RESENHA DE FILMES-4
Olá pessoal! Nesse post vou fazer uma resenha explicando certos detalhes de ocultismo do filme "Warlock" de 1989. Um dos posteres:
Eu já havia planejado fazer uma resenha desse filme a muito tempo atrás já tinha até armazenado as fotos nos meus arquivos, porém, hesitei em fazer a resenha porque muito do conteúdo desse filme está relacionado a magia negra (magia negra real e pesada, não "wicca") e eu sempre evito explicar detalhes sobre esses assuntos de maneira aberta assim facilmente por questões éticas, mas, finalmente resolvi fazê-lo guardado as devidas considerações e evitando divulgar o que eu considero mais "indevido".
"Warlock" é um filme de temática sobrenatural norte americano lançado em 1989 e dirigido por Steve Miner que se destacou em outras produções de filmes e séries como Sexta Feira XIII, e Smallville. Antes de mais nada é preciso explicar que a palavra "Warlock" vem de dialeto celta e significa algo como "quebrador de promessas ou juramentos" se refere a um mago que é inescrupuloso e passa por cima de todos em busca de poder prejudicando os outros.
O filme começa mostrando uma torre em Massashusetts 1691 onde um grupo de magistrados tenta convencer o bruxo (warlock) interpretado pelo ator Julian Sands que está acorrentado a confessar seus crimes antes de ser executado:
Ele afugenta seus acusadores com seu olhar hipnótico:
Esse olhar penetrante chamado de "fascinação" é uma técnica que leva ao controle de outros e pode fazer outros a ver imagens fantasiosas. Logo o clima remete a caça ás bruxas de 1692 em Salém sobre o qual falei brevemente no post desse mesmo blog intitulado "RESENHA DE SÉRIES-1" falando do seriado "Salém". Para entender o contexto é recomendável ao leitor que leia o livro "Malleus Maleficarum" o "Martelo das Feiticeiras" escrito pelo inquisidor alemão Henrich Kraemer. Entra em cena Redfern interpretado pelo ator sueco Richard E. Grant. cuja esposa foi estuprada e assassinada pelo warlock e confronta-o que parece confiante mesmo prestes a ser executado. Em seguida aparece uma tempestade e uma nuvem negra (representação de um demônio):
O símbolo do pentagrama estilizado na porta se apaga e ambos desaparecem. Warlock é lançado pelo demônio a quem servia em Los Angeles ano 1988 na casa onde moram Kassandra (interpretada pela atriz em belíssima forma Lori Singer, que também é violoncelista) e um amigo gay. Warlock acorda e Kassandra vai trabalhar como garçonete. Warlock pela manhã se espanta com a data 1988 no jornal e pede um anel ao amigo gay de Kassandra que recusa e ele então morde a língua do cara e joga na frigideira tomando o anel! Warlock vai até uma loja de artigos esotéricos estilo "nova era" e pede a médium para encarnar um espírito para ele chamado Zeniel (acho que é isso não ouvi direito na dublagem, mas, típico nome de anjo/demônio terminado com o prefixo "El", "Deus" em hebraico ou "de Deus" como muitos nomes de anjos ou ex-anjos). A mulher estava acostumada a encenar "sessões espíritas" falsas mas acabou encarnando a verdadeira entidade Zeniel pelo que se percebe na sua mudança de rosto e voz como nas verdadeiras possessões demoníacas:
Warlock pergunta a Zeniel encarnado na médium porque ele foi trazido aquela época e ele responde que foi para reunir as três partes de seu "livro sagrado" o "Grande Grimório". Para entender o conceito do que é um grimório recomendo darem uma olhada em outro post desse mesmo blog intitulado "OS GRIMÓRIOS" aparentemente o conceito foi baseado no "Gran Grimoire" que existe de verdade e foi escrito por satanistas do séc. XIX. No contexto desse filme esse grimório conteria o "verdadeiro nome de Deus" que se for dito de trás para frente pode desfazer toda a criação. Esse conceito do poder do nome é comum na demonologia em geral e de recitar de trás pra frente também é bem conhecido dos ocultistas. A mulher termina a sessão dizendo para seus olhos guiarem ele. Originalmente a ideia dos produtores era fazer com que os olhos do demônio surgissem dos seios da mulher, mas decidiram ser da face mesmo (macabro!) e warlock arranca os olhos dela para servir de bússola indicando onde estão as partes do livro.
Redfern surge na casa e pergunta a Kassandra se warlock sangrou, ela indica o conteúdo do aspirador de pó e ele acha um caco de vidro com sangue dele. Redfern pega o pouco de sangue de warlock e põe em um tipo de bússola para caçar bruxa(os) quanto mais lentamente a agulha gira mais longe está o alvo:
Logo de cara os ocultistas mais ou menos perspicazes notarão os símbolos ao redor do círculo da bússola são de pantáculos da "Clavícula de Salomão" usados e abusados por produtores como se nota no seriado "Sobrenatural". Também se nota semelhança dessa "bússola" de caça ás bruxas com o "anel do milênio" de Bakura do anime Yu-Gi-Oh que também tem função de bússola veja:
E com o objeto chamado "vira tempo" de Harry Potter embora eu não saiba como tal objeto funcione em Harry Potter conheço pouco dessa série de livros/filmes:
A ideia de usar sangue do alvo é "magia simpática" que usa a forma, material, ou objeto do alvo já o formato do tal objeto eu prefiro me resguardar de dar explicações mais detalhadas. Redfern é levado por policiais e Kassandra se prepara para sair quando percebe que a bússola de caça ás bruxas move a agulha. Warlock volta á casa e como os "olhos do demônio" apontam para uma antiga mesa ele quebra-a encontrando páginas do Grande Grimório. Warlock arranca uma pulseira de Kassandra recitando certo encantamento que a faz envelhecer duas décadas por dia muito mais rápido que qualquer pessoa.
Kassandra vai até a delegacia e paga a fiança de Redfern se resignando a tentar seguir warlock para rever sua puseira e reverter o feitiço. Redfern leva sal e coloca em seu chicote (a ideia de sal contra criaturas sobrenaturais e exageradamente abusada por produtores como no seriado Sobrenatural, mas, tem fundamento como o "sal consagrado" usado antigamente nas igrejas católicas e mencionado no livro Malleus Maleficarum). Warlock sai andando por uma região desértica e encontra um menino em um balanço, pergunta porque ele não foi á igreja, ele responde que seu pai não acredita em religião.
Warlock diz que um bruxo não pode entrar numa igreja e o menino pergunta onde está sua vassoura para voar, ele reponde que não precisa de vassoura para voar (warlock mata o menino e cozinha gordura dele para beber! Poções á base de fragmentos do corpo humano são comuns na magia negra nesse caso a ideia é usar a gordura de uma criança não batizada para "voar" no filme fisicamente mas na realidade é mais provável que se trate da "viagem astral". Como mais uma curiosidade macabra relacionada a esse filme em 1995 um rapaz de 14 anos pensava em se suicidar quando supostamente ouviu a voz de um espírito dizendo para matar outro e ele influenciado pelo filme matou outra criança de oito anos e cozinhou partes do corpo para beber a gordura dele). Warlock entra em um celeiro de uma fazenda e encontra a segunda parte do Grande Grimório. Ele foge mas Kassandra recupera sua puseira e desfaz o feitiço que a envelhecia. Eles viajam de avião para Boston e warlock os segue no trilho de pouso do avião. Lá, warlock encontra a terceira parte de Grande Grimoiro em um cemitério na tumba de Redfern. Warlock não entrar na parte "sagrada" do terreno do cemitério mas ameaça matar Kassandra para forçar Redfern a lhe dar as páginas restantes do Grande Grimório. Quando ele finalmente reúne as três partes começa a se formar o "nome de Deus" Kassandra usa sua seringa de injetar insulina para injetar água com sal em warlock que morre. Redfern volta para sua linha temporal. O filme termina com Kassandra enterrando o Grande Grimório em um lago de sal Boneville Salt Flats.
Mais alguns elementos a serem mencionados sobre esse filme é que houve duas continuações e um jogo lançado em 1995 para Supernintendo e Mega Drive esse baseado no segundo filme cuja trama gira em torno de um jovem aprendiz de druída e pedras rúnicas que prendem warlock. Também vale mencionar a possível influência do filme "O Exterminador do Futuro" de 1984 que causou grande impacto na cultura pop em geral apresenta a ideia de viagem no tempo tanto que o personagem Cable da Marvel ligado ao universo de X-Men foi baseado no Exterminador. Outro eco da trama pode ser visto em dois episódios da série Smallville onde Isabael encarnação passada de Lana lança um feitiço antes de ser queimada e consegue voltar no corpo da Lana da era atual junto com as outras bruxas:
Por coincidência Jensen Ackles que viria a interpretar Dean na série Sobrenatural fez papel de namorado da Lana e ajudou a caçar a bruxa Isabael:
Encerrando, o filme é simplista e tem efeitos bem toscos devido ao baixo orçamento, mas quanto aos significados ocultistas espero ter esclarecido aos leitores do blog.
Blog dedicado a divulgação das obras e pesquisas relacionadas a ocultismo de Ricardo Dias de Oliveira
segunda-feira, 31 de dezembro de 2018
terça-feira, 28 de agosto de 2018
PLANO ASTRAL/DESDOBRAMENTO/PROJEÇÃO DE CONSCIÊNCIA
Olá pessoal! Nesse post vou falar sobre uma técnica conhecida como projeção de consciência ou desdobramento e o plano astral.
Essa técnica consiste em o adepto projetar sua consciência para o plano sutil de nossa realidade, o plano astral. É uma técnica de alto nível e é ensinada e praticada em praticamente todos os grupos esotéricos. Pode-se afirmar que quase todo mundo já teve alguma experiência semelhante, porém dormindo e sem controle, depois quando acorda acaba pensando que foi apenas um sonho. Alguns adeptos mais avançados são capazes de realizar essa técnica conscientes e comprovadamente já foram vistos em dois lugares ao mesmo tempo, fenômeno conhecido como "bilocação", adeptos como Gurdjieff por exemplo.
Como se trata de uma técnica de alto nível, pode ser considerada uma "faca de dois gumes". O adepto pode realmente projetar sua consciência para lugares distantes e ver tudo que acontece longe (embora seja difícil reter em detalhes a lembrança de tais experiências), mas também corre o risco de sofrer algum ataque de outro adepto mal intencionado (mago negro) ou entidade negativa que habita o plano astral. Embora tal técnica seja bem conhecida de grupos esotéricos do Oriente, a projeção astral não pertence exclusivamente a grupos budistas ou hinduístas, é uma técnica que vem sendo praticada no mundo todo a milhares de anos embora nem mesmo os que a praticam saibam explicar direito como funciona como evidencia os relatos das bruxas da Idade Média, nos casos registrados da Inquisição muitas bruxas diziam que "voavam" á noite para lugares distantes, algumas até mesmo diziam que voavam acompanhadas de entidades pagãs como a deusa Diana (frequentemente associada a bruxaria e cultos á lua) mas na verdade elas estavam realizando a projeção astral porém nem sempre compreendiam o fenômeno que lhes acontecia. Outro caso semelhante da Idade Média é o dos chamados "benandanti" que significa "bons caminhantes" em italiano, essa tradição é mais conhecida no nordeste da Itália porém ocorre em toda Europa a muitos anos possivelmente desde o tempo que os povos celtas habitavam a Europa. Falei sobre os benandanti aqui nesse mesmo blog no post de título "LOBISOMENS". Os benandanti eram pessoas que nasciam envoltos em uma coifa, uma membrana semelhante a uma cápsula. Essas pessoas tinham tendencias mediúnicas, por isso em determinados momentos de suas vidas eram visitadas á noite por um guia, geralmente o líder do grupo benandanti e assim viajavam para o plano astral, lá eles decidiam se queriam se tornar benandanti ou bruxos. Os dois grupos se enfrentavam em determinados momentos como troca de estações e se os benandanti vencessem a colheita seria boa, se as bruxas vencessem as colheitas seriam ruins. A associação entre benandanti e lobisomens ocorre porque alguns podem realmente assumir a forma de lobisomens no plano astral em suas lutas contra as bruxas, tais tradições são bem conhecidas na Europa Central.
Aos interessados em praticar tal técnica há alguns livros recomendáveis como "Auto Defesa Psíquica" de Dion Fortune e "Sana Khan-Um Mestre no Além" do autor brasileiro Luiz Roberto Mattos que foi publicado pela Editora Anunaki:
Em relação ao livro "Autodefesa Psíquica" de Dion Fortune, ela registrou alguns relatos sobre confrontos astrais (ou psíquicos) contra outros adeptos. Ela disse que é muito comum vários ocultistas realizarem a projeção astral em determinadas épocas e se encontrarem nesse plano astral. Um dos relatos mais interessantes dela é sobre seu confronto com Moina Mathers, viúva de Mac Gregor Mathers um dos fundadores da Golden Dawn, ela diz que Moina (que não foi chamada pelo nome mas por uma alcunha) tinha a habilidade de projetar um enorme gato e que certa moça que aparentemente foi sacrificada em um ritual apresentou arranhões como o desse gato no corpo. Ela também cita que há semelhanças entre a projeção astral e o chamado "sonho lúcido". Realmente há muitas semelhanças, no sonho lúcido é como se o praticante pudesse intervir conscientemente em um tipo de "mundo onírico" moldando a realidade a ser experimentada. Alejandro Jodorowski em seu livro "Psicomagia" narra muitas experiências interessantes de sonho lúcido que ele viveu. Franz Von Bardon (1909-1958), também conhecido como Frabato em seu livro "Magia Prática" fala sobre viajem astral e também menciona o "plano mental" que é sutilmente diferente do plano astral. Outra técnica semelhante a projeção astral é a técnica típica da cabala conhecida como "merkabah". Na merkabah o adepto projeta sua consciência para os planos espirituais superiores (vulgarmente conhecido como "céu" pelas religiões) ouve as conversas dos anjos e outros residentes desse plano e depois retornam conscientemente para nosso plano material. É a mais secreta técnica da cabala e uma das mais perigosas, muitos cabalistas morreram jovens por causa dela, pois, qualquer erro pode ser fatal e o adepto ter seu corpo astral atacado pelos anjos (então o corpo do adepto morre com diágnóstico de causa sendo um ataque cardíaco).
Na série animada X-Men dos anos 90 o professor Xavier fazia várias "viagens astrais". Nessa série os mutantes capazes de moverem objetos com a mente e penetrarem na mente dos outros eram chamados de mutantes "psíquicos", porém, percebe-se que na verdade tinham características que nós hoje em dia atribuímos aos chamados médiuns. Algumas dessas batalhas astrais memoráveis do professor Xavier foi contra a entidade conhecida como Rei das Sombras. No contexto da animação, o Rei das Sombras é uma entidade do plano astral que existe desde o princípio dos tempos com grande ódio da humanidade e que tem facilidade de controlar outras pessoas com poderes psíquicos. Em certo ponto da história o Rei das Sombras assumiu uma forma física de Amahl Farouk mas ele pode assumir várias formas e até possuir os corpos de outras pessoas como nas possessões demoníacas. Uma imagem do Rei das Sombras atravessando o "plano astral" para entrar em nossa realidade:
Uma forma comum dele como uma cabeça flutuante:
Em uma animação mais recente "Wolverine e os X-men" o Rei das Sombras foi retratado com uma forma mais egípcia:
Em um confronto com o professor Xavier o Rei das Sombras assumiu o corpo dele, como os demônios fazem nas posessões:
O plano astral pode realmente ser muito perigoso para principiantes por ser habitado por entidades negativas, por isso alguns praticantes realizam a projeção acompanhados por algum guia como no caso do livro "Sana Khan" de Luiz Roberto. Sobre a merkabah, Arieh Kaplan em seu livro "Meditação e Cabalá" diz que é recomendado ao iniciante realizar essa técnica acompanhado de outro adepto menos avançado, pois, depois que os dois retornam as suas consciências a nosso plano material o adepto menos avançado costuma ter mais facilidade de se lembrar dos detalhes da experiência e assim o adepto evita crer que está sofrendo algum tipo de delírio. Como eu já disse, essa é uma técnica de auto nível e por isso tem certos riscos.
Olá pessoal! Nesse post vou falar sobre uma técnica conhecida como projeção de consciência ou desdobramento e o plano astral.
Essa técnica consiste em o adepto projetar sua consciência para o plano sutil de nossa realidade, o plano astral. É uma técnica de alto nível e é ensinada e praticada em praticamente todos os grupos esotéricos. Pode-se afirmar que quase todo mundo já teve alguma experiência semelhante, porém dormindo e sem controle, depois quando acorda acaba pensando que foi apenas um sonho. Alguns adeptos mais avançados são capazes de realizar essa técnica conscientes e comprovadamente já foram vistos em dois lugares ao mesmo tempo, fenômeno conhecido como "bilocação", adeptos como Gurdjieff por exemplo.
Como se trata de uma técnica de alto nível, pode ser considerada uma "faca de dois gumes". O adepto pode realmente projetar sua consciência para lugares distantes e ver tudo que acontece longe (embora seja difícil reter em detalhes a lembrança de tais experiências), mas também corre o risco de sofrer algum ataque de outro adepto mal intencionado (mago negro) ou entidade negativa que habita o plano astral. Embora tal técnica seja bem conhecida de grupos esotéricos do Oriente, a projeção astral não pertence exclusivamente a grupos budistas ou hinduístas, é uma técnica que vem sendo praticada no mundo todo a milhares de anos embora nem mesmo os que a praticam saibam explicar direito como funciona como evidencia os relatos das bruxas da Idade Média, nos casos registrados da Inquisição muitas bruxas diziam que "voavam" á noite para lugares distantes, algumas até mesmo diziam que voavam acompanhadas de entidades pagãs como a deusa Diana (frequentemente associada a bruxaria e cultos á lua) mas na verdade elas estavam realizando a projeção astral porém nem sempre compreendiam o fenômeno que lhes acontecia. Outro caso semelhante da Idade Média é o dos chamados "benandanti" que significa "bons caminhantes" em italiano, essa tradição é mais conhecida no nordeste da Itália porém ocorre em toda Europa a muitos anos possivelmente desde o tempo que os povos celtas habitavam a Europa. Falei sobre os benandanti aqui nesse mesmo blog no post de título "LOBISOMENS". Os benandanti eram pessoas que nasciam envoltos em uma coifa, uma membrana semelhante a uma cápsula. Essas pessoas tinham tendencias mediúnicas, por isso em determinados momentos de suas vidas eram visitadas á noite por um guia, geralmente o líder do grupo benandanti e assim viajavam para o plano astral, lá eles decidiam se queriam se tornar benandanti ou bruxos. Os dois grupos se enfrentavam em determinados momentos como troca de estações e se os benandanti vencessem a colheita seria boa, se as bruxas vencessem as colheitas seriam ruins. A associação entre benandanti e lobisomens ocorre porque alguns podem realmente assumir a forma de lobisomens no plano astral em suas lutas contra as bruxas, tais tradições são bem conhecidas na Europa Central.
Aos interessados em praticar tal técnica há alguns livros recomendáveis como "Auto Defesa Psíquica" de Dion Fortune e "Sana Khan-Um Mestre no Além" do autor brasileiro Luiz Roberto Mattos que foi publicado pela Editora Anunaki:
Em relação ao livro "Autodefesa Psíquica" de Dion Fortune, ela registrou alguns relatos sobre confrontos astrais (ou psíquicos) contra outros adeptos. Ela disse que é muito comum vários ocultistas realizarem a projeção astral em determinadas épocas e se encontrarem nesse plano astral. Um dos relatos mais interessantes dela é sobre seu confronto com Moina Mathers, viúva de Mac Gregor Mathers um dos fundadores da Golden Dawn, ela diz que Moina (que não foi chamada pelo nome mas por uma alcunha) tinha a habilidade de projetar um enorme gato e que certa moça que aparentemente foi sacrificada em um ritual apresentou arranhões como o desse gato no corpo. Ela também cita que há semelhanças entre a projeção astral e o chamado "sonho lúcido". Realmente há muitas semelhanças, no sonho lúcido é como se o praticante pudesse intervir conscientemente em um tipo de "mundo onírico" moldando a realidade a ser experimentada. Alejandro Jodorowski em seu livro "Psicomagia" narra muitas experiências interessantes de sonho lúcido que ele viveu. Franz Von Bardon (1909-1958), também conhecido como Frabato em seu livro "Magia Prática" fala sobre viajem astral e também menciona o "plano mental" que é sutilmente diferente do plano astral. Outra técnica semelhante a projeção astral é a técnica típica da cabala conhecida como "merkabah". Na merkabah o adepto projeta sua consciência para os planos espirituais superiores (vulgarmente conhecido como "céu" pelas religiões) ouve as conversas dos anjos e outros residentes desse plano e depois retornam conscientemente para nosso plano material. É a mais secreta técnica da cabala e uma das mais perigosas, muitos cabalistas morreram jovens por causa dela, pois, qualquer erro pode ser fatal e o adepto ter seu corpo astral atacado pelos anjos (então o corpo do adepto morre com diágnóstico de causa sendo um ataque cardíaco).
Na série animada X-Men dos anos 90 o professor Xavier fazia várias "viagens astrais". Nessa série os mutantes capazes de moverem objetos com a mente e penetrarem na mente dos outros eram chamados de mutantes "psíquicos", porém, percebe-se que na verdade tinham características que nós hoje em dia atribuímos aos chamados médiuns. Algumas dessas batalhas astrais memoráveis do professor Xavier foi contra a entidade conhecida como Rei das Sombras. No contexto da animação, o Rei das Sombras é uma entidade do plano astral que existe desde o princípio dos tempos com grande ódio da humanidade e que tem facilidade de controlar outras pessoas com poderes psíquicos. Em certo ponto da história o Rei das Sombras assumiu uma forma física de Amahl Farouk mas ele pode assumir várias formas e até possuir os corpos de outras pessoas como nas possessões demoníacas. Uma imagem do Rei das Sombras atravessando o "plano astral" para entrar em nossa realidade:
Uma forma comum dele como uma cabeça flutuante:
Em uma animação mais recente "Wolverine e os X-men" o Rei das Sombras foi retratado com uma forma mais egípcia:
Em um confronto com o professor Xavier o Rei das Sombras assumiu o corpo dele, como os demônios fazem nas posessões:
O plano astral pode realmente ser muito perigoso para principiantes por ser habitado por entidades negativas, por isso alguns praticantes realizam a projeção acompanhados por algum guia como no caso do livro "Sana Khan" de Luiz Roberto. Sobre a merkabah, Arieh Kaplan em seu livro "Meditação e Cabalá" diz que é recomendado ao iniciante realizar essa técnica acompanhado de outro adepto menos avançado, pois, depois que os dois retornam as suas consciências a nosso plano material o adepto menos avançado costuma ter mais facilidade de se lembrar dos detalhes da experiência e assim o adepto evita crer que está sofrendo algum tipo de delírio. Como eu já disse, essa é uma técnica de auto nível e por isso tem certos riscos.
sexta-feira, 13 de julho de 2018
OS CHIFRES DE MOISÉS
Olá pessoal! Nesse post vou falar sobre um assunto que não tem muito a ver com ocultismo, mas sim uma interpretação duvidosa de certa passagem bíblica que acabou influenciando as representações artísticas da imagem de Moisés.
Abordar sobre a vida e o conhecimento iniciático de Moisés constitui tarefa complexa mas muito interessante e talvez eu o faça futuramente no meu outro blog dedicado ao esoterismo judaico: https://esoterismojudaico.com.br
Moisés é reconhecido como o homem que liderou os israelitas em sua saída do Egito, manifestou diversos prodígios, instruiu eles na manufatura de diversos "artefatos", nos ritos e dogmas do que deveria ser a religião judaica e deu a eles o "livro sagrado" a Torá, inclusive os rabinos falam de certos conhecimentos que não estão presentes na Torá escrita, que eles chamam de "Torá oral". Talvez muitos já tenham notado algo incomum nas representações artísticas de Moisés especialmente da Idade Média e Renascença, ele costumava ser retratado com chifres, veja algumas pinturas e esculturas:
Inclusive na famosa escultura representando Moisés feita por Michelangelo a estátua possui um par de chifres veja:
Imagem aproximada da mesma, note os chifres:
Em algumas representações os artistas colocam como se fossem dois "raios de luz" como na primeira imagem, em outros casos eles retratam duas mechas dos cabelos torcidos para cima como chifres como na quinta imagem de cima para baixo, outras vezes eles retratam explicitamente e sem deixar margem para dúvidas dois chifres em Moisés. Qual é a razão disso? A resposta é uma interpretação de uma passagem bíblica. O primeiro a verter o conteúdo da Torá em sua língua original para o latim foi São Jerônimo (347 d.C-420 d.C). Já havia a versão chamada "Septuaginta" tradução da Torá para o grego, mas o grego era considerado na época a língua dos eruditos e o latim era uma língua mais "comercial". A versão de São Jerônimo em latim ficou conhecida como "Vulgata". O trecho está no livro de Éxodo cap. 34 versículos 29 a 30 veja:
"Moisés desceu do monte Sinai, tendo nas mãos as duas tábuas da lei. Descendo do monte, Moisés não sabia que a pele de seu rosto se tornara brilhante, durante a sua conversa com o Senhor. E, tendo-o visto Aarão e todos os israelitas, notaram que a pele de seu rosto se tornara brilhante e não ousaram aproximar-se dele."
Em razão de suas conferências com Deus a pele do rosto de Moisés se tornou luminosa e os israelitas temeram isso, Moisés passou a usar um véu quando voltava para eles para que eles não temessem esse fenômeno. Acontece que a palavra "raios" pode ser traduzida também como "chifres" em hebraico, a palavra "karnayin" composta das letras hebraicas "caf", "resh", "num", "iod" e "mem". Portanto, ao invés de "luzes" irradiando da face de Moisés foi traduzido como "chifres" e assim esses artistas antigos retrataram ele com chifres. Claro que não são totalmente descabidas essas representações dentro do ponto de vista da simbologia. Os chifres eram considerados em muitas tradições antigas como emblemas de autoridade e realeza, um atributo divino, nota-se isso especialmente na tradição da antiga Suméria. Quando os sacerdotes de Siwa confirmaram a ascendência "divina" de Alexandre, o Grande, com o deus Amon ele ficou orgulhoso em poder retratar a si mesmo usando uma tiara com dois chifres de carneiro (atributos de Amon) em moedas de prata. As atribuições "negativas" de chifres são coisa do imaginário ocidental recente oriundo da associação que a Igreja Católica fez da imagem do Diabo com chifres.
Outra referência obscura de uma imagem com chifres que eu creio que muitos ocultistas não devem ter dado muita importância é a representação do primeiro pantáculo do sol das traduções da "Clavícula de Salomão" feitas por Mac Gregor Mathers (em relação aos grimórios recomendo darem uma olhada em outro post desse mesmo blog intitulado "OS GRIMÓRIOS"). Nas descrições desse pantáculo é dito que ele representa o "anjo da face" ou "príncipe da face" Metraton. Entretanto, é muito mais lógico crer que essa seja uma representação de Moisés, que, como foi explicado costumava ser retratado com chifres na arte antiga devido a uma interpretação ambígua da Bíblia em latim. Veja o primeiro pantáculo do sol presente nas várias versões da "Clavícula de Salomão" atuais:
É um detalhe que deve ter passado despercebido por muitos que inclusive praticam os rituais cerimoniais desse grimório, mas, vale a pena mencionar. Assim fica explicado a razão dessas representações de Moisés.
Olá pessoal! Nesse post vou falar sobre um assunto que não tem muito a ver com ocultismo, mas sim uma interpretação duvidosa de certa passagem bíblica que acabou influenciando as representações artísticas da imagem de Moisés.
Abordar sobre a vida e o conhecimento iniciático de Moisés constitui tarefa complexa mas muito interessante e talvez eu o faça futuramente no meu outro blog dedicado ao esoterismo judaico: https://esoterismojudaico.com.br
Moisés é reconhecido como o homem que liderou os israelitas em sua saída do Egito, manifestou diversos prodígios, instruiu eles na manufatura de diversos "artefatos", nos ritos e dogmas do que deveria ser a religião judaica e deu a eles o "livro sagrado" a Torá, inclusive os rabinos falam de certos conhecimentos que não estão presentes na Torá escrita, que eles chamam de "Torá oral". Talvez muitos já tenham notado algo incomum nas representações artísticas de Moisés especialmente da Idade Média e Renascença, ele costumava ser retratado com chifres, veja algumas pinturas e esculturas:
Inclusive na famosa escultura representando Moisés feita por Michelangelo a estátua possui um par de chifres veja:
Imagem aproximada da mesma, note os chifres:
Em algumas representações os artistas colocam como se fossem dois "raios de luz" como na primeira imagem, em outros casos eles retratam duas mechas dos cabelos torcidos para cima como chifres como na quinta imagem de cima para baixo, outras vezes eles retratam explicitamente e sem deixar margem para dúvidas dois chifres em Moisés. Qual é a razão disso? A resposta é uma interpretação de uma passagem bíblica. O primeiro a verter o conteúdo da Torá em sua língua original para o latim foi São Jerônimo (347 d.C-420 d.C). Já havia a versão chamada "Septuaginta" tradução da Torá para o grego, mas o grego era considerado na época a língua dos eruditos e o latim era uma língua mais "comercial". A versão de São Jerônimo em latim ficou conhecida como "Vulgata". O trecho está no livro de Éxodo cap. 34 versículos 29 a 30 veja:
"Moisés desceu do monte Sinai, tendo nas mãos as duas tábuas da lei. Descendo do monte, Moisés não sabia que a pele de seu rosto se tornara brilhante, durante a sua conversa com o Senhor. E, tendo-o visto Aarão e todos os israelitas, notaram que a pele de seu rosto se tornara brilhante e não ousaram aproximar-se dele."
Em razão de suas conferências com Deus a pele do rosto de Moisés se tornou luminosa e os israelitas temeram isso, Moisés passou a usar um véu quando voltava para eles para que eles não temessem esse fenômeno. Acontece que a palavra "raios" pode ser traduzida também como "chifres" em hebraico, a palavra "karnayin" composta das letras hebraicas "caf", "resh", "num", "iod" e "mem". Portanto, ao invés de "luzes" irradiando da face de Moisés foi traduzido como "chifres" e assim esses artistas antigos retrataram ele com chifres. Claro que não são totalmente descabidas essas representações dentro do ponto de vista da simbologia. Os chifres eram considerados em muitas tradições antigas como emblemas de autoridade e realeza, um atributo divino, nota-se isso especialmente na tradição da antiga Suméria. Quando os sacerdotes de Siwa confirmaram a ascendência "divina" de Alexandre, o Grande, com o deus Amon ele ficou orgulhoso em poder retratar a si mesmo usando uma tiara com dois chifres de carneiro (atributos de Amon) em moedas de prata. As atribuições "negativas" de chifres são coisa do imaginário ocidental recente oriundo da associação que a Igreja Católica fez da imagem do Diabo com chifres.
Outra referência obscura de uma imagem com chifres que eu creio que muitos ocultistas não devem ter dado muita importância é a representação do primeiro pantáculo do sol das traduções da "Clavícula de Salomão" feitas por Mac Gregor Mathers (em relação aos grimórios recomendo darem uma olhada em outro post desse mesmo blog intitulado "OS GRIMÓRIOS"). Nas descrições desse pantáculo é dito que ele representa o "anjo da face" ou "príncipe da face" Metraton. Entretanto, é muito mais lógico crer que essa seja uma representação de Moisés, que, como foi explicado costumava ser retratado com chifres na arte antiga devido a uma interpretação ambígua da Bíblia em latim. Veja o primeiro pantáculo do sol presente nas várias versões da "Clavícula de Salomão" atuais:
É um detalhe que deve ter passado despercebido por muitos que inclusive praticam os rituais cerimoniais desse grimório, mas, vale a pena mencionar. Assim fica explicado a razão dessas representações de Moisés.
sábado, 23 de junho de 2018
CONCEITOS BÁSICOS SOBRE ANJOS
Olá pessoal! Já faz um bom tempo que eu não postava conteúdo novo por aqui. Há muitos temas que eu ainda gostaria de abordar aqui, mas, eu estava ocupado acertado os detalhes do meu próximo livro a ser publicado, será sobre cabala e em breve eu faço a divulgação dele pelos meus perfis.
Nesse post vou falar sobre alguns conceitos a respeito das entidades conhecidas como anjos. Eu já havia feito um estudo sobre esse tema em um livro não publicado e que inclusive precisa de algumas atualizações. Dois pontos precisam serem enfatizados logo no princípio, primeiro: por todas as fontes e relatos pode-se afirmar que o conceito que a maioria das pessoas tem sobre anjos é leviano e infantil, não são criaturas "fofinhas" nem "robôs de Deus" desprovidos de emoção. Muito do que é propagado a respeito deles são informações distorcidas. O outro ponto a ser enfatizado é que embora na tradição oculta existam varios tratados de demonologia muito descritivos e toda uma área de estudo realmente bem desenvolvida sobre demônios (inclusive abordando entidades equivalentes de outras tradições fora da judaico/cristã, uma área pela qual tenho grande interesse), as informações bem embasadas e detalhadas sobre anjos são praticamente escassas, pouco se sabe sobre essas entidades esguias. Mas dentre o material que podemos tomar como referência estão a Bíblia, a tradição judaica, o Alcorão e algumas outras fontes e relatos. Esse é um assunto denso e vou tentar compactar o máximo por aqui.
A angelologia cristã classifica essas entidades em nove categorias: serafins, querubins, tronos/ofanins, dominações, virtudes, potestades, principados, arcanjos e anjos. As categorias de "potestades" e "principados" são mencionadas por Paulo o apóstolo em suas cartas e pela menção que ele faz não parece estar se referindo a entidades angélicas, mas, a categorias distintas de entidades. Pessoalmente considero essa classificação simplória e de pouca utilidade para o entendimento real do assunto. Uma menção que vale registrar é sobre o "Livro de Raziel" que segundo a tradição teria sido entregue a Adão pelo anjo Raziel no paraíso pra ele poder se proteger dos ataques de seres espirituais. Existe realmente um livro intitulado "Livro de Raziel", é um grimório que surgiu na Idade Média possivelmente de autoria de rabinos, seu conteúdo é basicamente instruções para a feitura de pantáculos, imagens mágicas para diversos propósitos usando combinações de letras hebraicas. Mas não é esse o verdadeiro "Livro de Raziel" se é que existiu. Para explicar o contexto, segundo a tradição Adão e Eva no paraíso estavam em contato com os animais compreendendo a linguagem deles e também com os outros seres espirituais, anjos que os orientavam, djins e outras entidades menos bem intencionadas. Foi para se protegerem da má influência dessas entidades que tal livro teria sido entregue a Adão pois nós como seres físicos estamos em desvantagem ante seres espirituais. "Raziel" significa "segredo de Deus" pois esse anjo seria um dos que estavam mais próximos de Deus assistindo-o no trono e conhecendo muitos mistérios. O nome do anjo já revela sua função como bem sabiam os membros da seita dos Essênios que existiu um tempo antes de Cristo e pouco tempo depois se dissolveu. As outras referências antigas podem ser encontradas nas narrativas bíblicas. Abraão foi visitado por dois anjos e lhes ofereceu hospitalidade mas eles não tocaram na comida o que deixou Abraão alarmado. Foram enviados para anunciar que sua esposa Sara já idosa geraria um filho seu e também para o episódio da destruição de Sodoma e Gomorra da qual só sobreviveram Lot sobrinho de Abraão e suas filhas. O episódio do anjo Rafael enviado para guiar Tobit filho de Tobias em sua viagem é bem conhecido. Rafael (cujo nome significa "Deus cura") na tradição ocultista é considerado o regente do elemento ar, conhecedor das artes sutis, um protótipo do deus pagão Hermes. Essa narrativa muito contribuiu para a área da demonologia pois apresenta o demônio Asmodeu e suas características, se especializava na destruição de relacionamentos e sua fraqueza era a fumaça da bílis de um peixe. No Talmud livro de tradições judaicas é dito que foi através de Asmodeu que Salomão obteve poder sobre outros demônios e os usou na construção do Templo de Jerusalém. No livro "Testamento de Salomão" pseudo-epigrafado atribuído a Salomão, Asmodeu também é citado e inclusive é dito que o peixe em questão era um tipo de bagre conhecido como "peixe-gato" comum nos rios da Assíria. Pinturas representando o episódio do anjo Rafael e Tobit:
O episódio bíblico da luta de Jacó com um anjo é um dos mais controversos. O padre exorcista espanhol José Antonio Fortea em seu livro "Exorcística" coloca esse episódio entre os enigmas da Bíblia e diz não entender porque alguém "lutaria" com um anjo, entidades essencialmente boas. Embora Fortea seja um exorcista e esteja em constante contato com o oculto, muito da sutileza do ocultismo em geral lhe escapa. Quem fizer um estudo geral sobre o perfil do patriarca Jacó notará que ele é um protótipo do "judeu ambicioso" sempre ávido de fazer grandes investimentos e obter vantagens e lucros. Já havia enganado seu irmão Esaú para obter a benção de seu pai no lugar dele. Também ludibriou seu sogro através de uma artimanha na qual induziu as ovelhas dele a ficarem prenhes e gerarem filhotes manchados que seriam seus por causa de um trato. Isso explica muito. Em uma dada ocasião certo anjo foi captado por sua visão e a imagem normal de um anjo é absolutamente igual a um homem, exceto que excede em perfeição. Ele notou logo que era talvez um "homem especial" e quis obrigá-lo a lhe dar sua benção. Tal anjo teve muito trabalho para se livrar de Jacó e até deslocou a coxa dele deixando-o manco para conseguir sair, essa é a explicação.
A narrativa da visão de Ezequiel também figura entre as mais controversas da Bíblia. O modo como ele descreve a "criatura" com quatro faces uma de homem, uma de águia e uma de touro, uma de leão e as "rodas" que se moviam dá margem para muitas especulações. Há pesquisadores que acreditam que na verdade a descrição dessa visão se refere a visão não de um ser espiritual, mas sim a um ser alienígena e as "rodas" girando em várias direções enquanto o ser se desloca seria referência aos "discos voadores". Já os cabalistas em geral relacionam essa visão a técnica conhecida como "merkabah" na qual o praticante ascende aos planos espirituais superiores e vê e ouve os anjos e suas conversas. Ilustrações representando a visão de Ezequiel:
Na Carta de Judas há uma menção a uma tradição judaica que fala sobre a luta de Lúcifer contra o arcanjo Miguel disputando pelo corpo de Moisés. Nos tempos pré-cristãos os judeus costumavam considerar os anjos como os "músculos de Deus" eles eram enviados para fazer sua vontade, testemunharam várias intervenções assim nos tempos de Moisés, quando o povo desobedecia os anjos que foram chamados de "destruidores" apareciam e desencadeavam uma grande catástrofe sobre os israelitas rebeldes. Há um relato no qual o castigo desencadeado por um anjo desse tipo é tão devastador que Deus ordenou que ele parasse está no Livro I de Crônicas cap; 21 versículos 15 a 16 veja:
"Deus enviou a Jerusalém um anjo para destruí-la. Enquanto ele a assolava, o Senhor que olhava compadeceu-se desse mal e disse ao anjo destruidor: "-Basta! Retira agora tua mão!". Ora, o anjo do Senhor achava-se perto da eira de Ornã, o jebuseu. Davi, tendo levantado os olhos viu o anjo do Senhor que estava entre o céu e a terra, com uma espada desembainhada em sua mão, dirigida contra Jerusalém."
Dentro do conceito do judaísmo os anjos são chamados de "malach" que significa mensageiros e eles classificam os anjos em dois tipos básicos: temporários e permanentes. Para eles os anjos não são muito diferentes daquilo que os ocultistas costumam chamar de "servidores" entidades espirituais criadas pelo adepto para cumprir determinadas funções. No judaísmo se considera que qualquer pensamento ou palavra de Deus gera um anjo. Os anjos temporários são criados para realizarem apenas uma função, depois de realizada eles se desfazem , deixam de existir. Os anjos permanentes podem realizar uma tarefa e depois continuam existindo podendo realizar várias outras. Os chamados "maguid" são como entidades criadas pelo próprio adepto, quanto mais ações boas e concientes ele realiza mais ele dá forma a um belo maguid que pode vir a se manifestar para ele e lhe dar bons conselhos e informações dos planos espirituais. Existe mesmo na cabala técnicas específicas para o adepto entrar em contato com seu maguid. No já citado "Testamento de Salomão" alguns demônios interrogados por Salomão afirmam estarem ligados a alguma estrela ou constelação já que anteriormente eram anjos e não demônios. O cabalista Arieh Kaplan em sua versão comentada do clássico da tradição cabalista "Sêfer Yetsirá" faz um comentário conciso sobre isso veja esse trecho da citada obra:
"O mesmo é certo dos anjos com nome. Estes anjos são como almas para as estrelas e isso também significa que as estrelas e planetas são seus "corpos". Assim, cada estrela serve como foco para cada anjo particular, mantendo-o como um todo integrado, ainda que, através dela, possa realizar muitas e diferentes tarefas.
Portanto, há uma relação um a um entre as estrelas e os anjos. Cada estrela tem seu próprio anjo particular e cada anjo sua própria estrela(...)Todo anjo com nome próprio é integrado pela estrela que lhe serve de corpo.
Assim explica-se também por que os anjos permanentes têm nomes.(...)O Midrash indica que os diferentes nomes das estrelas correspondem aos nomes dos distintos anjos. A relação um a um fica então claramente expressa."
Dentro da tradição cabalística da "merkabah" os anjos podem ser entidades terríveis a serem temidas. A merkabah como já mencionei em outros pontos desse mesmo blog é a mais secreta e perigosa técnica da cabala, através dessa técnica o adepto pode ter acesso aos planos espirituais superiores e informações privilegiadas. O texto base para essa técnica são os "Hechalot" que significa "palácios". Esse texto ou "textos" variados com essa temática eram conhecidos desde a época da elaboração do Talmud e antes. Nesse contexto os planos espirituais superiores são divididos em sete, são esses os "sete palácios místicos" e os que praticam essa técnica com sucesso são chamados no jargão cabalístico de "príncipes dos palácios". Madame Blavatsky no volume V de seu livro "A Doutrina Secreta" diz que o cabalista não pode ser considerado como completa sua formação nessa área sem ter praticado com sucesso a merkabah, veja um trecho desse livro dela:
"O Rabino Simão Bar Yochai, compilador do Zohar, só oralmente ensinava os pontos mais importantes de sua doutrina, e ainda assim a um número limitado de discípulos. Por isso, sem a iniciação final na merkabah ficará sempre incompleto o estudo da cabala, e somente se pode aprender a mercabah 'nas trevas, em um lugar deserto e depois de muitas e terríveis provas'. Desde a morte daquele grande iniciado judeu, esta doutrina permanece um arcano inviolável para o mundo exterior."
O conceito básico para a técnica da merkabah é a criação de um tipo de "corpo astral ou espiritual" pelo adepto e com esse corpo e técnicas para coagir os anjos-chave a lhe ajudar ele ascende aos "palácios místicos" e depois volta com a informação em sua memória. Mas não é tão simples assim, qualquer descuido pode levar a morte do adepto e os anjos coagidos a ajudar na assenção podem se vingar do praticante. Há semelhança entre essa técnica e a chamada "projeção astral". O mago Frabato (alcunha de Frantisek Bardon nascido em 1909 e falecido em 1958) em seu livro "Magia Prática-O Caminho do Adepto" menciona que durante experiências de projeção astral quando o praticante recebe um ataque mortal de outra entidade ele morre, e a causa da morte de acordo com os médicos que avaliam seu corpo é um ataque cardíaco. Ou seja: parece que o sujeito morreu por causa de um ataque cardíaco, mas na verdade cometeu algum erro em sua "projeção de consciência". É notório que muitos cabalistas que se arriscam nessa técnica acabam morrendo jovens (o próprio Arieh Kaplan faleceu com apenas 38 anos, oficialmente de ataque cardíaco. O motivo fica em aberto para quem quiser interpretar). Veja um trecho dos Hechalot registrado por Arieh Kaplan em seu livro "Meditação e Cabalá":
"Os guardiães da Sexta Cãmara atacarão aquele que descende na Mercabá mas não descende na Mercabá sem permissão. Eles se aglomeram perto de tais indivíduos, ferindo-os e queimando-os, e então eles enviam outros em seu lugar, que fazem o mesmo. Eles não tem nenhum remorso, nem param para pensar e perguntar: 'Porque nós estamos queimando-os? Que diversão nós temos quando quando atacamos aqueles indivíduos que descendem a Mercabá mas não descendem, sem permissão?' Entretanto, esta é a característica dos guardiões na porta da Sexta Câmara."
Muitas tradições relatam sobre anjos tendo filhos com mulheres humanas. Isso pode ser encontrado no "Livro de Enoch" e também no "Kebra Nagast" livro considerado sagrado na Etiópia. Alguns demônios interrogados por Salomão no "Testamento de Salomão" afirmam que são filhos de anjos com mulheres humanas. Essa carácterista, portanto, é confirmada por várias tradições.
Na tradição árabe existe o chamado anjo Israfil. Na tradição cristã costuma se considerar que o anjo que soprará a trombeta do "juízo final" seria o anjo Rafael, mas na tradição árabe se considera que essa tarefa caberá ao anjo Israfil. Ao longo do Alcorão se menciona o "juízo final" mas não diz o nome do anjo que soprará tal trombeta. Israfil é uma entidade conhecida do folclore árabe antes do surgimento do islã e assim pode-se considerar que ele não pertence "oficialmente" ao islã e sim as tradições pagãs dos antigos árabes na qual é descrito como sendo gigantesco. Uma ilustração representando o anjo Israfil:
Outra entidade aparentemente de origem pagã árabe que foi alçada ao status de "anjo" embora não oficialmente pelo islã é o anjo Azrael. Na tradição árabe ele é considerado o "ceifeiro" o "anjo da morte" encarregado de buscar as almas dos que morrem. Miguel, Rafael e Gabriel são mencionados no Alcorão e devido a importãncia que têm na tradição judaica e cristã pode-se dizer que são anjos "permanentes" e de grande status. Depois da experiência marcante na caverna de Hira, Maomé teve aberta sua "terceira visão" a visão dos planos sutis, e desde aquele acontecimento passou a enxergar quase que diariamente várias entidades espirituais. Há uma narrativas nos "Hadiths" ("Hadith" significa "ditos" são coletâneas de histórias que retratam as falas e ações de Maomé e costumam serem estudas pelos adeptos junto com o Alcorão. A mais considerada são "Os Quarenta Hadiths" copilados por Abu Zacariah An-Nawawi) na qual Maomé é abordado pelo anjo Gabriel que o submete a um tipo de interrogatório como teste, veja:
"Omar Ibn Al Khattab narrou que um dia em que ele e outras pessoas estavam sentados em companhia do mensageiro de Deus, aproximou-se dele um homem com roupa de resplandecente brancura, e tinha cabelos intensamente pretos. Não se lhe notavam sinais de que tivesse viajado, nem tampouco o conhecia nenhum de nós. Sentou-se em frente ao profeta e apoiando os joelhos contra os joelhos do profeta e apoiando as mãos nas pernas dele disse: 'Ó Maomé, fala-me acerca do Islã!' O mensageiro de Deus respondeu: 'O islã exige que prestes testemunho de que não há outra divindade além de Deus, de que Maomé é seu mensageiro, que observes a oração, que pages o zacat (um tipo de tributo destinado a ajudar os mais pobres), que jejues no mês do ramadan e que realizes a peregrinação á Caaba se tens meios para isso.' O homem disse: 'Dissestes a verdade.' A nós surpreendeu que perguntasse e que logo confirmasse a verdade. O homem voltou a perguntar: 'Fala-me sobre a fé!' E o profeta lhe respondeu: 'Que creias em Deus, em seus anjos, em seus mensageiros e no dia do juízo. E que creias na predestinação, tanto no bom como no mau.' E o homem disse: 'Falaste a verdade! Fala-me agora sobre a virtude!' O mensageiro de Deus respondeu: 'Que adores a Deus como se tivesse vendo-o, pois se não o vês, ele te vê.' O homem disse: 'Fala-me acerca da hora do juízo final!' Disse o profeta: 'Quem está sendo interrogado disso não tem melhor conhecimento do que quem está fazendo a pergunta.' O homem insistiu: 'Fala-me então de seus sinais!' Disse o mensageiro: 'Será quando a escrava der a luz a sua própria senhora e quando vires os descamisados e desamparados competindo nas construções dos altos edifícios.' Aquele homem se foi, deixando-me pensativo por um bom tempo. O profeta me perguntou: 'Ó Omar, sabes quem era aquele que me perguntava?' Eu disse; 'Deus e o mensageiro tem melhor conhecimento!' Disse ele: 'Era o anjo Gabriel que veio ensinar-vos a vossa religião.'"
Na tradição muçulmana se acredita que a cada pessoa que nasce Deus designa um ou mais espíritos para lhe acompanhar e influenciar. Esses espíritos familiares são chamados na tradição muçulmana de "quarin". Um é encarregado de registrar todas as ações da pessoa, veja no capítulo 82 do Alcorão versículos 10 a 12:
"Sobre vós há guardas
Que são nobres escribas
E anotam tudo quanto fazeis."
Embora muitos acreditem que o inferno seja um lugar que seja regido por Satanás ou seus demônios na verdade não existe lugar (embora o conceito de "lugar" não seja adequado de ser aplicado aos planos espirituais) onde Deus não exerça autoridade. No Alcorão é dito que 19 anjos vigiam o inferno e supervisionam os castigos aí aplicados (apesar que esse número 19 seja mais simbólico, é um "número código" próprio do Alcorão que assim como a Torá é repleto de códigos) veja o capítulo 74 do Alcorão versículos 27 a 30:
"E quem te dirá o que é o inferno?
É um fogo que consome sem deixar rastro nem vestígio,
É um suplício sobre a pele.
Dezenove guardiães velam sobre ele.
E não designamos para administrar o fogo senão anjos."
Em relação aos anjos Harut e Marut enviados para testar os homens na Babilônia e que acabaram seduzidos por uma mulher e castigados por Deus por isso já mencionei em outros pontos aqui desse mesmo blog, há menção a eles no Alcorão. Talvez a mais notável menção a anjos no Alcorão seja sobre aqueles que vigiam para evitar que demônios ou djinns bisbilhotem as conversas dos anjos. Da mesma forma são perseguidos os praticantes da merkabah que cometem algum erro. No Alcorão esses anjos vigilantes são chamados de "meteoros" veja um trecho do capítulo 15 versículos 16 a 18:
"E colocamos constelações no céu e embelezamo-lo para os contempladores.
E protegemo-lo contra todo demônio maldito.
E os que escutam ás escondidas são perseguidos por meteoros flamejantes."
Vários outros pontos do Alcorão mencionam a mesma coisa.
Voltando ao controverso ocultista inglês John Dee já citado nesse blog em outro post, ele tencionava entrar em contato com anjos mas acabou entrando em contato com várias entidades algumas nem um pouco amistosas. Visto mais munuciosamente o "sistema" que as entidades lhe entregaram percebemos que tinha muito de técnicas de permutação de nomes codificados junto com números com os quais Dee já estava familiarizado devido aos diversos grimórios que ele tinha em sua vasta coleção como o "Livro de Soyga" ou "Aldaraia". As entidades até mesmo lhe orientaram para fazer um tipo de "projeção astral" com o propósito de acessar os planos espirituais em que habitavam. Dessas várias entidades as que mais chamam a atenção certamente são os chamados "Vigilantes" regentes dos quatro pontos cardeais, esses são os de presença muito forte e certamente não podem ser equiparados aos anjos "fofinhos" vulgarizados no imaginário popular.
Para encerrar, eu não poderia deixar de mencionar um homem que segundo se consta foi a pessoa que mais teve experiências com anjos registradas o sueco Emanuel Swedenborg(1688-1772). Ele foi um verdadeiro polímata o que significa que trabalhou e bem em várias áreas. Sua formação básica foi como engenheiro de minas mas ele se aventurou em muitas áreas da ciência natural e filosofia. Já idoso dedicou a maior parte do tempo que tinha a escrever e registrar suas experiências no plano espiritual. Assim como outros gênios como Tesla e Newton ele não quis se casar para se dedicar a suas pesquisas e toda renda vinda da venda de seus livros ele destinava a obras de caridade, mais que isso, bancava as tiragens e se esforçava para que fossem vendidos ao preço mais acessível possível. Blavatsky já havia dito que boa parte dos livros dele eram apenas alegóricos e não deveriam ser levados ao pé da letra. Eliphas Levi também fez um comentário semelhante e cabe aos leitores interpretarem e tirarem suas próprias conclusões. O livro dele que eu mais indico é "O Céu e as suas Maravilhas e o Inferno Segundo o que Foi Ouvido e Visto" pintura representando Swedenborg:
Assim concluo esse post, procurei registrar alguns conceitos básicos sobre os anjos que como o leitor pôde perceber é um tema amplo e foge dos estereótipos fantasiosos presentes na imaginação da maioria das pessoas.
Olá pessoal! Já faz um bom tempo que eu não postava conteúdo novo por aqui. Há muitos temas que eu ainda gostaria de abordar aqui, mas, eu estava ocupado acertado os detalhes do meu próximo livro a ser publicado, será sobre cabala e em breve eu faço a divulgação dele pelos meus perfis.
Nesse post vou falar sobre alguns conceitos a respeito das entidades conhecidas como anjos. Eu já havia feito um estudo sobre esse tema em um livro não publicado e que inclusive precisa de algumas atualizações. Dois pontos precisam serem enfatizados logo no princípio, primeiro: por todas as fontes e relatos pode-se afirmar que o conceito que a maioria das pessoas tem sobre anjos é leviano e infantil, não são criaturas "fofinhas" nem "robôs de Deus" desprovidos de emoção. Muito do que é propagado a respeito deles são informações distorcidas. O outro ponto a ser enfatizado é que embora na tradição oculta existam varios tratados de demonologia muito descritivos e toda uma área de estudo realmente bem desenvolvida sobre demônios (inclusive abordando entidades equivalentes de outras tradições fora da judaico/cristã, uma área pela qual tenho grande interesse), as informações bem embasadas e detalhadas sobre anjos são praticamente escassas, pouco se sabe sobre essas entidades esguias. Mas dentre o material que podemos tomar como referência estão a Bíblia, a tradição judaica, o Alcorão e algumas outras fontes e relatos. Esse é um assunto denso e vou tentar compactar o máximo por aqui.
A angelologia cristã classifica essas entidades em nove categorias: serafins, querubins, tronos/ofanins, dominações, virtudes, potestades, principados, arcanjos e anjos. As categorias de "potestades" e "principados" são mencionadas por Paulo o apóstolo em suas cartas e pela menção que ele faz não parece estar se referindo a entidades angélicas, mas, a categorias distintas de entidades. Pessoalmente considero essa classificação simplória e de pouca utilidade para o entendimento real do assunto. Uma menção que vale registrar é sobre o "Livro de Raziel" que segundo a tradição teria sido entregue a Adão pelo anjo Raziel no paraíso pra ele poder se proteger dos ataques de seres espirituais. Existe realmente um livro intitulado "Livro de Raziel", é um grimório que surgiu na Idade Média possivelmente de autoria de rabinos, seu conteúdo é basicamente instruções para a feitura de pantáculos, imagens mágicas para diversos propósitos usando combinações de letras hebraicas. Mas não é esse o verdadeiro "Livro de Raziel" se é que existiu. Para explicar o contexto, segundo a tradição Adão e Eva no paraíso estavam em contato com os animais compreendendo a linguagem deles e também com os outros seres espirituais, anjos que os orientavam, djins e outras entidades menos bem intencionadas. Foi para se protegerem da má influência dessas entidades que tal livro teria sido entregue a Adão pois nós como seres físicos estamos em desvantagem ante seres espirituais. "Raziel" significa "segredo de Deus" pois esse anjo seria um dos que estavam mais próximos de Deus assistindo-o no trono e conhecendo muitos mistérios. O nome do anjo já revela sua função como bem sabiam os membros da seita dos Essênios que existiu um tempo antes de Cristo e pouco tempo depois se dissolveu. As outras referências antigas podem ser encontradas nas narrativas bíblicas. Abraão foi visitado por dois anjos e lhes ofereceu hospitalidade mas eles não tocaram na comida o que deixou Abraão alarmado. Foram enviados para anunciar que sua esposa Sara já idosa geraria um filho seu e também para o episódio da destruição de Sodoma e Gomorra da qual só sobreviveram Lot sobrinho de Abraão e suas filhas. O episódio do anjo Rafael enviado para guiar Tobit filho de Tobias em sua viagem é bem conhecido. Rafael (cujo nome significa "Deus cura") na tradição ocultista é considerado o regente do elemento ar, conhecedor das artes sutis, um protótipo do deus pagão Hermes. Essa narrativa muito contribuiu para a área da demonologia pois apresenta o demônio Asmodeu e suas características, se especializava na destruição de relacionamentos e sua fraqueza era a fumaça da bílis de um peixe. No Talmud livro de tradições judaicas é dito que foi através de Asmodeu que Salomão obteve poder sobre outros demônios e os usou na construção do Templo de Jerusalém. No livro "Testamento de Salomão" pseudo-epigrafado atribuído a Salomão, Asmodeu também é citado e inclusive é dito que o peixe em questão era um tipo de bagre conhecido como "peixe-gato" comum nos rios da Assíria. Pinturas representando o episódio do anjo Rafael e Tobit:
O episódio bíblico da luta de Jacó com um anjo é um dos mais controversos. O padre exorcista espanhol José Antonio Fortea em seu livro "Exorcística" coloca esse episódio entre os enigmas da Bíblia e diz não entender porque alguém "lutaria" com um anjo, entidades essencialmente boas. Embora Fortea seja um exorcista e esteja em constante contato com o oculto, muito da sutileza do ocultismo em geral lhe escapa. Quem fizer um estudo geral sobre o perfil do patriarca Jacó notará que ele é um protótipo do "judeu ambicioso" sempre ávido de fazer grandes investimentos e obter vantagens e lucros. Já havia enganado seu irmão Esaú para obter a benção de seu pai no lugar dele. Também ludibriou seu sogro através de uma artimanha na qual induziu as ovelhas dele a ficarem prenhes e gerarem filhotes manchados que seriam seus por causa de um trato. Isso explica muito. Em uma dada ocasião certo anjo foi captado por sua visão e a imagem normal de um anjo é absolutamente igual a um homem, exceto que excede em perfeição. Ele notou logo que era talvez um "homem especial" e quis obrigá-lo a lhe dar sua benção. Tal anjo teve muito trabalho para se livrar de Jacó e até deslocou a coxa dele deixando-o manco para conseguir sair, essa é a explicação.
A narrativa da visão de Ezequiel também figura entre as mais controversas da Bíblia. O modo como ele descreve a "criatura" com quatro faces uma de homem, uma de águia e uma de touro, uma de leão e as "rodas" que se moviam dá margem para muitas especulações. Há pesquisadores que acreditam que na verdade a descrição dessa visão se refere a visão não de um ser espiritual, mas sim a um ser alienígena e as "rodas" girando em várias direções enquanto o ser se desloca seria referência aos "discos voadores". Já os cabalistas em geral relacionam essa visão a técnica conhecida como "merkabah" na qual o praticante ascende aos planos espirituais superiores e vê e ouve os anjos e suas conversas. Ilustrações representando a visão de Ezequiel:
Na Carta de Judas há uma menção a uma tradição judaica que fala sobre a luta de Lúcifer contra o arcanjo Miguel disputando pelo corpo de Moisés. Nos tempos pré-cristãos os judeus costumavam considerar os anjos como os "músculos de Deus" eles eram enviados para fazer sua vontade, testemunharam várias intervenções assim nos tempos de Moisés, quando o povo desobedecia os anjos que foram chamados de "destruidores" apareciam e desencadeavam uma grande catástrofe sobre os israelitas rebeldes. Há um relato no qual o castigo desencadeado por um anjo desse tipo é tão devastador que Deus ordenou que ele parasse está no Livro I de Crônicas cap; 21 versículos 15 a 16 veja:
"Deus enviou a Jerusalém um anjo para destruí-la. Enquanto ele a assolava, o Senhor que olhava compadeceu-se desse mal e disse ao anjo destruidor: "-Basta! Retira agora tua mão!". Ora, o anjo do Senhor achava-se perto da eira de Ornã, o jebuseu. Davi, tendo levantado os olhos viu o anjo do Senhor que estava entre o céu e a terra, com uma espada desembainhada em sua mão, dirigida contra Jerusalém."
Dentro do conceito do judaísmo os anjos são chamados de "malach" que significa mensageiros e eles classificam os anjos em dois tipos básicos: temporários e permanentes. Para eles os anjos não são muito diferentes daquilo que os ocultistas costumam chamar de "servidores" entidades espirituais criadas pelo adepto para cumprir determinadas funções. No judaísmo se considera que qualquer pensamento ou palavra de Deus gera um anjo. Os anjos temporários são criados para realizarem apenas uma função, depois de realizada eles se desfazem , deixam de existir. Os anjos permanentes podem realizar uma tarefa e depois continuam existindo podendo realizar várias outras. Os chamados "maguid" são como entidades criadas pelo próprio adepto, quanto mais ações boas e concientes ele realiza mais ele dá forma a um belo maguid que pode vir a se manifestar para ele e lhe dar bons conselhos e informações dos planos espirituais. Existe mesmo na cabala técnicas específicas para o adepto entrar em contato com seu maguid. No já citado "Testamento de Salomão" alguns demônios interrogados por Salomão afirmam estarem ligados a alguma estrela ou constelação já que anteriormente eram anjos e não demônios. O cabalista Arieh Kaplan em sua versão comentada do clássico da tradição cabalista "Sêfer Yetsirá" faz um comentário conciso sobre isso veja esse trecho da citada obra:
"O mesmo é certo dos anjos com nome. Estes anjos são como almas para as estrelas e isso também significa que as estrelas e planetas são seus "corpos". Assim, cada estrela serve como foco para cada anjo particular, mantendo-o como um todo integrado, ainda que, através dela, possa realizar muitas e diferentes tarefas.
Portanto, há uma relação um a um entre as estrelas e os anjos. Cada estrela tem seu próprio anjo particular e cada anjo sua própria estrela(...)Todo anjo com nome próprio é integrado pela estrela que lhe serve de corpo.
Assim explica-se também por que os anjos permanentes têm nomes.(...)O Midrash indica que os diferentes nomes das estrelas correspondem aos nomes dos distintos anjos. A relação um a um fica então claramente expressa."
Dentro da tradição cabalística da "merkabah" os anjos podem ser entidades terríveis a serem temidas. A merkabah como já mencionei em outros pontos desse mesmo blog é a mais secreta e perigosa técnica da cabala, através dessa técnica o adepto pode ter acesso aos planos espirituais superiores e informações privilegiadas. O texto base para essa técnica são os "Hechalot" que significa "palácios". Esse texto ou "textos" variados com essa temática eram conhecidos desde a época da elaboração do Talmud e antes. Nesse contexto os planos espirituais superiores são divididos em sete, são esses os "sete palácios místicos" e os que praticam essa técnica com sucesso são chamados no jargão cabalístico de "príncipes dos palácios". Madame Blavatsky no volume V de seu livro "A Doutrina Secreta" diz que o cabalista não pode ser considerado como completa sua formação nessa área sem ter praticado com sucesso a merkabah, veja um trecho desse livro dela:
"O Rabino Simão Bar Yochai, compilador do Zohar, só oralmente ensinava os pontos mais importantes de sua doutrina, e ainda assim a um número limitado de discípulos. Por isso, sem a iniciação final na merkabah ficará sempre incompleto o estudo da cabala, e somente se pode aprender a mercabah 'nas trevas, em um lugar deserto e depois de muitas e terríveis provas'. Desde a morte daquele grande iniciado judeu, esta doutrina permanece um arcano inviolável para o mundo exterior."
O conceito básico para a técnica da merkabah é a criação de um tipo de "corpo astral ou espiritual" pelo adepto e com esse corpo e técnicas para coagir os anjos-chave a lhe ajudar ele ascende aos "palácios místicos" e depois volta com a informação em sua memória. Mas não é tão simples assim, qualquer descuido pode levar a morte do adepto e os anjos coagidos a ajudar na assenção podem se vingar do praticante. Há semelhança entre essa técnica e a chamada "projeção astral". O mago Frabato (alcunha de Frantisek Bardon nascido em 1909 e falecido em 1958) em seu livro "Magia Prática-O Caminho do Adepto" menciona que durante experiências de projeção astral quando o praticante recebe um ataque mortal de outra entidade ele morre, e a causa da morte de acordo com os médicos que avaliam seu corpo é um ataque cardíaco. Ou seja: parece que o sujeito morreu por causa de um ataque cardíaco, mas na verdade cometeu algum erro em sua "projeção de consciência". É notório que muitos cabalistas que se arriscam nessa técnica acabam morrendo jovens (o próprio Arieh Kaplan faleceu com apenas 38 anos, oficialmente de ataque cardíaco. O motivo fica em aberto para quem quiser interpretar). Veja um trecho dos Hechalot registrado por Arieh Kaplan em seu livro "Meditação e Cabalá":
"Os guardiães da Sexta Cãmara atacarão aquele que descende na Mercabá mas não descende na Mercabá sem permissão. Eles se aglomeram perto de tais indivíduos, ferindo-os e queimando-os, e então eles enviam outros em seu lugar, que fazem o mesmo. Eles não tem nenhum remorso, nem param para pensar e perguntar: 'Porque nós estamos queimando-os? Que diversão nós temos quando quando atacamos aqueles indivíduos que descendem a Mercabá mas não descendem, sem permissão?' Entretanto, esta é a característica dos guardiões na porta da Sexta Câmara."
Muitas tradições relatam sobre anjos tendo filhos com mulheres humanas. Isso pode ser encontrado no "Livro de Enoch" e também no "Kebra Nagast" livro considerado sagrado na Etiópia. Alguns demônios interrogados por Salomão no "Testamento de Salomão" afirmam que são filhos de anjos com mulheres humanas. Essa carácterista, portanto, é confirmada por várias tradições.
Na tradição árabe existe o chamado anjo Israfil. Na tradição cristã costuma se considerar que o anjo que soprará a trombeta do "juízo final" seria o anjo Rafael, mas na tradição árabe se considera que essa tarefa caberá ao anjo Israfil. Ao longo do Alcorão se menciona o "juízo final" mas não diz o nome do anjo que soprará tal trombeta. Israfil é uma entidade conhecida do folclore árabe antes do surgimento do islã e assim pode-se considerar que ele não pertence "oficialmente" ao islã e sim as tradições pagãs dos antigos árabes na qual é descrito como sendo gigantesco. Uma ilustração representando o anjo Israfil:
Outra entidade aparentemente de origem pagã árabe que foi alçada ao status de "anjo" embora não oficialmente pelo islã é o anjo Azrael. Na tradição árabe ele é considerado o "ceifeiro" o "anjo da morte" encarregado de buscar as almas dos que morrem. Miguel, Rafael e Gabriel são mencionados no Alcorão e devido a importãncia que têm na tradição judaica e cristã pode-se dizer que são anjos "permanentes" e de grande status. Depois da experiência marcante na caverna de Hira, Maomé teve aberta sua "terceira visão" a visão dos planos sutis, e desde aquele acontecimento passou a enxergar quase que diariamente várias entidades espirituais. Há uma narrativas nos "Hadiths" ("Hadith" significa "ditos" são coletâneas de histórias que retratam as falas e ações de Maomé e costumam serem estudas pelos adeptos junto com o Alcorão. A mais considerada são "Os Quarenta Hadiths" copilados por Abu Zacariah An-Nawawi) na qual Maomé é abordado pelo anjo Gabriel que o submete a um tipo de interrogatório como teste, veja:
"Omar Ibn Al Khattab narrou que um dia em que ele e outras pessoas estavam sentados em companhia do mensageiro de Deus, aproximou-se dele um homem com roupa de resplandecente brancura, e tinha cabelos intensamente pretos. Não se lhe notavam sinais de que tivesse viajado, nem tampouco o conhecia nenhum de nós. Sentou-se em frente ao profeta e apoiando os joelhos contra os joelhos do profeta e apoiando as mãos nas pernas dele disse: 'Ó Maomé, fala-me acerca do Islã!' O mensageiro de Deus respondeu: 'O islã exige que prestes testemunho de que não há outra divindade além de Deus, de que Maomé é seu mensageiro, que observes a oração, que pages o zacat (um tipo de tributo destinado a ajudar os mais pobres), que jejues no mês do ramadan e que realizes a peregrinação á Caaba se tens meios para isso.' O homem disse: 'Dissestes a verdade.' A nós surpreendeu que perguntasse e que logo confirmasse a verdade. O homem voltou a perguntar: 'Fala-me sobre a fé!' E o profeta lhe respondeu: 'Que creias em Deus, em seus anjos, em seus mensageiros e no dia do juízo. E que creias na predestinação, tanto no bom como no mau.' E o homem disse: 'Falaste a verdade! Fala-me agora sobre a virtude!' O mensageiro de Deus respondeu: 'Que adores a Deus como se tivesse vendo-o, pois se não o vês, ele te vê.' O homem disse: 'Fala-me acerca da hora do juízo final!' Disse o profeta: 'Quem está sendo interrogado disso não tem melhor conhecimento do que quem está fazendo a pergunta.' O homem insistiu: 'Fala-me então de seus sinais!' Disse o mensageiro: 'Será quando a escrava der a luz a sua própria senhora e quando vires os descamisados e desamparados competindo nas construções dos altos edifícios.' Aquele homem se foi, deixando-me pensativo por um bom tempo. O profeta me perguntou: 'Ó Omar, sabes quem era aquele que me perguntava?' Eu disse; 'Deus e o mensageiro tem melhor conhecimento!' Disse ele: 'Era o anjo Gabriel que veio ensinar-vos a vossa religião.'"
Na tradição muçulmana se acredita que a cada pessoa que nasce Deus designa um ou mais espíritos para lhe acompanhar e influenciar. Esses espíritos familiares são chamados na tradição muçulmana de "quarin". Um é encarregado de registrar todas as ações da pessoa, veja no capítulo 82 do Alcorão versículos 10 a 12:
"Sobre vós há guardas
Que são nobres escribas
E anotam tudo quanto fazeis."
Embora muitos acreditem que o inferno seja um lugar que seja regido por Satanás ou seus demônios na verdade não existe lugar (embora o conceito de "lugar" não seja adequado de ser aplicado aos planos espirituais) onde Deus não exerça autoridade. No Alcorão é dito que 19 anjos vigiam o inferno e supervisionam os castigos aí aplicados (apesar que esse número 19 seja mais simbólico, é um "número código" próprio do Alcorão que assim como a Torá é repleto de códigos) veja o capítulo 74 do Alcorão versículos 27 a 30:
"E quem te dirá o que é o inferno?
É um fogo que consome sem deixar rastro nem vestígio,
É um suplício sobre a pele.
Dezenove guardiães velam sobre ele.
E não designamos para administrar o fogo senão anjos."
Em relação aos anjos Harut e Marut enviados para testar os homens na Babilônia e que acabaram seduzidos por uma mulher e castigados por Deus por isso já mencionei em outros pontos aqui desse mesmo blog, há menção a eles no Alcorão. Talvez a mais notável menção a anjos no Alcorão seja sobre aqueles que vigiam para evitar que demônios ou djinns bisbilhotem as conversas dos anjos. Da mesma forma são perseguidos os praticantes da merkabah que cometem algum erro. No Alcorão esses anjos vigilantes são chamados de "meteoros" veja um trecho do capítulo 15 versículos 16 a 18:
"E colocamos constelações no céu e embelezamo-lo para os contempladores.
E protegemo-lo contra todo demônio maldito.
E os que escutam ás escondidas são perseguidos por meteoros flamejantes."
Vários outros pontos do Alcorão mencionam a mesma coisa.
Voltando ao controverso ocultista inglês John Dee já citado nesse blog em outro post, ele tencionava entrar em contato com anjos mas acabou entrando em contato com várias entidades algumas nem um pouco amistosas. Visto mais munuciosamente o "sistema" que as entidades lhe entregaram percebemos que tinha muito de técnicas de permutação de nomes codificados junto com números com os quais Dee já estava familiarizado devido aos diversos grimórios que ele tinha em sua vasta coleção como o "Livro de Soyga" ou "Aldaraia". As entidades até mesmo lhe orientaram para fazer um tipo de "projeção astral" com o propósito de acessar os planos espirituais em que habitavam. Dessas várias entidades as que mais chamam a atenção certamente são os chamados "Vigilantes" regentes dos quatro pontos cardeais, esses são os de presença muito forte e certamente não podem ser equiparados aos anjos "fofinhos" vulgarizados no imaginário popular.
Para encerrar, eu não poderia deixar de mencionar um homem que segundo se consta foi a pessoa que mais teve experiências com anjos registradas o sueco Emanuel Swedenborg(1688-1772). Ele foi um verdadeiro polímata o que significa que trabalhou e bem em várias áreas. Sua formação básica foi como engenheiro de minas mas ele se aventurou em muitas áreas da ciência natural e filosofia. Já idoso dedicou a maior parte do tempo que tinha a escrever e registrar suas experiências no plano espiritual. Assim como outros gênios como Tesla e Newton ele não quis se casar para se dedicar a suas pesquisas e toda renda vinda da venda de seus livros ele destinava a obras de caridade, mais que isso, bancava as tiragens e se esforçava para que fossem vendidos ao preço mais acessível possível. Blavatsky já havia dito que boa parte dos livros dele eram apenas alegóricos e não deveriam ser levados ao pé da letra. Eliphas Levi também fez um comentário semelhante e cabe aos leitores interpretarem e tirarem suas próprias conclusões. O livro dele que eu mais indico é "O Céu e as suas Maravilhas e o Inferno Segundo o que Foi Ouvido e Visto" pintura representando Swedenborg:
Assim concluo esse post, procurei registrar alguns conceitos básicos sobre os anjos que como o leitor pôde perceber é um tema amplo e foge dos estereótipos fantasiosos presentes na imaginação da maioria das pessoas.
sábado, 2 de junho de 2018
OCULTISTAS NOTÁVEIS-9
Olá a todos! Nesse post vou falar um pouco sobre a vida e obras de um ocultista que foi um dos fundadores da Golden Dawn, a "Ordem Hermética da Aurora Dourada" a mais influente sociedade esotérica ocidental da era moderna. Foto de Mathers:
Samuel Lidell Mathers nasceu em 1854 faleceu em Paris em 1918. Teve uma infância pobre e quando se tornou maior de idade entrou para a infantaria militar mas, não chegou a se engajar em combates reais. Através de seu vizinho Frederick Holland foi iniciado na maçonaria e em pouco tempo alcançou o grau mais elevado. Nos círculos maçônicos ganhou a alcunha de "inglês maluco" por causa de suas excentricidades e grande interesse em ocultismo. Ele passou a incluir o nome "Mac Gregor" ao seu alegando ascendência escocesa. Também passou a afirmar que era o rei Jaimie IV (1473-1513) que conseguiu alcançar o "elixir da vida eterna" dos alquimistas e vivia desde aquela época. Jaimie IV foi um rei bastante erudito que tinha interesse em alquimia e sua morte foi obscura, porém, tanto Mathers quanto muitos outros esoteristas da época e de hoje em dia gostam de inventar histórias como essas além de afirmarem serem a reencarnação de personagens famosos do passado. Logo se filiou a sociedade Rosa Cruz da Inglaterra e publicou "A Kabbalah Revelada" em língua inglesa. Esse livro se trata dos três capítulos mais obscuros do Zohar um dos livros básicos da cabala (para saber mais sobre o Zohar recomendo darem uma olhada no post de título "O QUE É CABALA?" desse mesmo blog). Originalmente esses capítulos obscuros do Zohar tinham sido publicados em latim pelo barão Christian Knorr Von Rosenroth (1631-1689) sob o título "Kabbala Denudata". A publicação dessa obra traduzida do latim para o inglês tornou Mathers muito conhecido e ele passou a dar palestras sobre cabala em grupos esotéricos.
A Golden Dawn surgiu principalmente por causa de certos manuscritos misteriosos cifrados que estavam escritos em alemão arcaico e junto aos quais havia uma carta também em alemão que dizia que quem os decifrasse poderia entrar em contato com Ana Sprengel ("Sprengler" segundo outras fontes) de um grupo secreto alemão estilo Rosa Cruz. Existem certos pontos obscuros sobre como tais manuscritos foram encontrados, mas, o certo é que caíram nas mãos de Willian Robert Woodman eminente maçom e Rosa Cruz que comunicou sua descoberta a Willian Wynn Westcott amigo pessoal de Blavatsky e também Rosa Cruz que incumbiu Mathers de traduzir esses manuscritos. O conteúdo desses manuscritos traduzido deixou muito animados os envolvidos, até onde se sabe eles continham a descrição de certos rituais, indicações de técnicas ocultas e comentários sobre o significado deles. Através do contato por carta com Ana Sprengel (se é que realmente existiu alguém com esse nome) os envolvidos receberam mais conhecimento oculto e instruções para formarem a Golden Dawn sendo que Westcott assumiu o cargo de "mago supremo" da ordem. Logo foi iniciado o templo de "Ísis-Urania" em um local modesto de Londres, e em seguida outras "lojas" da Golden Dawn em outros lugares. Em 1888 quando Moina (Mina Bergson 1865-1928) estudava livros de arte egípcia em um museu conheceu Mathers, pouco tempo depois eles se casaram. Nessa época Mathers era curador do museu Horniman. Os contatos por carta com Ana Sprengel acabaram um ano após a formação da Golden Dawn e supõe-se que caso os fundadores quisessem mais orientação e conhecimento oculto deveriam tentar manter contato com os mestres secretos de outra forma. Mathers tinha recebido um tabuleiro tipo ouija, um anel e um disco através dos quais podia manter contato a distância com esses mestres. Passou a se esforçar mais para contactá-los através da projeção astral e de Moina com quem também eles mantiam contato. Certos livros passaram a serem apresentados a Mathers pelos mestres e logo após copiar algo esses livros desapareciam. Pouco tempo depois Westcott abandona a Golden Dawn deixando Mathers como líder supremo da ordem. Nesse período sua renda vinha do patrocínio de Annie Horniman uma das mulheres mais ricas da época e amiga de Moina. A dedicação de Mathers ao estudo do oculto aliada a sua própria erudição (ele conhecia várias línguas como latim, hebraico e gaélico) logrou notáveis frutos como os livros "A Clavícula de Salomão", "Magia Sagrada de Abramelin, o Mago" e o grimório de "Armadel" grimórios que ele publicou. Mas, as intrigas internas na Golden Dawn passaram a ameaçar a estabilidade da ordem. Para quem não está familiarizado com esses assuntos, é muito comum haverem intrigas e disputas de poder em ordens esotéricas tanto entre as consideradas "de mão direita" quanto as consideradas "de mão esquerda". Muitos membros da Golden Dawn, principalmente os dos graus mais baixos não estavam satisfeitos com o modo como Mathers estava exercendo seu comando e muitos acusavam Mathers de ter inventado a história dos mestres secretos para se manter no poder. A estrutura de muitas ordens esotéricas costuma ter uma ordem "externa" ou "aberta" na qual qualquer um pode ser admitido e outra ordem "interna" ou "secreta" onde apenas os membros que alcançam graus elevados são admitidos e onde se divulgam conhecimentos ocultos mais profundos e sofisticados. É muito comum também existir nessas ordens esotéricas verdadeiros "mestres secretos", não são os líderes visíveis, são indivíduos que controlam as diretrizes de longe e costumam entrar em contato com os adeptos apenas quando eles mesmos querem ou quando julgam que eles merecem. É por tais motivos que muitas pessoas de fora da ordem acabam acusando esses mestres de nunca terem existido ou então acabam glamourizando demais a existência deles. Basta citar como exemplo os mestres secretos que orientaram Blavatsky a criar a Sociedade Teosófica. Ela tratava a existência de seus mestres com muita restrição e respeito, mas, outros acabaram desenvolvendo uma obcessão por entrar em contato com eles e atribuíram características e poderes sobre-humanos a eles. Após a morte de Blavastky, muitos tentaram por conta própria entrar em contato com tais mestres e fundaram grupos esotéricos não se sabe se com ou sem a permissão deles. Hoje em dia em muitos grupos holísticos muito se fala sobre "mestres ascensos" da "Loja Branca" (de mão direita) e até se publica em muitos blogs e páginas pela internet supostas mensagens transmitidas através do processo de canalização por esses mestres. Deve-se ter censo crítico para lhe dar com tais informações, é muito fácil entidades "negativas" usarem um médium passivo e transmitirem a mensagem que quiserem iludindo o buscador. Com relação aos mestres secretos que orientaram Mathers ele dizia o seguinte:
"Os conhecimentos da Segunda Ordem foram obtidos por mim por uma série de maneiras, por clarividência, por projeções astrais da minha parte e da parte deles, pelo tabuleiro, pelo anel e disco, ás vezes por voz direta audíveis por meus ouvidos externos e pelos de Vestigia (nome iniciático de Moina) ás vezes pelas cópias de livros que eram trazidos até a mim não sei como e que desapareciam de minha visão assim que a transcrição era feita. O esforço de tal trabalho era enorme, especialmente ao obter o ritual Z que literalmente quase me matou. A prostração nervosa após cada comunicação era terrível pois eu era testado na acuidade de cada passagem comunicada. Essa prostração era acompanhada de tempos em tempos de transpiração gelada e severa perda de sangue pelo nariz, da boca e ocasionalmente dos ouvidos."
No livro "O Despertar dos Mágicos" de Louis Pauwels e Jacques Bergier também há uma citação de Mathers falando sobre esses mestres secretos, veja:
"Nem sequer sei seus nomes terrenos e só muito raramente os vi com os seus corpos físicos...Eles encontram-se fisicamente comigo no tempo e no lugar antecipadamente fixados. Na minha opinião, creio que são seres humanos que habitam a Terra, mas que possuem poderes terríveis e sobre-humanos...As minhas relações físicas com eles mostraram-me quão difícil é para um mortal, por muito evoluído que seja, suportar-lhes a presença. (...) sentia-me em contato com uma força tão terrível que apenas posso comparar ao efeito provocado numa pessoa que esteve perto de um relâmpago durante uma violenta trovoada, acompanhado por uma grande dificuldade de respirar..."
A descrição de Mathers lembra o caso dos adeptos superiores do sufismo a vertente mística do islã, também se diz que os grandes mestres sufi apenas entram em contato com outro adepto menor quando querem e por contato telepático sendo que o líder supremo é conhecido de poucos. Naturalmente tais mestres secretos de Mathers eram adeptos Rosa Cruz, porém não rosacruzes mundanos, acessíveis a qualquer um, e sim adeptos superiores muito evoluídos em todas as técnicas de ocultismo. Lembram o caso da publicação de cartazes tipos manifestos Rosa Cruz em Paris no ano de 1623, esses manifestos diziam que eles estavam presentes na cidade, que tinham grandes poderes e que entrariam em contato com quem quisessem e quem achassem que mereciam.
Por causa de um interesse em alquimia, Crowley também acabou sendo apresentado a Golden Dawn em 1898 e esteve sob a tutela de Mathers por algum tempo. Mathers enviou Crowley a lojas de Londres, mas, devido a má reputação de Crowley e também devido a sua personalidade arrogante os líderes das lojas declararam Mathers como expulso da Golden Dawn. Mas isso não significava nada pois ele ainda se considerava o verdadeiro líder. Em 1901 um casal de charlatães enganaram Mathers se passando por enviados dos mestres secretos e tiveram acesso a documentos descrevendo rituais da ordem e publicando-os em jornais. Mathers tentou processá-los mas o estrago já tinha sido feito e o caso repercutiu muito na imprensa na época. A relação de Mathers com Crowley que antes havia sido de mestre e discípulo também foi abalada. Mathers reivindicou a existência de graus desconhecidos e que apenas ele poderia dar a Crowley sob pagamento de certa quantia. Quando Crowley se deu conta que esses graus secretos e iniciações secretas eram apenas para lhe extorquir dinheiro se afastou de Mathers e passou a pesquisar e estudar sobre o oculto por conta própria. Quando em meados de 1910 Crowley publicou em sua revista Equinox rituais da Golden Dawn Mathers considerou a gota d'água e os dois começaram um duelo astral. Os cães de Crowley foram mortos e outros fenômenos insólitos também se manifestaram em sua mansão causando verdadeiro terror em seus empregados. Eu já mencionei aqui nesse blog vários casos de "confrontos astrais" entre ocultistas e os leitores devem saber que geralmente um ou os dois ocultistas que se enfrentam acabam muito fracos após os confrontos geralmente morrendo pouco tempo depois. Nesse caso não foi diferente, mas, quem parece ter levado a pior foi Mathers que acabou ficando muito enfraquecido e morrendo em Paris de gripe espanhola. Crowley continuou seus estudos e práticas de ocultismo além de seus hábitos excêntricos por alguns anos após a morte de Mathers.
Com relação aos manuscritos originais e as traduções dos manuscritos que continham os rituais que colocaram Mathers e os outros em contato com os mestres secretos muita especulação e teorias foram criadas. Mathers tentou publicar o conteúdo desses manuscritos mas coisas estranhas aconteciam quando ele tentava fazer, seus escritos mudavam de conteúdo sozinhos, pegavam fogo (há muitos relatos de livros de magia que pegam fogo quando alguém sem preparo tenta tirar proveito deles) ou então ele ficava muito doente. Certamente os mestres secretos não desejavam que esse conteúdo fosse tornado público. Seja como for, grandes foram as realizações de Mathers na área do oculto, graças a ele muito material relevante quer seja sobre cabala ou grimórios se tornaram acessíveis ao grande público.
Olá a todos! Nesse post vou falar um pouco sobre a vida e obras de um ocultista que foi um dos fundadores da Golden Dawn, a "Ordem Hermética da Aurora Dourada" a mais influente sociedade esotérica ocidental da era moderna. Foto de Mathers:
Samuel Lidell Mathers nasceu em 1854 faleceu em Paris em 1918. Teve uma infância pobre e quando se tornou maior de idade entrou para a infantaria militar mas, não chegou a se engajar em combates reais. Através de seu vizinho Frederick Holland foi iniciado na maçonaria e em pouco tempo alcançou o grau mais elevado. Nos círculos maçônicos ganhou a alcunha de "inglês maluco" por causa de suas excentricidades e grande interesse em ocultismo. Ele passou a incluir o nome "Mac Gregor" ao seu alegando ascendência escocesa. Também passou a afirmar que era o rei Jaimie IV (1473-1513) que conseguiu alcançar o "elixir da vida eterna" dos alquimistas e vivia desde aquela época. Jaimie IV foi um rei bastante erudito que tinha interesse em alquimia e sua morte foi obscura, porém, tanto Mathers quanto muitos outros esoteristas da época e de hoje em dia gostam de inventar histórias como essas além de afirmarem serem a reencarnação de personagens famosos do passado. Logo se filiou a sociedade Rosa Cruz da Inglaterra e publicou "A Kabbalah Revelada" em língua inglesa. Esse livro se trata dos três capítulos mais obscuros do Zohar um dos livros básicos da cabala (para saber mais sobre o Zohar recomendo darem uma olhada no post de título "O QUE É CABALA?" desse mesmo blog). Originalmente esses capítulos obscuros do Zohar tinham sido publicados em latim pelo barão Christian Knorr Von Rosenroth (1631-1689) sob o título "Kabbala Denudata". A publicação dessa obra traduzida do latim para o inglês tornou Mathers muito conhecido e ele passou a dar palestras sobre cabala em grupos esotéricos.
A Golden Dawn surgiu principalmente por causa de certos manuscritos misteriosos cifrados que estavam escritos em alemão arcaico e junto aos quais havia uma carta também em alemão que dizia que quem os decifrasse poderia entrar em contato com Ana Sprengel ("Sprengler" segundo outras fontes) de um grupo secreto alemão estilo Rosa Cruz. Existem certos pontos obscuros sobre como tais manuscritos foram encontrados, mas, o certo é que caíram nas mãos de Willian Robert Woodman eminente maçom e Rosa Cruz que comunicou sua descoberta a Willian Wynn Westcott amigo pessoal de Blavatsky e também Rosa Cruz que incumbiu Mathers de traduzir esses manuscritos. O conteúdo desses manuscritos traduzido deixou muito animados os envolvidos, até onde se sabe eles continham a descrição de certos rituais, indicações de técnicas ocultas e comentários sobre o significado deles. Através do contato por carta com Ana Sprengel (se é que realmente existiu alguém com esse nome) os envolvidos receberam mais conhecimento oculto e instruções para formarem a Golden Dawn sendo que Westcott assumiu o cargo de "mago supremo" da ordem. Logo foi iniciado o templo de "Ísis-Urania" em um local modesto de Londres, e em seguida outras "lojas" da Golden Dawn em outros lugares. Em 1888 quando Moina (Mina Bergson 1865-1928) estudava livros de arte egípcia em um museu conheceu Mathers, pouco tempo depois eles se casaram. Nessa época Mathers era curador do museu Horniman. Os contatos por carta com Ana Sprengel acabaram um ano após a formação da Golden Dawn e supõe-se que caso os fundadores quisessem mais orientação e conhecimento oculto deveriam tentar manter contato com os mestres secretos de outra forma. Mathers tinha recebido um tabuleiro tipo ouija, um anel e um disco através dos quais podia manter contato a distância com esses mestres. Passou a se esforçar mais para contactá-los através da projeção astral e de Moina com quem também eles mantiam contato. Certos livros passaram a serem apresentados a Mathers pelos mestres e logo após copiar algo esses livros desapareciam. Pouco tempo depois Westcott abandona a Golden Dawn deixando Mathers como líder supremo da ordem. Nesse período sua renda vinha do patrocínio de Annie Horniman uma das mulheres mais ricas da época e amiga de Moina. A dedicação de Mathers ao estudo do oculto aliada a sua própria erudição (ele conhecia várias línguas como latim, hebraico e gaélico) logrou notáveis frutos como os livros "A Clavícula de Salomão", "Magia Sagrada de Abramelin, o Mago" e o grimório de "Armadel" grimórios que ele publicou. Mas, as intrigas internas na Golden Dawn passaram a ameaçar a estabilidade da ordem. Para quem não está familiarizado com esses assuntos, é muito comum haverem intrigas e disputas de poder em ordens esotéricas tanto entre as consideradas "de mão direita" quanto as consideradas "de mão esquerda". Muitos membros da Golden Dawn, principalmente os dos graus mais baixos não estavam satisfeitos com o modo como Mathers estava exercendo seu comando e muitos acusavam Mathers de ter inventado a história dos mestres secretos para se manter no poder. A estrutura de muitas ordens esotéricas costuma ter uma ordem "externa" ou "aberta" na qual qualquer um pode ser admitido e outra ordem "interna" ou "secreta" onde apenas os membros que alcançam graus elevados são admitidos e onde se divulgam conhecimentos ocultos mais profundos e sofisticados. É muito comum também existir nessas ordens esotéricas verdadeiros "mestres secretos", não são os líderes visíveis, são indivíduos que controlam as diretrizes de longe e costumam entrar em contato com os adeptos apenas quando eles mesmos querem ou quando julgam que eles merecem. É por tais motivos que muitas pessoas de fora da ordem acabam acusando esses mestres de nunca terem existido ou então acabam glamourizando demais a existência deles. Basta citar como exemplo os mestres secretos que orientaram Blavatsky a criar a Sociedade Teosófica. Ela tratava a existência de seus mestres com muita restrição e respeito, mas, outros acabaram desenvolvendo uma obcessão por entrar em contato com eles e atribuíram características e poderes sobre-humanos a eles. Após a morte de Blavastky, muitos tentaram por conta própria entrar em contato com tais mestres e fundaram grupos esotéricos não se sabe se com ou sem a permissão deles. Hoje em dia em muitos grupos holísticos muito se fala sobre "mestres ascensos" da "Loja Branca" (de mão direita) e até se publica em muitos blogs e páginas pela internet supostas mensagens transmitidas através do processo de canalização por esses mestres. Deve-se ter censo crítico para lhe dar com tais informações, é muito fácil entidades "negativas" usarem um médium passivo e transmitirem a mensagem que quiserem iludindo o buscador. Com relação aos mestres secretos que orientaram Mathers ele dizia o seguinte:
"Os conhecimentos da Segunda Ordem foram obtidos por mim por uma série de maneiras, por clarividência, por projeções astrais da minha parte e da parte deles, pelo tabuleiro, pelo anel e disco, ás vezes por voz direta audíveis por meus ouvidos externos e pelos de Vestigia (nome iniciático de Moina) ás vezes pelas cópias de livros que eram trazidos até a mim não sei como e que desapareciam de minha visão assim que a transcrição era feita. O esforço de tal trabalho era enorme, especialmente ao obter o ritual Z que literalmente quase me matou. A prostração nervosa após cada comunicação era terrível pois eu era testado na acuidade de cada passagem comunicada. Essa prostração era acompanhada de tempos em tempos de transpiração gelada e severa perda de sangue pelo nariz, da boca e ocasionalmente dos ouvidos."
No livro "O Despertar dos Mágicos" de Louis Pauwels e Jacques Bergier também há uma citação de Mathers falando sobre esses mestres secretos, veja:
"Nem sequer sei seus nomes terrenos e só muito raramente os vi com os seus corpos físicos...Eles encontram-se fisicamente comigo no tempo e no lugar antecipadamente fixados. Na minha opinião, creio que são seres humanos que habitam a Terra, mas que possuem poderes terríveis e sobre-humanos...As minhas relações físicas com eles mostraram-me quão difícil é para um mortal, por muito evoluído que seja, suportar-lhes a presença. (...) sentia-me em contato com uma força tão terrível que apenas posso comparar ao efeito provocado numa pessoa que esteve perto de um relâmpago durante uma violenta trovoada, acompanhado por uma grande dificuldade de respirar..."
A descrição de Mathers lembra o caso dos adeptos superiores do sufismo a vertente mística do islã, também se diz que os grandes mestres sufi apenas entram em contato com outro adepto menor quando querem e por contato telepático sendo que o líder supremo é conhecido de poucos. Naturalmente tais mestres secretos de Mathers eram adeptos Rosa Cruz, porém não rosacruzes mundanos, acessíveis a qualquer um, e sim adeptos superiores muito evoluídos em todas as técnicas de ocultismo. Lembram o caso da publicação de cartazes tipos manifestos Rosa Cruz em Paris no ano de 1623, esses manifestos diziam que eles estavam presentes na cidade, que tinham grandes poderes e que entrariam em contato com quem quisessem e quem achassem que mereciam.
Por causa de um interesse em alquimia, Crowley também acabou sendo apresentado a Golden Dawn em 1898 e esteve sob a tutela de Mathers por algum tempo. Mathers enviou Crowley a lojas de Londres, mas, devido a má reputação de Crowley e também devido a sua personalidade arrogante os líderes das lojas declararam Mathers como expulso da Golden Dawn. Mas isso não significava nada pois ele ainda se considerava o verdadeiro líder. Em 1901 um casal de charlatães enganaram Mathers se passando por enviados dos mestres secretos e tiveram acesso a documentos descrevendo rituais da ordem e publicando-os em jornais. Mathers tentou processá-los mas o estrago já tinha sido feito e o caso repercutiu muito na imprensa na época. A relação de Mathers com Crowley que antes havia sido de mestre e discípulo também foi abalada. Mathers reivindicou a existência de graus desconhecidos e que apenas ele poderia dar a Crowley sob pagamento de certa quantia. Quando Crowley se deu conta que esses graus secretos e iniciações secretas eram apenas para lhe extorquir dinheiro se afastou de Mathers e passou a pesquisar e estudar sobre o oculto por conta própria. Quando em meados de 1910 Crowley publicou em sua revista Equinox rituais da Golden Dawn Mathers considerou a gota d'água e os dois começaram um duelo astral. Os cães de Crowley foram mortos e outros fenômenos insólitos também se manifestaram em sua mansão causando verdadeiro terror em seus empregados. Eu já mencionei aqui nesse blog vários casos de "confrontos astrais" entre ocultistas e os leitores devem saber que geralmente um ou os dois ocultistas que se enfrentam acabam muito fracos após os confrontos geralmente morrendo pouco tempo depois. Nesse caso não foi diferente, mas, quem parece ter levado a pior foi Mathers que acabou ficando muito enfraquecido e morrendo em Paris de gripe espanhola. Crowley continuou seus estudos e práticas de ocultismo além de seus hábitos excêntricos por alguns anos após a morte de Mathers.
Com relação aos manuscritos originais e as traduções dos manuscritos que continham os rituais que colocaram Mathers e os outros em contato com os mestres secretos muita especulação e teorias foram criadas. Mathers tentou publicar o conteúdo desses manuscritos mas coisas estranhas aconteciam quando ele tentava fazer, seus escritos mudavam de conteúdo sozinhos, pegavam fogo (há muitos relatos de livros de magia que pegam fogo quando alguém sem preparo tenta tirar proveito deles) ou então ele ficava muito doente. Certamente os mestres secretos não desejavam que esse conteúdo fosse tornado público. Seja como for, grandes foram as realizações de Mathers na área do oculto, graças a ele muito material relevante quer seja sobre cabala ou grimórios se tornaram acessíveis ao grande público.
sábado, 26 de maio de 2018
CARACTERÍSTICAS DA MAGIA ÁRABE
Olá pessoal! Nesse post vou falar um pouco sobre as características típicas da tradição oculta dos árabes. O sistema mágico árabe possui algumas características muito próprias, mas também certas semelhanças com sistemas de outros povos.
Um dos traços mais marcantes da magia árabe é ligação com os seres espirituais conhecidos como djinns. Os magos árabes já tinham essa ligação com esses seres antes do surgimento de Maomé e o islã, e, depois do islã essa ligação continuou a existir. Os magos árabes antigos possuíam fórmulas conjuratórias para invocar os djinns e obter informações e favores deles. O próprio Alcorão possui versículos que podem ser usados para invocá-los, embora seja pouco recomendável para principiantes. Boa parte dos manuais de magia árabes possuem fórmulas conjuratórias. O "conjurador" invoca um djinn e impõe sua vontade sobre ele. Esse djinn trás outro mais forte que o conjurador domina. Esse trás outro djinn mais forte e assim continua até o conjurador conseguir exercer sua vontade de modo bastante temeroso sobre esse último djinn, é no limite. Por essa razão a conjuração nunca é recomendada para principiantes. Outros métodos de domínio sobre os djinns são baseados na tradição "salomônica" ou seja: remetente ao rei Salomão. A tradição oculta reconhece Salomão como o maior perito em exercer poder sobre tais entidades. Na verdade os árabes herdaram as narrativas mais belas sobre as façanhas mágicas de Salomão. O Alcorão menciona várias realizações de Salomão exercendo poder sobre os djinns os quais ele empregou na construção do templo de Jerusalém e muitas outras tarefas. Se não fosse por Salomão as narrativas das "Mil e Umas Noites" seriam bem menos interessantes, pois, a história de Aladim e a lâmpada mágica se deve a Salomão (o "gênio" preso na lâmpada é um djinn) e o "tapete mágico" também vem das narrativas sobre Salomão pois as crônicas contam que ele e membros de sua corte viajavam sobre um tapete que os levavam pelos ares onde quisessem, não que o tapete tivesse capacidade própria de voar como o da animação da Disney, mas eram djinns específicos que o suspendia e levava pelos ares. Há de fato técnicas dos magos árabes para se prender um djinn em uma garrafa.
Um dos símbolos muito usados em várias partes do Oriente Médio é a chamada "mão de Fátima", "hamsá" ou "mão hamesh". O uso de um símbolo de uma mão aberta como proteção contra o "olho gordo", "inveja" vem desde tempos antigos. Hoje tanto judeus quanto árabes fazem uso de muitas variações desse símbolo. Um exemplo de "mão de Fátima":
Muito usado na tradição oculta árabe são os chamados "quadrados mágicos" são conjuntos de quadrados contendo em cada quadrinho números, e alguns casos letras. As letras e números não são colocadas de modo aleatório nos quadrados, são colocados de modo a soma do valor desses números e letras por coluna ou linha dar um número com significado específico. São como "pantáculos" tem funções específicas e a tradição árabe possui riquíssimas variações deles veja alguns exemplos:
A chamada "magia do nó" já era conhecida a muito tempo pelos árabes antes do islã. Há registros de "feitiços" feitos por feiticeiras judias contra Maomé usando a "magia do nó". Essa técnica consiste em pegar um cordão e a cada nó dado nesse cordão é "atado" um malefício se assoprando três vezes. Outros detalhes como algum objeto pessoal da vítima alvo ou material genético, cabelo por exemplo é incluído nesse "feitiço" e escondido em um poço. Maomé realmente sofreu as consequências desses malefícios, mas, conseguiu encontrar o poço onde tal malefício tinha sido ocultado e o desfez. É contra a "magia do nó" que o capítulo 113 do Alcorão intitulado "A Alvorada" pede proteção, veja esse capítulo:
"Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso.
Dize: "Procuro refúgio junto ao senhor da Alvorada
Contra o mal das criaturas que Ele criou
Contra o mal das trevas quando se estendem
Contra o mal das feiticeiras quando sopram sobre seus nós,
Contra o mal do invejoso quando inveja."
O sopro faz parte das práticas da magia árabe, na magia árabe se considera que o sopro contém a vontade de quem está realizando tal ato, o sopro contém a energia do operador por isso tem que ser assoprado com vontade. Além disso, o número três tem significado extremamente relevante nessa tradição, representa a confirmação de algo; princípio, meio e fim. Por isso em seus atos os adeptos árabes assopram três vezes, isso é mostrado no filme "Constantine" quando o personagem Papa Meia Noite interpretado por Djimon Hounsou assopra três vezes em determinados atos.Também nas técnicas de exorcismo árabe o exorcista costuma assoprar na narina da vítima que está sofrendo possessão. Existe na tradição árabe o método de exorcismo considerado "ilegal" ou "proibido" e o método "legal", "permitido". No método "ilegal" de exorcismo o exorcista conjura outro djinn para forçar aquele que possui a vítima a sair. Esse método é considerado feitiçaria ("ruqya" em árabe) por isso é proibido. Já no método legal o exorcista (que é chamado de "shij" em árabe) exorta o djinn a sair do corpo da vítima e pode até mesmo bater na vítima pois se considera que é o djinn que sofrerá os golpes. Certos versículos do Alcorão especialmente usados para exorcismos são recitados sobre a vítima. Também se costuma moldar pedaços de pão na forma das letras desses versículos para a vítima comer pois se considera que as letras tem o mesmo poder das palavras faladas. Um tipo específico de exorcista do mundo árabe são os chamados "rifai" os rifais seguem uma tradição que remonta ao antigo Egito. Eles entram nas casas e entoam certas recitações. Os tipos específicos de entidades saem então da casa espontaneamente como serpentes ou escorpiões.
Existem grupos específicos dentro da tradição muçulmana dedicado ao misticismo, grupos como os sufis e os dervixes da Turquia. Os dervixes da Turquia são mais reconhecidos aqui no Ocidente por causa das cerimônias na qual eles dançam rodopiando. O propósito dessa cerimônia é o adepto se induzir a estados alterados de consciência através do qual pode realizar os feitos ocultos:
Agora sobre os sufis. Os ensinamentos do sufismo são chamados de "tassawwuf". Os sufis não são monges que vivem isolados da sociedade, inclusive esse comportamento é condenado pelo sufismo. Eles são membros ativos da sociedade comum. Quem apresentou muitas informações esclarecedoras sobre o submundo do sufismo foi o pesquisador e autor Idries Shah (1924-1996). Shah que é de origem afegã e conheceu bem essas tradições e diz que o sufismo é uma força poderosa no mundo embora discreta, praticamente invisível. Ele afirma que as ordens do sufismo são organizadas de modo hierárquico e que existem representantes deles espalhados em várias partes do mundo sendo que o líder apenas poucos conhecem, ele costuma entrar em contato com os outros de modo telepático. Entre as façanhas que os adeptos sufis podem realizar estão a "anulação do tempo". Para eles o tempo não tem significado real, e, quando em estados alterados de consciencia, em estado de êxtase, são capazes de induzir na mente de outros projeções de experiências como sonhos porém altamente realísticas na qual a pessoa sente que está vivendo anos de sua vida, porém quando volta a si percebe que não se passou sequer um segundo. É narrado histórias de que o mago escoçês Michael Scot (1175-1235) induziu pessoas a experiências assim. Ele é conhecido como um estudioso escoçês que aprendeu essas técnicas de magos árabes quando estudou nas universidades da Europa. É dito que os grandes adeptos sufis podem se encontrar em outro plano no qual o tempo não existe, conversam por horas, depois retornam a nosso plano e tempo algum se passou em nossa marcação. Um dos meios usado pelos sufis para se induzir a esses estados de êxtase são os chamados "dhikr" que significa "lembrança" ou "invocação de Deus". Um exemplo de dhikr: "não existe outro deus a não ser Deus (Alá)" tal frase é repetida muitas vezes de modo automático verbalmente ou mentalmente até a mente entrar nesse estado específico através do qual o adepto pode realizar os feitos extraordinários. A "viagem astral" também chamada de "projeção de consciência" ou "dobra" também faz parte das técnicas dos sufis. Idries Shah chama a ordem sufi de "governo oculto" pois é poderosa embora discreta. Basta mencionar que Blavatsky (falei sobre ela no post desse mesmo blog intitulado "OCULTISTAS NOTÁVEIS-7") dizia que era uma ordem sufi que estava de posse da "verdadeira cabala" diferente da cabala conhecida pela maioria dos adeptos ocidentais judeus e cristãos cujo conhecimento estava sintetizado no que ela chamava "Livro Caldeu dos Números". Outro adepto, Gurdjieff (sobre o qual falei no post desse mesmo blog intitulado "OCULTISTAS NOTÁVEIS-3") também menciona uma poderosa ordem de características sufi que ele chama de "Irmandade de Sarmoung" que vem preservando conhecimentos ocultos desde os tempos de Zaratustra. Muito dos próprios ensinamentos de Gurdjieff tinham características sufis.
Para encerrar mencionarei duas importantes contribuições dos adeptos árabes para duas áreas do oculto: a alquimia e a astrologia. Com relação as contribuições do misticismo árabe para a alquimia basta mencionar que o aparelho usado para a destilação, para se extrair o alcool chamado alambique foi inventado pelos árabes. A própria palavra "alcool" é de origem árabe. Como a religião muçulmana proibe seus adeptos de ingerir bebida alcoólica eles associaram a substância a algo negativo, a palavra "alcool" vem de "Algol" que significa "cabeça do demônio" é o nome da estrela da constelação de Perseu que corresponde a cabeça da medusa que ele segura. Além disso, foi graças a difusão de escritos de autores árabes na Europa como Geber (721-815) e Avicena (980-1037) que a alquimia foi difundida por lá. Com relação a contribuição dos adeptos árabes na área da astrologia mencionarei que muitas estrelas foram observadas e nomeadas por astrólogos/astrônomos árabes por isso receberam nomes árabes como Aldebarã da constelação de touro e a já mencionada estrela Algol da constelação de Perseu. Essas são algumas das características do ocultismo árabe que quis registrar.
Olá pessoal! Nesse post vou falar um pouco sobre as características típicas da tradição oculta dos árabes. O sistema mágico árabe possui algumas características muito próprias, mas também certas semelhanças com sistemas de outros povos.
Um dos traços mais marcantes da magia árabe é ligação com os seres espirituais conhecidos como djinns. Os magos árabes já tinham essa ligação com esses seres antes do surgimento de Maomé e o islã, e, depois do islã essa ligação continuou a existir. Os magos árabes antigos possuíam fórmulas conjuratórias para invocar os djinns e obter informações e favores deles. O próprio Alcorão possui versículos que podem ser usados para invocá-los, embora seja pouco recomendável para principiantes. Boa parte dos manuais de magia árabes possuem fórmulas conjuratórias. O "conjurador" invoca um djinn e impõe sua vontade sobre ele. Esse djinn trás outro mais forte que o conjurador domina. Esse trás outro djinn mais forte e assim continua até o conjurador conseguir exercer sua vontade de modo bastante temeroso sobre esse último djinn, é no limite. Por essa razão a conjuração nunca é recomendada para principiantes. Outros métodos de domínio sobre os djinns são baseados na tradição "salomônica" ou seja: remetente ao rei Salomão. A tradição oculta reconhece Salomão como o maior perito em exercer poder sobre tais entidades. Na verdade os árabes herdaram as narrativas mais belas sobre as façanhas mágicas de Salomão. O Alcorão menciona várias realizações de Salomão exercendo poder sobre os djinns os quais ele empregou na construção do templo de Jerusalém e muitas outras tarefas. Se não fosse por Salomão as narrativas das "Mil e Umas Noites" seriam bem menos interessantes, pois, a história de Aladim e a lâmpada mágica se deve a Salomão (o "gênio" preso na lâmpada é um djinn) e o "tapete mágico" também vem das narrativas sobre Salomão pois as crônicas contam que ele e membros de sua corte viajavam sobre um tapete que os levavam pelos ares onde quisessem, não que o tapete tivesse capacidade própria de voar como o da animação da Disney, mas eram djinns específicos que o suspendia e levava pelos ares. Há de fato técnicas dos magos árabes para se prender um djinn em uma garrafa.
Um dos símbolos muito usados em várias partes do Oriente Médio é a chamada "mão de Fátima", "hamsá" ou "mão hamesh". O uso de um símbolo de uma mão aberta como proteção contra o "olho gordo", "inveja" vem desde tempos antigos. Hoje tanto judeus quanto árabes fazem uso de muitas variações desse símbolo. Um exemplo de "mão de Fátima":
Muito usado na tradição oculta árabe são os chamados "quadrados mágicos" são conjuntos de quadrados contendo em cada quadrinho números, e alguns casos letras. As letras e números não são colocadas de modo aleatório nos quadrados, são colocados de modo a soma do valor desses números e letras por coluna ou linha dar um número com significado específico. São como "pantáculos" tem funções específicas e a tradição árabe possui riquíssimas variações deles veja alguns exemplos:
A chamada "magia do nó" já era conhecida a muito tempo pelos árabes antes do islã. Há registros de "feitiços" feitos por feiticeiras judias contra Maomé usando a "magia do nó". Essa técnica consiste em pegar um cordão e a cada nó dado nesse cordão é "atado" um malefício se assoprando três vezes. Outros detalhes como algum objeto pessoal da vítima alvo ou material genético, cabelo por exemplo é incluído nesse "feitiço" e escondido em um poço. Maomé realmente sofreu as consequências desses malefícios, mas, conseguiu encontrar o poço onde tal malefício tinha sido ocultado e o desfez. É contra a "magia do nó" que o capítulo 113 do Alcorão intitulado "A Alvorada" pede proteção, veja esse capítulo:
"Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso.
Dize: "Procuro refúgio junto ao senhor da Alvorada
Contra o mal das criaturas que Ele criou
Contra o mal das trevas quando se estendem
Contra o mal das feiticeiras quando sopram sobre seus nós,
Contra o mal do invejoso quando inveja."
O sopro faz parte das práticas da magia árabe, na magia árabe se considera que o sopro contém a vontade de quem está realizando tal ato, o sopro contém a energia do operador por isso tem que ser assoprado com vontade. Além disso, o número três tem significado extremamente relevante nessa tradição, representa a confirmação de algo; princípio, meio e fim. Por isso em seus atos os adeptos árabes assopram três vezes, isso é mostrado no filme "Constantine" quando o personagem Papa Meia Noite interpretado por Djimon Hounsou assopra três vezes em determinados atos.Também nas técnicas de exorcismo árabe o exorcista costuma assoprar na narina da vítima que está sofrendo possessão. Existe na tradição árabe o método de exorcismo considerado "ilegal" ou "proibido" e o método "legal", "permitido". No método "ilegal" de exorcismo o exorcista conjura outro djinn para forçar aquele que possui a vítima a sair. Esse método é considerado feitiçaria ("ruqya" em árabe) por isso é proibido. Já no método legal o exorcista (que é chamado de "shij" em árabe) exorta o djinn a sair do corpo da vítima e pode até mesmo bater na vítima pois se considera que é o djinn que sofrerá os golpes. Certos versículos do Alcorão especialmente usados para exorcismos são recitados sobre a vítima. Também se costuma moldar pedaços de pão na forma das letras desses versículos para a vítima comer pois se considera que as letras tem o mesmo poder das palavras faladas. Um tipo específico de exorcista do mundo árabe são os chamados "rifai" os rifais seguem uma tradição que remonta ao antigo Egito. Eles entram nas casas e entoam certas recitações. Os tipos específicos de entidades saem então da casa espontaneamente como serpentes ou escorpiões.
Existem grupos específicos dentro da tradição muçulmana dedicado ao misticismo, grupos como os sufis e os dervixes da Turquia. Os dervixes da Turquia são mais reconhecidos aqui no Ocidente por causa das cerimônias na qual eles dançam rodopiando. O propósito dessa cerimônia é o adepto se induzir a estados alterados de consciência através do qual pode realizar os feitos ocultos:
Agora sobre os sufis. Os ensinamentos do sufismo são chamados de "tassawwuf". Os sufis não são monges que vivem isolados da sociedade, inclusive esse comportamento é condenado pelo sufismo. Eles são membros ativos da sociedade comum. Quem apresentou muitas informações esclarecedoras sobre o submundo do sufismo foi o pesquisador e autor Idries Shah (1924-1996). Shah que é de origem afegã e conheceu bem essas tradições e diz que o sufismo é uma força poderosa no mundo embora discreta, praticamente invisível. Ele afirma que as ordens do sufismo são organizadas de modo hierárquico e que existem representantes deles espalhados em várias partes do mundo sendo que o líder apenas poucos conhecem, ele costuma entrar em contato com os outros de modo telepático. Entre as façanhas que os adeptos sufis podem realizar estão a "anulação do tempo". Para eles o tempo não tem significado real, e, quando em estados alterados de consciencia, em estado de êxtase, são capazes de induzir na mente de outros projeções de experiências como sonhos porém altamente realísticas na qual a pessoa sente que está vivendo anos de sua vida, porém quando volta a si percebe que não se passou sequer um segundo. É narrado histórias de que o mago escoçês Michael Scot (1175-1235) induziu pessoas a experiências assim. Ele é conhecido como um estudioso escoçês que aprendeu essas técnicas de magos árabes quando estudou nas universidades da Europa. É dito que os grandes adeptos sufis podem se encontrar em outro plano no qual o tempo não existe, conversam por horas, depois retornam a nosso plano e tempo algum se passou em nossa marcação. Um dos meios usado pelos sufis para se induzir a esses estados de êxtase são os chamados "dhikr" que significa "lembrança" ou "invocação de Deus". Um exemplo de dhikr: "não existe outro deus a não ser Deus (Alá)" tal frase é repetida muitas vezes de modo automático verbalmente ou mentalmente até a mente entrar nesse estado específico através do qual o adepto pode realizar os feitos extraordinários. A "viagem astral" também chamada de "projeção de consciência" ou "dobra" também faz parte das técnicas dos sufis. Idries Shah chama a ordem sufi de "governo oculto" pois é poderosa embora discreta. Basta mencionar que Blavatsky (falei sobre ela no post desse mesmo blog intitulado "OCULTISTAS NOTÁVEIS-7") dizia que era uma ordem sufi que estava de posse da "verdadeira cabala" diferente da cabala conhecida pela maioria dos adeptos ocidentais judeus e cristãos cujo conhecimento estava sintetizado no que ela chamava "Livro Caldeu dos Números". Outro adepto, Gurdjieff (sobre o qual falei no post desse mesmo blog intitulado "OCULTISTAS NOTÁVEIS-3") também menciona uma poderosa ordem de características sufi que ele chama de "Irmandade de Sarmoung" que vem preservando conhecimentos ocultos desde os tempos de Zaratustra. Muito dos próprios ensinamentos de Gurdjieff tinham características sufis.
Para encerrar mencionarei duas importantes contribuições dos adeptos árabes para duas áreas do oculto: a alquimia e a astrologia. Com relação as contribuições do misticismo árabe para a alquimia basta mencionar que o aparelho usado para a destilação, para se extrair o alcool chamado alambique foi inventado pelos árabes. A própria palavra "alcool" é de origem árabe. Como a religião muçulmana proibe seus adeptos de ingerir bebida alcoólica eles associaram a substância a algo negativo, a palavra "alcool" vem de "Algol" que significa "cabeça do demônio" é o nome da estrela da constelação de Perseu que corresponde a cabeça da medusa que ele segura. Além disso, foi graças a difusão de escritos de autores árabes na Europa como Geber (721-815) e Avicena (980-1037) que a alquimia foi difundida por lá. Com relação a contribuição dos adeptos árabes na área da astrologia mencionarei que muitas estrelas foram observadas e nomeadas por astrólogos/astrônomos árabes por isso receberam nomes árabes como Aldebarã da constelação de touro e a já mencionada estrela Algol da constelação de Perseu. Essas são algumas das características do ocultismo árabe que quis registrar.
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