domingo, 13 de maio de 2018

OCULTISTAS  NOTÁVEIS-7

   Olá pessoal! Nesse post vou falar sobre uma ocultista que é uma das personagens ou a personagem mais marcante do que viria ser chamado de movimento "Nova Era" décadas após sua morte, a russa Helena Petrovna Blavatsky (1831-1891). Foto dela em idade adulta:
   A primeira vez que tive contato com informações sobre Blavatsky alguns anos atrás as primeiras coisas que encontrava eram acusações de que ela seria uma fraude como médium/ocultista, que as supostas cartas que recebia de seus "mestres secretos" eram falsas, que fazia uso de haxixe e que é da Sociedade Teosófica que ela fundou que os nazistas tiraram seus conceitos de "raça ariana", "raça superior", "raça inferior" e que teriam se apropriado da cruz suástica a partir dessa sociedade que a tinha como um de seus emblemas. Até hoje em dia muitas calúnias sobre ela e sua Sociedade Teosófica continuam a se propagar. Considero a melhor biografia sobre ela "Madame Blavatsky-A Mãe da Espiritualidade Moderna" do autor Gary Lachman lançado aqui no Brasil pela Editora Pensamento que recomendo aos interessados, aqui nesse post vou tentar registrar alguns pontos de sua vida e realizações. Blavatsky nasceu de uma família de origem nobre da Rússia, seu pai foi um capitão do exército que devido a seu emprego se mudava constantemente com a família. Sua mãe foi uma romancista reconhecida ainda em vida mas que morreu jovem. Ela não foi uma criança comum, além da personalidade ousada e obstinada que manteve a vida toda, também tinha uma percepção diferente da realidade, gostava de dizer a pessoas que conhecia pela primeira vez a data em que iriam falecer (ainda que não "adivinhasse" realmente) e tinha facilidade para hipnotizar animais como pombos e outras crianças. Também via objetos inanimados como se tivessem vida, ao encontrar fósseis descrevia como eram aqueles animais em vida, falava sobre viagens "pelas estrelas a outros mundos", tinha "amigos imaginários" que chamava de seus "corcundas" com quem conversava e ás vezes ria das histórias por eles contadas. Ainda na infância teve contato com a etnia camuque que era adepta do budismo tibetano o que talvez a tenha influenciado a seguir o budismo mais tarde. Ela falava que tinha uma espécie "protetor" com a aparência de um indiano alto que ás vezes lhe aparecia em sonhos. Em acidente montando a cavalo quase morreu pendurada na sela sendo salva porque dizia ela uma mão lhe segurou a cabeça evitando o pior. Na sua adolescência encontrou na vasta biblioteca de seu bisavô o príncipe Pavel Vasilyevich Dolgorouki muitos livros onde saciar sua sede intelectual especialmente livros sobre alquimia e outras ciências ocultas em geral. Seu bisavô foi um eminente maçom com fortes inclinações ao esoterismo. Aos 17 anos sua família lhe arranjou um casamento com Nikifor vice governador de uma província e com mais do dobro de sua idade. Seu estilo independente não combinava com isso, sugere-se que tal ocorrido foi levado adiante porque segundo ela o velho Nikifor era o único que dava algum crédito a suas alegações sobre o oculto. Outra sugestão era de que sua governanta teria usado algo como uma "psicologia reversa" desafiando ela dizendo que não teria coragem de fazê-lo. Seja qual tenha sido o motivo, ela fugiu após a cerimônia para a Turquia, foi o início de uma vida errante por vários países. Em 1864 ela caiu de seu cavalo próximo do Mar Negro e ficou doente por meses quase morrendo, mas se recuperou. Ela recebeu instruções de seu mestre secreto o indiano que considerava seu protetor de que teria de ir ao Tibet onde passaria por um treinamento de três anos. Após muitas peripécias finalmente chegou lá em meados de 1867 e ficou na casa de um amigo de seu mestre chamado Koot Humi. Lá sob orientação dos mestres aprendeu a controlar suas habilidades mediúnicas, ler mentes, projetar seu pensamento, materializar objetos, projeção astral e outras habilidades. Também aprendeu uma suposta língua raiz chamada "senzar" na qual havia sido escrito um livro contendo  as crônicas das gerações passadas da humanidade, as outras "raças raiz" como atlante e lemuriana. Foi orientada de que ela teria de fundar uma sociedade para provar a veracidade de certos fenômenos e conhecimentos antigos a sociedade ocidental que havia ficado demasiadamente materialista. Em 1871 rumou para o Egito e no Cairo se encontrou com um esoterista, um tal Paulus Matamom, além de Hilarion um dos "mestres secretos". Tentou formar lá um grupo estilo "espírita" manifestando certos fenômenos mas, os já estabelecidos desse grupo eram charlatães e ela quase foi morta por um sujeito que indignado com as bugigangas do grupo se sentiu enganado. Em 1873 chegou a Nova York com pouco dinheiro e se integrou a uma coperativa de mulheres costureiras. Pelos jornais ela acompanhava com interesse reportagens sobre estranhos fenômenos que aconteciam em uma fazenda em Chittenden, Vermount e em 1874 foi lá pessoalmente e conheceu o coronel Henry Stell Olcott (1832-1907) que assinou algumas dessas reportagens. Até hoje muitos acusam Olcott de ter sido um ingênuo arrastado a essa aventureira e suas fantasias esotéricas. Olcott serviu com bravura na Guerra Civil Americana, foi um dos homens indicados a investigar a morte de Abraham Lincoln, teve grandes realizações na área da agricultura tendo publicado livros respeitados nessa área. Naquele momento ele exercia a advocacia se especializando na área de seguros e questões aduaneiras além de trabalhar como repórter com algum interesse na área do espiritualismo. Blavatsky estava com um casaco militar vermelho de quando lutou na guerra de independência da Itália ao lado de Garibaldi e exibia balas alojadas de mosquete na perna e no ombro. É surreal que ela tenha sobrevivido a essa e tantas outras situações em que ficou frete-a-frente com a morte! Passaram a se tornar parceiros com interesses ocultistas. Blavatsky e Olcott:
   Com relação ao espiritismo, as reuniões em torno das "mesas giratórias" haviam se tornado uma mania tanto na Europa quanto nos EUA atraindo muitos interessados naquela época. Mas Blavatsky explicou que aqueles fenômenos eram induzidos por médiuns passivos e ativos através de "larvas astrais" (chamados de "casca" ou "qlipha" na cabala) que manifestavam coisas como materializações de objetos, batidas e aparição de imagens de pessoas falecidas, na verdade seriam projeções tiradas da mente dos participantes pois o caminho para o "outro lado" não era tão escancarado assim. Portanto ela considerava os espiritualistas como ingênuos. Ela e a Sociedade Teosófica que fundaria angariariam muitos inimigos entre os grupos espiritualistas. Em 1875 o ocultista Pascal Beverly Randolph se suicidou (falei sobre ele em outro post desse blog intitulado "OCULTISTAS  NOTÁVEIS-4"). Randolph era membro da "Irmandade Hermética de Luxor" pioneira na divulgação de técnicas ocultistas no Ocidente é possível que Blavatsky também tenha pertencido a esse grupo. Sugere-se que Randolph e Blavatsky tenham estado em algum tipo de "combate astral" naquele período pois Blavatsky não aprovava a inclusão da "magia sexual" entre as práticas a serem divulgadas ao público ocidental. Como consequência da disputa o infeliz Randolph teria se suicidado. Nessa época outro episódio estranho ocorreu, Blavatsky contraiu matrimônio com um outro russo Michael C. Betanelly (na verdade da Geórgia região da Europa Oriental). Beltanelly demonstrou grande admiração por Blavatsky e até ameaçou se suicidar se ela não aceitasse. Sugere-se que a princípio Blavatsky tenha se identificado com esse sujeito devido a seus infortúnios mas tudo aponta que ele visava ter acesso a algumas vantagens econômicas pois estava falido em seus negócios. Casaram e se separaram em mais um tipo de episódio cômico/trágico. Em 1875 foi oficialmente fundado a Sociedade Teosófica por Blavatsky, Olcott e outros apoiadores visando apresentar ao público ocidental certas "verdades esquecidas" e ofuscadas pelo materialismo da época. O lema da sociedade era "não há religião superior a verdade" e vários símbolos já consagrados a muito pelas tradições ocultistas antigas como a serpente ororoboros, o hexagrama, a cruz ankh, a cruz suástica e o "om" foram reunidos no emblema do grupo, veja:
    Em 1877 foi publicado o livro "Ísis Sem Véu" que foi um grande sucesso e aclamado pelo público entusiasta do oculto esgotando rapidamente a primeira tiragem. Impressionou a muitos a quantidade de referências sendo que Blavatsky não tinha como Olcott confirmava acesso a todos aqueles livros citados na obra, muitos nem estavam disponíveis nos EUA. A explicação estava no método de trabalho de escrita dela, Blavatsky usava de um processo no qual visualizava o trecho do livro que consultava em outro plano, Olcott viu-a em várias ocasiões olhando "para o nada" ou para algo que ele não percebia e então escrevendo. 
   Seguindo as orientações de seus "mestres secretos", Blavatsky decidiu ir a Índia acompanhada de Olcott. Em 1879 chegaram na Índia. Embora inicialmente a Sociedade Teosófica que tinha entre as matérias propagadas o budismo e o hinduísmo tenha se associado a grupos semelhantes na Índia, logo os grupos se separaram por incompatibilidade de ideias. Um inglês Alfred Percy Sinnett editor do jornal "The Pioner" se encontrou com eles demonstrando grande interesse nos fenômenos do espiritismo. Blavatsky logo deu a ele muitas demonstrações de fenômenos como materializações. Mas essa voluntariedade dela em fazer demonstrações abertamente e fartamente a ocidentais pouco preparados para entender a natureza de tais fenômenos foi péssima ideia e lhe trouxe más consequências no futuro. Sinnett acabou desenvolvendo uma obcessão em manter contato com os "mestres secretos" o que Blavatsky não aprovava. Olcott realizou um grande trabalho difundindo o budismo no Sri Lanka. Mas a Sociedade Teosófica sofreu alguns ataques na Índia, segundo os "mestres secretos" instigados pelos missionários cristãos. Blavatsky saiu da Índia para seu último tour pela Europa.
   Em 1885 ela chegou na Itália. Depois foi para o norte da Baviera na casa de uma amiga teosofista onde passou a trabalhar a pedido de seus "mestres secretos" em sua obra mais importante "A Doutrina Secreta" que viria ser publicado em seis volumes. Naquela altura dos acontecimentos sua saúde não estava nada bem, ela havia adquirido muito peso, acúmulo de líquidos nas articulações (hidropisia e gota) e tinha sérios problemas renais. Também quase não podia andar devido a dores nas pernas. Foi declarado como praticamente morta por um médico que a examinou. Mas apesar disso, no dia seguinte estava ativa para surpresa de todos. Decidiu ir a Londres, Inglaterra onde passaria seus últimos dias. Em 1887 chegou em Londres. Aquela Inglaterra Vitoriana era a mesma onde Conan Doyle ambientava as aventuras de seu Sherlock Holmes e pouco depois da chegada dela o estranho personagem que até hoje povoa o imaginário popular o mais famoso serial killer entrava em ação: Jack o Estripador. Passou a editar uma revista destinada a divulgar a teosofia chamada provocativamente "Lucifer". Também passou a orientar pessoalmente um restrito grupo de adeptos teosofistas em conhecimentos mais avançados. Ela dizia que o responsável por supervisionar esse seleto grupo era um dos "mestres secretos" disfarçado entre eles. Quanto a esses mestres, o indiano misterioso que ela considerava seu protetor desde criança era o chamado mestre Morya e ela o encontrou pessoalmente pela primeira vez no Hyde Park na Inglaterra. Outros que lhe orientaram foram o já citado Koot Humi, e Saint Germain (conhecido na Europa no séc. XVIII como um aventureiro alquimista "imortal") polêmicas á parte, há uma foto com ela ao lado dos mestres:

   Em 1888 foi publicado o primeiro volume de "A Doutrina Secreta" como não encontraram uma editora comercial que manifestasse interesse em publicar, eles fundaram sua própria editora teosófica. O texto foi recebido com muita estranheza pelo público pois era até mais complexo do que "Ísis Sem Véu" pois os mais variados assuntos eram tratados sem conexão aparente uns com os outros e até hoje chega a assustar leitores despreparados para esses diversos temas. Nessa época um personagem que ficaria famoso em seu país de origem conheceu Blavatsky e a teosofia, Gandhi. Ele era um jovem estudante na verdade muito ocidentalizado, apenas mais tarde iria se voltar ás suas raízes indianas. Outro texto relevante publicado por ela nesse período foi "A Voz do Silêncio" reconhecido como texto principal do budismo da vertente Mahayana. O editor espiritualista W. T. Stead pediu a Annie Bessant (1847-1933) para fazer uma crítica sobre "A Doutrina Secreta" assim que foi publicado. Bessant era uma mulher com forte perfil "revolucionário", participou dos primeiros protestos pela melhoria de condições nas fábricas das mulheres trabalhadores e naquela época era ateia. Ela se identificava profundamente com os ideais socialistas e acabou adiante alcançando o grau mais elevado na maçonaria e outros grupos esotéricos. Annie Bessant:
   A princípio se mostrou cética em relação ao conteúdo do livro, mas acabou encontrando algo realmente interessante nele. Conheceu Blavatsky e se filiou a teosofia desempenhando importante papel no grupo após a morte de Blavatsky. Outro personagem que desempenhou importante papel na teosofia após a morte de Blavatsky foi Charles Webster Leadbeater ex-sacerdote da igreja Anglicana e fundador da Igreja Católica liberal além de maçom de alto grau. Leadbeater:
   Ele publicou importantes obras tratando de chacras (pontos vitais) e do plano astral. Em 1891 Blavatsky faleceu após seu médico verificar que a saúde dela já estava muito frágil. Seu companheiro Olcott que estava na Austrália naquele momento afirmou que sentiu que ela havia partido naquele momento. O legado de Blavatsky é enorme e continua a influenciar diversos grupos esotéricos até hoje em dia. As polêmicas também continuam. Há grupos hoje estilo "Nova Era" grupos ditos "Holísticos" que dão uma importância exagerada aos "mestres secretos" que orientaram Blavatsky inclusive apresentando supostas mensagens canalizadas por esses mestres. Deve-se ter cautela com esses grupos para não cair em um "novo culto" colocando toda responsabilidade espiritual da humanidade nas mãos de personagens obscuros. O adepto verdadeiro deve assumir responsabilidade por sua própria evolução espiritual e não despejar ela nas mãos de terceiros. Quanto a própria Blavatsky ainda em vida ela sofreu pesadas acusações de fraude de seus vários inimigos, missionários cristãos, espiritualistas, nacionalistas indianos e até foi acusada de ser uma espiã a serviço da Inglaterra ou Rússia. Sua personalidade era intratável e ela realmente fumava muito, mas cigarro comum que ela mesma enrolava, certamente isso passava uma imagem muito mundana para quem esperava encontrar um tipo de ser "místico". Muito do que ela fez foi sob orientação de seus mestres e a Sociedade Teosófica continua até hoje o que mostra que sua missão foi concluída com sucesso. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário