ele!) ele disse: No tapete de nosso mestre Salomão, filho de Davi (sobre ele esteja a paz!) esse tinha quatro nomes hebreus pelos quais os djinns e demônios eram obrigados a obedecer. Eles subiam sobre o tapete e colocavam cargas sobre ele que suspendia pelo poder dos ifriits que eram vizires de Salomão entre os djinns. É relatado que era capaz de suspender trezentos homens e trezentos djinns. O grande vizir entre os homens era Asaph, o filho de Berachiah. E os grandes vizires entre os djinns eram quatro: Damryat, Sana'iq, Hadliyakh e Shooghal, eles estavam no comando da direção onde o tapete voava."

   O texto relata a invocação, os atos e símbolos que devem ser feitos para chamar esses djinns. "Red Magick" é um grimório tipicamente árabe, embora contenha nomes hebraicos em várias partes. Foi publicado pela Ishtar Publishing e não é nenhum grande segredo ou raridade, qualquer um pode comprar no site da Amazon. Eu já havia expressado minha opinião sobre grimórios aqui nesse blog na postagem de título "OS GRIMÓRIOS" e reafirmo que não os considero como raridades ou obras indispensáveis para a prática do oculto, embora hajam adeptos que consigam fazer grande proveito deles, eu os considero mais como obras culturais que representam o estilo e a época do povo quem os produziu. Sobre as viagens de Salomão pelos ares, uma versão do "Kebra Nagast" menciona não o "tapete mágico" mas um outro tipo de veículo usado para esse propósito o que leva certos autores a postular a teoria que Salomão tinha um tipo de "Vimana" veículo aéreo típico da Índia antiga. Várias montanhas da Ásia Central tem o nome sugestivo de "Montanha de Salomão" ou "Trono de Salomão" e lendas de que Salomão e sua corte teriam viajado até ali pelos ares. Mesmo as Ilhas Salomão na Oceania tem histórias parecidas relacionadas ao rei de onde veio o nome, mas, cada um interpreta como quiser não afirmo esses detalhes como evidências históricas. Sendo assim, espero ter elucidado algumas referências de onde vieram os conceitos de garrafas de djinn e tapetes mágicos, ambos os elementos ligados diretamente aos relatos sobre o rei Salomão.    


sexta-feira, 17 de abril de 2020

A CIÊNCIA DA FORMA, DA MATÉRIA E A GEOMETRIA SAGRADA


   Olá a todos! Nesse post vou dissertar sobre alguns artefatos e construções antigas e a ciência que está por trás dessas obras. Sendo mais direto, vou apresentar que tipo de "arte" está por trás da fabricação da chamada "arca da aliança" , do tabernáculo e do templo de Salomão. 
   A "arca da aliança" é o baú que Deus orientou Moisés a fabricar para poder guardar principalmente as tábuas dos dez mandamentos, um vaso contendo o maná e talvez outros artefatos não especificados. O tabernáculo é o "templo móvel" basicamente a tenda e o cercado onde a arca seria depositada durante a travessia dos hebreus pelo deserto até a terra prometida. Mesmo sendo proibido aos judeus confeccionar imagens para fim religioso, a arca tornou-se o objeto sagrado central e tangível da fé. As particularidades e minucias sobre a construção da arca, do tabernáculo e os objetos usados no serviço do tabernáculo pelos sacerdotes da descendência de Aarão -os "cohens"- eram tão complexos que Deus teve que mostrar as imagens de tudo a Moisés durante a conferência, segundo a tradição, em fogo. Mas Moisés não deveria fazer tudo sozinho e Deus ordenou a ele que um homem chamado Betsalel fosse o artífice mestre, veja em Êxodo cap. 35 versículos 30 a 35:

   "Moisés disse aos israelitas: 'Vede: o Senhor designou Betsalel, filho de Uri, filho de Hur, da tribo de Judá; encheu-o de um espírito divino para dar-lhe sabedoria, inteligência e habilidade para toda a sorte de obras: invenções, trabalho em ouro, em prata, em bronze, gravação de pedras de engaste, trabalho em madeira, execução de toda espécie de obras. Concedeu-lhe também o dom de ensinar, assim como a Aoliav, filho de Aquisamec, da tribo de Dan. Dotou-os de talento para executar toda a sorte de obras de escultura e de arte, de bordados em estofo e púrpura e violeta e escarlate, de carmesin e de linho fino, e para a execução assim como o projeto de toda espécie de trabalhos.'"

   Betsalel (também grafado como "Besalel" ou "Betzalel") era artesão, seu avô Hur foi joalheiro e ele aprendeu não apenas essa arte mas, outras tantas relacionadas a trabalho com a matéria. Seu nome significa "na sombra de Deus" ("beit"= casa, "tsl"= sombra, "El"=Deus) e quando Moisés ordenou a ele que fabricasse primeiro os objetos do tabernáculo e depois o tabernáculo, Betsalel respondeu que o correto era construir primeiro a "casa" e depois os objetos e Moisés o felicitou porque era realmente assim que Deus tinha ordenado e Moisés afirmou que ele realmente estava "á sombra" de Deus. Em toda antiguidade clássica os artesão (em um sentido muito mais amplo, não apenas quem fabrica objetos de arte, mas trabalha com a matéria) eram considerados "mágicos" e dotados de um conhecimento especial. Na mitologia grega o deus Hefesto da forja é quem fabricou todas as armas dos deuses que tinham capacidades incomuns, além de ter projetado seus palácios. Dédalo foi o artífice que construiu o labirinto de Minos e também as asas de cera com a qual pôde sair de lá. Os antigos vinkings pensavam a mesma coisa a respeito dos artesãos em especial os que trabalhavam com ferro. Quando a Bíblia diz que Betsalel era dotado de inteligência não era apenas inteligência em um sentido comum, mas, em um sentido mais profundo, de alguém que não apenas sabe trabalhar com a matéria, mas também que conhece os segredos ocultos da matéria. Outra habilidade atribuída a Betsalel era a capacidade de "permutar as letras pelas quais o céu a a terra foram criados" o que significa que ele dominava as técnicas do Sêfer Yetsirá. Veja o que o Arieh Kaplan diz sobre isso no prefácio de sua edição do Sêfer Yetsirá:

   "Os mistérios do Sêfer Yetsirá foram usados novamente após o Êxodo quando os israelitas estavam construindo o Tabernáculo no deserto. O Talmud diz que Betzalel foi escolhido para construir este Tabernáculo porque ele 'sabia como permutar as letras com as quais o céu e a terra foram criados'. Tal conhecimento esotérico era necessário, visto que se pretendia que o Tabernáculo fosse um microcosmo, traçando um paralelo simultâneo com o Universo, o domínio espiritual e o corpo humano. Não era suficiente a mera construção de um edifício físico. Na construção, o arquiteto tinha de meditar no significado de cada parte e imbuí-las com as propriedades espirituais necessárias."

   Também Bin Gorion em "As Lendas do Povo Judeu" menciona o mesmo, apenas muda o termo "permutar" por "ligar" as letras, veja o trecho:

   "Bezalel sabia ligar as letras, por força das quais foram criados o céu e a terra. Era chamado de Bezalel, pois, quando Moisés recebeu sua instrução no Sinai, ele também ali estava sob a sombra de Deus."

   Arieh Kaplan continua ressaltando os "estados de consciência" representados por determinadas séfiras da árvore da vida que Betsalel era capaz de alcançar, veja o trecho:

   "O Talmud deriva tudo isso do versículo onde Deus diz{Êxodo cap.31 vers 2-3}: 'Eu chamei por seu nome Betzalel...e o enchi com o espírito de Deus, com Sabedoria, Entendimento, e Conhecimento"(Chocmá, Biná, e Daát) referem-se a estados de consciência que discutiremos extensamente. Tais estados de consciência são obtidos mediante a manipulação das letras."

   Portanto, Betsalel era dotado de um conhecimento especial não era apenas um artesão comum. A arca foi criada sob medidas bem definidas e de madeira de acácia recoberta de ouro. Uma representação de como era a arca:

   Vários especialistas afirmam que essa combinação do ouro com a madeira de acácia faz com que a arca funcione como um tipo de "capacitor" acumulando energia solar e descarregando na forma de eletricidade. Todos os materiais utilizados na fabricação dos artefatos do tabernáculo são altamente significativos. A acácia por exemplo tem uma importância simbólica muito grande na maçonaria. Com relação a ciência da matéria e forma dos objetos, um inventor Tcheco chamado Robert Pavlita inventou o que foram chamados "geradores psicotrônicos" objetos que devido a serem feitos de determinados materiais e sob determinadas formas e medidas são capazes de acumular energia (humana) e descarregar essa energia na forma de um tipo de magnetismo capaz de atrair objetos não apenas metálicos. As autoras Sheila Ostrander e Lynn Schroeder tiveram a oportunidade de conhecer pessoalmente Pavlita e suas criações, elas relataram a esperiência no livro "Experiências Psíquicas Além da Cortina de Ferro". Pavlita teve a ideia se baseando em antigos textos o que comprova que os da antiguidade já conheciam essa ciência, veja esses dois trechos da já citada obra:

   "O gerador psicotrônico, ou gerador de Pavlita, como é chamado em homenagem ao seu inventor, nasceu, em parte, de antigos manuscritos e descobrimentos esquecidos, velhos conhecimentos combinados com a ciência moderna."

   "-Pavlita teve a ideia depois de estudar muitos textos antiquíssimos."

   Assim como o artífice responsável pela criação da arca era dotado de um conhecimento especial, também o artífice responsável por vários adornos do templo que deveria receber a arca também era dotado de um conhecimento especial. A tradição diz que seu nome era Hiram, veja o que a Bíblia diz em I Reis cap. 7 versículos 13 a 14: 

   "O rei Salomão mandara vir de Tiro um homem que trabalhava em bronze, Hiram, filho de uma viúva da tribo de Neftali, cujo pai era de Tiro. Hiram era talentoso, cheio de inteligência e habilidade para fazer toda espécie de trabalhos em bronze. Apresentou-se ao rei Salomão e executou todos os seus trabalhos."

   Esse personagem acabou sendo tomado como uma figura de referência para a maçonaria e vale ressaltar que várias catedrais da Europa foram construídas na Idade Média por arquitetos com ligações com a maçonaria, não oficialmente, pois, tal ordem como é conhecida hoje em dia só veio á publico no séc. XVIII, eram ligados a confrarias esotéricas formadas por remanescentes dos Templários. Em especial várias referências á alquimia são encontradas nos adornos de muitas dessas catedrais, o que liga mais facilmente á ordem Rosa Cruz que se manifestou publicamente bem antes da maçonaria. Ilustração representando o Templo de Salomão:

   Não se sabe ao certo como era a forma desse templo, todas as representações são tentativas, o que se tem são as medidas que certamente são parâmetros muito especiais capazes de proporcionar a construção certas propriedades incomuns. O local da construção é altamente significafico: o Monte Moria é onde segundo a tradição (o Alcorão confirma) Abraão foi submetido a um teste por Deus quase matando seu filho Issac. Muitos povos do passado determinavam que seus templos fossem edificados em locais específicos e com formas específicas, pois, sabiam que essas referências outorgavam a obra características singulares. Léonard Ribordy em seu livro "Arquitetura e Geometria Sagradas Pelo Mundo" comenta vários exemplos de edificações antigas que foram feitas sob medidas e formas especiais:

   Talvez o mais eminente exemplo dessas ciências seja a pirâmide de Quéops do Egito (que não foi feita por Quéops), mas os mistérios referentes a essa e outras pirâmides são matéria para outros especialistas e muitas obras a respeito já foram publicadas para o público interessado.




  

sábado, 22 de fevereiro de 2020

ATUALIZAÇÃO DE "ANÁLISE SOBRE MITOS E O OCULTO"

   Olá a todos! Nessa postagem vou dar uma atualizada em alguns pontos do meu livro "Análise Sobre Mitos e o Oculto". 
   Já faz um tempinho, esse foi meu primeiro livro publicado em versão física lançado no final de 2017, portanto, já fazem três anos, ainda está disponível no site da Editora Anunaki: www.editoraanunaki.com.br:

   Nunca afirmei possuir o domínio total dos assuntos tratados na obra, sendo mais alguém curioso que foi buscar as fontes e o que parecia ter embasamento, mais para desmistificar do que para mistificar, (salvo algum conhecimento do oculto e prática que eu não publico) e como o trabalho de pesquisa nunca termina alguma coisa nova pode ser acrescentada, nada que vá mudar radicalmente o conteúdo já publicado. Aqui alguns pontos para atualizar a obra:

-Na terceira parte "Análise Sobre Demonologia" eu mencionei os chamados "rifai" comuns no mundo muçulmano, tipos especiais de exorcistas mas não exatamente exorcistas e sim "encantadores de serpentes e escorpiões" que atraem esses animais para fora das casas das pessoas através de seus métodos. É possível que seja realmente uma tradição antiga, mas, quando se refere a "rifai" então está se referindo especificamente a uma das ordens da sociedade sufi, os "rifai" são os "ululantes" do sufismo como Idries Shah esclarece em sua obra "Os Sufis" e o trabalho de "encantadores de serpentes e escorpiões" é uma das ocupações deles.

-Na quinta parte "Análise Sobre Licantropia" eu fiz um trecho intitulado "Guerra Sobrenatural" mencionando o caso de um homem da Livônia em 1692 que quando foi levado a julgamento como bruxo afirmou que não era bruxo e sim que combatia as bruxas se transformando em lobisomem. Mais especificamente ele era o que se chama "benandanti" e  o confronto com as bruxas acontecia astralmente e não fisicamente e esse confronto é aludido na capa do álbum "Wolves and Wiches" da banda Magica e nos trabalhos da banda Powerwolf. Não se tratando de um caso isolado é um caso bem comum e a tradição dos benandanti é muito bem relatada no livro "Os Andarilhos do Bem" do historiador italiano Carlo Ginzburg. No mais, vale recomendar "Werewolves and Dogmen" de Rosemary Ellen Guiley (grande pesquisadora do paranormal falecida a pouco tempo) e "Shapeshifters" de Nick Redfern que relata indivíduos que mudam de forma. É o que posso acrescentar de literatura sobre esse tema.

-Na sexta e última parte "O mito dos Imortais" no relato sobre Alexandre O Grande eu me servi principalmente de fontes indiretas para apresentar ao leitor essa faceta pouco conhecida do conquistador macedônio. Mas o mais coerente é indicar uma fonte direta o livro "Pseudo Calístenes-Vidas Y Hazañas de Alejandro de Macedonia" traduzido a partir de manuscritos antigos pelo helenista espanhol Carlos García Gual. Eu não possuía essa obra na época da publicação do meu livro só fui adquirir tempos depois. Não foi traduzido para o português mas não vejo problema em entender, o autor apresenta o conteúdo do que provavelmente é o mais sólido relato chamado "Pseudo Calístenes" pois existem vários, esse veio possivelmente de um escriba de Alexandria de meados de 300 d.C., além do conteúdo principal do manuscrito, Gual acrescenta muitas notas explicativas e em certo ponto trecho do "Apocalipse de Pseudo Metódio" que vincula as histórias de Alexandre ao mítico povo de Gog e Magog mencionado no Alcorão. Portanto é uma obra mais completa sobre o assunto, até cheguei a escrever um livro mais amplo sobre Alexandre incluindo os relatos dos biógrafos mais tradicionais junto as narrativas do Pseudo Calístenes (não publicado) mas a melhor fonte é essa. Algo mais sobre os imortais é que eu não falei sobre o mais famoso deles Saint Germain o que demandaria uma pesquisa mais minuciosa, além do personagem El Khidr "O homem verde" da tradição islãmica com quem Maomé teve contato e considerado o patrono da ordem sufi. 

   Esse livro é uma tentativa de abarcar em um lugar só o máximo de assuntos ocultos amplamente usados como fonte de obras de ficção como cinema, quadrinhos, animações, séries, livros e etc. mas de uma maneira a a oferecer ao leitor fontes e referências pra ele buscar por conta própria e tirar suas próprias conclusões sobre o que tem fundamento ou não. O link direto para o livro físico está á direita do blog.