AS RELAÇÕES DE MAOMÉ COM OS DJINNS
Olá a todos! Nessa postagem vou mencionar alguns relatos que falam sobre o contato que Maomé teve com os djinns direta ou indiretamente.
Antes de mais nada o leitor deve se familiarizar com os conceitos sobre o que é um djinn. "Djinn" é uma palavra árabe que significa "oculto" e se refere a um grupo específico de entidades conhecidas mesmo antes do islã, normalmente não se manifestam visivelmente por isso o nome. O conceito mais próximo de djinn que a maioria dos ocidentais conhece é o "gênio da lâmpada" das histórias do Aladim, pois djinn é o mesmo que gênio só que não tão acessível como o da história e na maioria das vezes bastante hostil a contato com humanos. Para ter uma ideia recomendo darem uma olhada em outro post desse mesmo blog intitulado "FADAS/DJINNS". Em se tratando de entidades na maioria das vezes invisíveis várias tradições reconhecem a existência de anjos, demônios (que são ex-anjos que abandonaram sua antiga condição) e até mesmo "dibuks" da tradição judaica que são entidades não físicas, mas, os djinns não se encaixam nessas categorias. O Alcorão diz que os anjos foram criados de luz, os homens do barro (matéria física) e os djinns de "fogo sem fumaça" ás vezes chamado de "fogo puríssimo", como no capítulo 15 Al Hirj versículos 26 a 27:
"E criamos o homem de argila seca, de barro modelável.
E os djinns, havíamo-los criado de fogo sem fumaça."
Também no capítulo 55 do Alcorão chamado "O Clemente" versículos 14 a 15:
"Criou o homem de barro semelhante ao do oleiro,
E criou os djinns de um fogo sem fumaça."
A categoria peculiar a qual pertence os djinns permite a eles agirem nos bastidores e frequentemente eles enganam as pessoas fazendo traquinagens e ás vezes se passando por almas de parentes mortos, anjos ou sendo identificados com demônios (no passado gostavam de se passarem por divindades pagãs e serem adorados). Os celtas os chamavam de fadas, na China, Coréia e Japão eram as kitsunes ou tennins. Não tem formas definidas e podem assumir a forma que quiserem, frequentemente de animais além de também poderem possuir humanos assim como os demônios fazem. Deve-se tomar cuidado para não interpretar trechos do Alcorão de maneira literal, quando ele diz que os anjos foram criados de luz não se trata da luz natural como a conhecemos mas sim de outro tipo de luz, assim como quando diz que os djinns foram criados de "fogo" não está se referindo ao fogo natural que aquece e queima a matéria mas sim de um tipo específico de fogo que nós poderíamos classificar como "plasma" um dos estados da matéria ou "energia". Eles tem um longo tempo de vida e livre arbítrio, mas, uma hora terão seus atos julgados, os melhores receberão recompensas de Deus e os piores condenados ao inferno assim como os humanos.
Maomé já conhecia os djinns antes do Alcorão ser revelado á ele, em especial ele tinha aversão aos indivíduos que se deixavam influenciar por eles os "possuídos por djinns" alguns eram levados até a insanidade por dar crédito á essas vozes, alguns poetas se beneficiavam da inspiração que os djinns lhes instigavam e muitos feiticeiros faziam um tipo de "parceria" com os djinns se beneficiando de seus atos e das informações que esses lhes traziam, á esses feiticeiros que o Alcorão se refere no capítulo 6 "O Gado" versículo 128:
"E no dia em que os congregará a todos, dirá: 'Djins, seduzistes os homens em grande número.' E os amigos dos djinns entre os homens dirão: 'Deus nosso, temo-nos usado mutualmente e agora atingimos o termo que nos fixaste.' Deus lhes dirá: 'O fogo é vossa morada. Nele permanecereis para todo o sempre salvo os que Deus quiser salvar'. Teu Senhor é sábio e conhecedor."
Na tradição árabe Salomão é reconhecido como sendo aquele que mais tirou proveito dos djinns usando-os para quase tudo, em especial na construção do templo. Não que fosse mérito próprio dele mas sim uma concessão especial de Deus á ele. Tradicionalmente os djinns quando são retratados na arte árabe ou persa o são com formas misturadas meio humanas meio animalescas. Nessa ilustração no estilo persa Salomão está no centro cercado de anjos que o serviam, homens, animais (Salomão conhecia a linguagem dos animais) e djins. Os djinns são retratados como grotescos e meio animais, eu fiz círculos em vermelho para destacá-los:
Nessa outra ilustração seguindo o mesmo estilo persa circulei os djinns em vermelho á direita:
Essa outra ilustração no estilo persa representa Salomão junto a rainha de Sabá com alguns anjos acima e destaquei os djinns com círculos vermelhos também:
Essa ilustração de um livro iraniano representa um djinn, note que foi representado montado em um animal semelhante a um elefante. Em manuais de demonologia é muito comum alguns demônios serem representados com formas animalescas ou montados em animais e bestas estranhas, os demônios de mais alta hierarquia costumam ser representados montados em bestas, não há muita diferença entre um djinn mau e um demônio:
Uma narrativa fala de uma vez em que Maomé quis mostrar djinns a alguns de seus seguidores que duvidavam da existencia deles. Apenas um teve coragem de o seguir. É descrito no livro "Os Vingativos Djinn":
"Em 'Dala'il-al-Nubuwaat', Imam Baihai afirma que o profeta Maomé certa vez disse a seus companheiros em Meca: 'Aqueles que dentre vós desejarem ver os djinn, devem me procurar hoje á noite'. Um de seus seguidores, Hadhrat Abdullah Ibn Masood, foi o único que apareceu, pois todos os outros tinham medo dos djinn. O profeta o levou a uma colina alta em Meca, em uma noite clara, porém sem luar. Maomé desenhou um círculo e disse a Ibn Masood que ele deveria ficar sentado e imóvel dentro do círculo, independentemente do que ocorresse. Hadhrat Abdullah Ibn Masood se sentou dentro da borda do círculo e começou a a recitar o Alcorão. De repente, uma grande quantidade de djinn apareceu de uma fumaça e cercou Maomé, que estava fora do círculo. Os djinn pareciam estar criando uma barreira em volta do profeta, prendendo-o.
Ibn Massod ouviu os djinn dizerem a Maomé: 'Que evidência você nos dá de que é o profeta?'
Maomé apontou para uma árvore próxima e disse: 'Vocês aceitarão minhas palavras se essa árvore der a evidência?'
O líder do grupo de djinn respondeu: 'Sim, aceitaremos'.
Então, o profeta chamou a árvore e ela caminhou em direção aos djinn. Era uma evidência de que Maomé de fato era o profeta escolhido por Alá. Os djinn ficaram tão impressionados que louvaram a Alá e seu profeta, e se converteram ao islã."
Desde que passou pela experiencia da caverna de Hira, Maomé teve seus sentidos sutis despertados e então passou a ter a capacidade de enxergar entidades do plano sutil como anjos, demônios e djinns, ele os reconhecia mesmo quando assumiam outras formas. Na tradição muçulmana acredita-se que os djinns assumam ás vezes a forma de serpentes, cães ou gatos. É muito mais frequente os djinns serem identificados com a forma de cães (em especial cães negros) no mundo islâmico. Maomé particularmente não gostava de cães e na comunidade muçulmana os cães são considerados sujos e criaturas desprezíveis. Quando estão fazendo uma das orações diárias se um cão passar por perto se considera que aquela prece foi "anulada". Ainda hoje muitos muçulmanos detestam cães possivelmente por causa dessa associação que eles fazem dos cães com os djinns. Por outro lado Maomé teve realmente um gato de estimação e ele considerava os gatos "úteis". Por isso os muçulmanos ainda nos dias de hoje costumam gostar de gatos. Nas Síria, país devastado pelas guerras, muitas casas abandonadas se tornaram abrigo para gatos vadios porque seus donos morreram. Em Istambul na Turquia os gatos estão por toda parte pelas ruas, tão á vontade como as vacas na Índia.
No passado, muito mais do que hoje em dia os djinns interferiam na vidas das pessoas muito provavelmente porque nós hoje estamos cercados de eletricidade e aparelhos eletrônicos que emitem campo eletro-magnètico (que afeta negativamente os djinns) e ferro que os djinns detestam. Mas nas cidades interioranas com menos interferência de aparelhos eletrônicos muitas histórias insólitas ainda são comentadas de intervenção de entidades não identificadas. No passado andar solitário por lugares ermos poderia tornar os caminhantes alvos fáceis para a traquinagem dos djinns. No volume 1 das "Mil e Uma Noites" de Mamede Mustafa Jarouche há um anexo que menciona uma história que Maomé contou a Aisha a respeito de um sujeito que saiu á noite e foi capturado pelos djinns, veja:
"Eu tive notícia de que Aisha pediu ao profeta -que a paz e as preces de Deus estejam com ele! 'Ó profeta de Deus, conte-me a história de Hurafa'. Então o profeta -Que a paz e as preces de Deus estejam com ele! Disse:
Deus tenha piedade da alma de Hurafa, que era um homem bom. Ele me contou que, certa noite, saiu devido a uma necessidade qualquer, e, em meio a caminhada, topou com três gênios que o aprisionaram. Um deles disse: 'Vamos perdoá-lo', o segundo disse: 'Vamos matá-lo' o terceiro disse: 'Vamos escravizá-lo'. Enquanto eles discutiam sobre o que fazer com ele, surgiu um homem que lhes disse: 'A paz esteja convosco', e eles responderam: 'Convosco esteja a paz'. O homem perguntou: 'O que são vocês?', e eles responderam: 'Somos da raça dos gênios. Capturamos este homem e estamos discutindo o que fazer com ele'. O homem lhes disse: 'Se acaso eu lhes contar uma história espantosa, vocês me dariam sociedade nele?' Disseram: 'Sim'. Então ele disse (...)."
O tradutor Jarouche menciona que a história em que um mercador é salvo de ser eliminado por um gênio pela narrativa de acontecimentos fantásticos contados por outros indivíduos possivelmente teve origem a partir desse relato, baseado nele. Quando li esse caso me lembrei de outro semelhante contado no Malleus Maleficarum o "Martelo das Feiticeiras" de Kramer e Sprengler:
"Há também uma história dos três companheiros que caminhavam por uma estrada quando dois deles foram subitamente fulminados por um raio. O terceiro ficou apavorado ao ouvir vozes no ar, a dizer: 'Vamos fulminá-lo também.' Em seguida ouviu outra voz retorquir: 'Não podemos, pois que hoje ele ouviu a sentença: 'O Verbo se fez carne.' Compreedeu então que fora salvo porque naquele dia assistira á Missa e, ao final dela, as palavras de S. João, no Evangelho 'No princípio era o Verbo'(...)."
Deduz-se daí que esse trecho do Evangelho em particular parece conferir um tipo de proteção. No Alcorão também certos trechos são creditados como tendo efeito protetor quando recitados ou escritos.
Embora até agora eu tenha mencionado apenas ações negativas dos djinns e atributos negativos, (os muçulmanos costumam acreditar que os djinns frequentam lugares normalmente sujos como banheiros por exemplo) é bom deixar claro que nem todos são maus. Eles tem livre arbítrio assim como nós, existem djinns bons e djinns depravados. Um trecho de Hadith (coletâneas de narrativas relacionadas a Maomé, sua vida e seus atos) é citado em "Os Vingativos Djinn":
"O mensageiro de Alá disse; 'Não vos impregneis de imundície nem de ossos, pois é o alimento de vossos irmãos dentre os djinn.'"
Mas porque Maomé disse que ossos são alimentos dos djinns, acaso os djinns que são seres "espirituais" comem ossos? Não, isso demanda uma explicação. Quando querem os djinns podem realmente assumir uma forma física e comer alimentos assim como nós para sentir o gosto. Mas eles não tem necessidade disso. Como são seres feitos de um tipo de "energia" é de um tipo de energia que eles se alimentam. Quando indivíduos fazem oferendas de alimentos á entidades, na maioria das vezes as entidades não comem os alimentos, eles ficam expostos até apodrecer. Mas eles se alimentam da "energia" presente nessas oferendas de alimentos, em especial a intenção que as pessoas põem nessas oferendas. Uma narrativa diz que certa vez Maomé foi convidado por djinns bons, por isso ele levou ossos de animais á eles como um tipo de presente. Os djinns não tem necessidade de ossos para comer. Mas toda matéria orgânica emana um tipo de energia, o que matérias inorgânicas como vidro ou metais não tem. É a energia orgânica presente nos ossos (e qualquer outra matéria orgânica) que os djinns absorvem, por isso a recomendação de Maomé. Espero ter elucidado algumas narrativas a respeito do contato direto ou indireto de Maomé com os djinns.
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