Olá a todos! Nesse post vou falar sobre alguns personagens e mistérios intrigantes da tradição árabe/muçulmana sobre os quais mesmo os eruditos da comunidade muçulmana costumam divergir e não tem uma opinião formada e conclusiva sobre isso.
O Alcorão é sem dúvidas um livro incomum, muito peculiar sobretudo pela maneira como foi transmitido a Maomé: em partes e ainda abordando sobre acontecimentos da época em que era revelado e dos tempos antigos. Para ter uma noção, recomendo que deem uma olhada em outro post desse mesmo blog intitulado "MAOMÉ E O ALCORÃO".
Um dos maiores mistérios do Alcorão são letras soltas que aparecem no início de alguns capítulos. Além da expressão "Em nome de Deus, o clemente o misericordioso" que é o cabeçalho de todos capítulos, alguns apresentam letras como "Mem, lam, he" por exemplo. O significado dessas letras é motivo de muita especulação entre os estudiosos. Da minha parte, eu suponho que elas devem ter sido incluídas no texto pelos escribas responsáveis por registrar o Alcorão, pois, como o leitor deve saber o Alcorão é essencialmente um livro oral, apenas algumas gerações após a morte de Maomé é que os fragmentos memorizados pelos seguidores foram escritos. Creio que o significado dessas letras apenas os escribas responsáveis por registrar o Alcorão por escrito devem saber pois eles devem ter incluído-as com algum propósito e significado. Assim sendo, seu significado permanece obscuro para a maioria, mas talvez alguns estudiosos saibam.
Assim como a Bíblia, o Alcorão possui várias narrativas sobrenaturais envolvendo seres espirituais: djinns (conhecidos como "gênios" aqui no mundo ocidental), anjos e demônios (demônios costumam serem chamados de "shaitan" na tradição árabe). Uma dessas narrativas do Alcorão fala sobre a história dos anjos Harut e Marut. Essa história se encontra no capítulo 2 versículo 102, veja um trecho:
"Descrentes foram os djinns que ensinaram aos homens a magia e o que havia sido revelado na Babilônia aos dois anjos Harut e Marut. Mas esses nunca instruíram alguém sem antes preveni-lo: "Fomos enviados para para tentar-te. Não renúncieis a tua fé." Deles, os homens aprenderam um feitiço capaz de semear a discórdia entre marido e mulher. Assim mesmo não são capazes de usar contra ninguém sem a permissão de Deus.(...)"
Embora o destino desses anjos não esteja no texto, a tradição diz que eles foram enviados a Babilônia para testar os homens. Porém, as pessoas íam até eles para saber "feitiços" que lhes ajudasse nas suas picuinhas sociais e mesmo assim é dito que tais "feitiços" apenas funcionavam com a permissão de Deus. De um modo geral, isso é o que eu considero a "baixa magia" e quem estuda o livro "Malleus Maleficarum" sabe que as bruxas de antigamente (assim como as de hoje) se focam em ações como atrair parceiros sexuais, separar casais, fazer com que homens fiquem impotentes. E nada disso funciona sem a permissão de Deus. A tradição diz que esses dois anjos foram seduzidos por uma mulher, por isso, Deus os castigou pendurando-os de cabeça para baixo no inferno. Algumas ilustrações de livros antigos representando Harut e Marut pendurados de cabeça para baixo no inferno:
Mais um desses mistérios do Alcorão é sobre os povos de Ad e Thamud (também chamado de "Samud" em certas traduções). O povo de Ad seria a quarta geração depois de Noé e teriam ocupado a região da Arábia Meridional. Eles eram um povo de grande estatura e realizaram grandes obras de irrigação, porém eram tiranos e arrogantes e oprimiam as pessoas humildes de seu povo. Uma seca de três anos foi enviada por Deus como castigo e finalmente uma tempestade os destruiu. O profeta enviado por Deus para adverti-los naquela época era Hud. Hoje em dia alguns muçulmanos fazem uma peregrinação ao local onde seria o suposto túmulo de Hud e visitam as ruínas do que seriam os canais de irrigação desse povo. Quanto ao povo de Thamud esse povo veio depois do povo de Ad, eles também foram arrogantes e de acordo com o Alcorão construíram suas casas nas rochas e montanhas. O profeta enviado para advertir esse povo é Saleh e de acordo com a tradição o povo exigiu um "milagre" para que ele provasse que era realmente um profeta fazendo surgir um camelo da montanha. Assim, Saleh e alguns oraram pelo sinal e tal milagre se manifestou saindo da rocha uma camela já grávida, porém, o povo continuou perverso e matou a camela e o castigo de Deus se abateu sobre eles. Ilustração representando aquele milagre:
As ruínas do povo de Thamud também costumam serem visitadas pelos muçulmanos, edifícios construídos escavados na rocha e nas montanhas como esse na cidade de Petra:
O capítulo 18 do Alcorão é o mais focado em narrar sobre temas insólitos. É muito relevante explicar o contexto em que esse capítulo foi revelado a Maomé. Naquela época, a tribo de Maomé chamada Koraich ainda estava duvidosa se as revelações de Maomé eram revelações de um profeta de verdade ou invenção da cabeça dele, por isso enviaram emissários aos eruditos rabinos de Medina perguntando sobre como saber se ele era realmente um profeta. Os rabinos sugeriram perguntar a ele sobre três coisas: 1-sobre uns jovens dos tempos antigos e a história maravilhosa deles, 2-sobre um homem que viajou muito e chegou a leste e oeste da terra, 3-sobre o que é a alma. Os emissários voltaram e transmitiram essas questões a Maomé. Ele respondeu: "-Amanhã terei tido a resposta." Porém não acrescentou a expressão "se Deus quiser". Por isso durante quinze dias nenhuma revelação foi feita a ele o que alimentou as dúvidas de seu povo. Após esse tempo a revelação foi feita e constitui esse capítulo 18. Nessa mesma revelação Maomé é repreendido por não ter dito "se Deus quiser" pois foi uma atitude arrogante dele, nada acontece sem a permissão de Deus. Veja os versículos 23 e 24 desse capítulo 18 repreendendo ele:
"E nunca diga de coisa alguma: "Sim, farei isso amanhã", sem acrescentar: "Se Deus permitir". E quando te esqueceres, recorda-te de teu Senhor e dize: "Talvez meu Senhor me encaminhe para a retidão."
Quanto a resposta para a questão 1, trata-se da história de sete jovens conhecida como lenda dos "sete adormecidos". Durante a perseguição aos cristãos do tempo do imperador romano Décio (246 d.C.-251 d.C.) sete jovens nobres de Éfeso fugiram para uma caverna no monte Célio e a caverna foi emparedada pelos perseguidores deles, mas, os jovens não morreram foram induzidos a um estado de sono sobrenatural por Deus e séculos depois no reinado do imperador Teodósio (447 d.C.) as pedras da caverna foram removidas pelos moradores para usarem em construções e os jovens despertaram. Combinaram de um deles ir á cidade com dinheiro para comprar comida, mas, chegando na cidade suas vestes fora de época e o dinheiro antigo chamaram atenção das pessoas que o levou a um juiz para explicar aquilo. O jovem contou a verdade e levou as pessoas á caverna para provar o que dizia. O próprio imperador Teodósio quando ficou sabendo foi até lá mas de acordo com as histórias eles voltaram a dormir ou morreram segundo outras narrativas. Quanto a questão 2, Trata-se de Alexandre, O Grande o homem que viajou muito á leste e oeste da terra. Na tradição muçulmana Alexandre é chamado de Zul Karnain ou Dhul Karnain que significa "de dois chifres". A razão disso é que quando ele foi ao Egito os sacerdotes disseram que ele era filho do deus Amon e ele assumiu esse status divino mandando cunhar moedas de prata com sua imagem usando uma tiara com chifres de carneiro veja;
No meu livro "Análise Sobre Mitos e o Oculto" (link á direita do blog) eu mencionei essas tradições pouco conhecidas aqui no ocidente sobre Alexandre e até fiz um estudo mais profundo sobre isso em meu outro livro que talvez publique futuro. O Alcorão também fala sobre Gog e Magog. A narrativa presente nesse capítulo 18 fala que o povo de uma terra distante reclamou a Alexandre que estavam sendo molestados por "Gog e Magog" e Alexandre mandou construir uma barreira para fechar Gog e Magog. Segundo a tradição, no dia do "juízo final" Gog e Magog romperão a barreira de Alexandre. O que de fato é Gog e Magog continua sendo um enigma até hoje, especula-se que sejam seres espirituais, gigantes, ou alienígenas. Alguns interpretam que se trate da Rússia pois, também na Bíblia no livro de Ezequiel e no do Apocalipse há referências a isso, segundo essa interpretação essa seria a batalha de "Ar megido" com a Rússia e outros países invadindo Israel. Pessoalmente não tenho uma opinião definitiva sobre isso e acho que todas as interpretações estão em aberto ainda. Ilustrações antigas do povo de Gog e Magog na muralha:
Outra narrativa notável desse capítulo 18 do Alcorão é sobre o personagem misterioso El-Khidr "O Longevo", "O Sempre Verde". Mencionei esse personagem em outro post aqui desse mesmo blog intitulado "IMORTAIS". No Alcorão ele surge quando Moisés se dispõe a procurar o local da "fonte da juventude" e Moisés se dispõe a segui-lo. El-Khidr adverte Moisés a não questionar suas ações por mais estranhas que pareçam. Mas Moisés as questiona e El-Khidr explica o significado delas são ações que parecem absurdas mas explicação para elas revela lições que nós costumamos exemplificar no ditado popular "Deus escreve certo por linhas tortas" e depois ele se separa de Moisés. No post mencionado expliquei que existe uma tradição afirmando que esse El-Khidr na verdade existe desde os tempos da antiga Babilônia onde era chamado de Hasisadra. As tradições do sufismo (a vertente mística do islã) costumam contar histórias onde El Khidr aparece para alguns místicos em sonhos ou pessoalmente. Também existem tradições e histórias onde El Khidr aparece para alguns califas antigos, nas "Mil e Uma Noites" tem histórias assim. Ele é apelidado de "o verde" porque está sempre com a mesma aparência e o verde é a cor da vida na tradição muçulmana e certas ilustrações dele o retratam na "fonte da juventude" e com peixes, pois, a história do Alcorão diz que quando o assitente de Moisés foi lavar um peixe seco na água esse voltou a viver assim eles descobriram que aquela eram as águas da fonte da juventude ou estavam perto dela. Ilustrações representando El Khidr:
Para encerrar algumas menções a certos assuntos insólitos presentes no Alcorão mencionarei o personagem Lukman. O capítulo 31 do Alcorão tem o nome dele como título. A maior parte das informações sobre Lukman são apenas especulações, mas algumas informações parecem se converger. Segundo alguns teria sido um escravo negro que viveu no tempo do rei Davi, ou um escravo que viveu no tempo do povo de Ad. Outros dizem que seria um carpinteiro e um poeta e que foi oferecido a ele para reinar ou ser ministro em um reino e ele recusou. Uma história diz que ele perguntou as plantas qual a propriedade delas e elas lhes responderam assim ele escreveu um tratado medicinal. É atribuído a ele certos aforismos cheios de sabedoria e fábulas. O que mais se diz sobre ele é sobre sua longevidade e sabedoria.
Assim encerro algumas menções a passagens insólitas do Alcorão, ainda existem muitos outros mistérios intrigantes no Alcorão, me deparei com eles durante minha pesquisa e assim continuo escrevendo e pesquisando sobre, talvez eu publique sobre isso no futuro tem sido um trabalho e tanto.
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